Investigação aponta que Collor recebeu dossiê Cayman

Da Folha de S. Paulo

Collor recebeu dossiê Cayman, afirma PF

Inquérito diz que papéis forjados em 1998 contra tucanos foram entregues nas mãos do ex-presidente em Maceió

Investigação sustenta que família do senador pagou US$ 2 mi pelos falsos documentos; 


ele não foi indiciado

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE BRASÍLIA

Investigação da Polícia Federal afirma que a família do senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) pagou em 1998 pelo dossiê Cayman, conjunto de papéis forjados para implicar tucanos com supostas movimentações financeiras no exterior.

Segundo o inquérito, o senador teria recebido pessoalmente a papelada das mãos de um envolvido, em Maceió.

As conclusões são baseadas em investigações da Polícia Federal, do FBI (nos Estados Unidos) e da Interpol.

Collor não foi indiciado por não ter participação direta no pagamento nem na elaboração dos papéis, mas é citado como beneficiário do caso.

De acordo com a investigação, o dossiê custou US$ 2,2 milhões em valores da época, pagos a partir de uma conta controlada por Leopoldo Collor, irmão do senador, no paraíso fiscal das Bahamas.

Os irmãos Collor caíram em um engodo, diz o inquérito, já que na prática pagaram uma fortuna por papéis grosseiramente falsificados.

A investigação rastreou as viagens feitas pelos envolvidos na produção e na difusão do dossiê. Eles transitam por EUA, França e Salvador, onde houve escala do avião. Por fim, chegam a Maceió.

Os documentos mostram como uma “offshore” no Uruguai, em nome de um laranja de Leopoldo Collor, controlava uma conta nas Bahamas.

E como foi a negociação para que o dinheiro fosse depositado em um banco em Coral Gables, uma cidade na Flórida (EUA), sem deixar rastros. Mas o FBI entrou no caso e conseguiu, ao lado da Interpol, apurar as conexões.

O valor da venda apareceu em uma agência do Eurobank na cidade norte-americana, conforme autorização de transferência bancária de 31 de agosto de 1998.

Parte da trama foi relatada à investigação por Raymundo Nonato Lopes Pinheiro, então diretor internacional de comercialização da Rede Globo e réu no processo.

“Laranja” de Leopoldo, ele confirma que é autor do documento que permitiu a transferência bancária, por meio de procuração.

Nonato disse à PF que conhecia Leopoldo desde os 17 anos. A existência da empresa “offshore” foi confirmada pelo irmão de Collor.

A conta em Coral Gables era, no papel, de Martha Volpato, indicada para receber o pagamento pelo dossiê e, assim, evitar que o negociador surgisse na transação.

O principal negociador é Luiz Claudio Ferraz da Silva, amigo de Leopoldo. Ele teria entregue os papéis a Fernando Collor em 5 de setembro de 1998, em Maceió.

Martha, que recebeu US$ 20 mil, chegou a ser presa em outra operação da PF.

As investigações estão em processo na 10ª Vara de Justiça Federal de Brasília, quase pronto para julgamento.

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