Jornais quiseram minar chances de Lula: liderança em pesquisas é inquestionável

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Ricardo Stuckert
 
Jornal GGN – Buscando eliminar Lula da disputa eleitoral e tentando legitimar as ações da Lava Jato contra o ex-presidente, duas pesquisas foram divulgadas neste final de semana: Ipsos e Datafolha.
 
A primeira foi lançada pelo Estadão neste sábado (14), estampando a manchete “Maioria vê culpa de Lula; 95% quer que Lava Jato continue”. Entretanto, ao verificar a pesquisa, a conexão feita no título não existe nos resultados.
 
Da mesma forma que 57% dos consultados acreditam que Lula cometeu os crimes atribuídos a ele, um pouco menos, 50%, é efetivamente favorável à prisão, enquanto um quase equilíbrio de 46% dos entrevistas são contra. E, ainda: se 95% da população defendem que a Lava Jato continuem após a prisão de Lula, a maioria também aponta que a Operação não está investigando “todos os políticos”. 
 
A análise por completo da pesquisa leva, assim, a outra conclusão, diferente das anunciadas pelo noticiário deste sábado: uma pequena maioria acredita que Lula cometeu crimes, um empate ocorre entre os que defendem a prisão e os que são contra, e a grande massiva maioria defende a continuidade das apurações – boa parte porque ainda não atingiu todo o espectro político.
 
“Os resultados mostram que a Lava Jato continua com alto suporte da população e que a prisão de Lula não encerra esse anseio”, admitiu o próprio diretor do Instituto, Danilo Cersosimo ao jornal. O resultado pode ser observado, contraditoriamente, no infográfico feito pelo Estadão com base na pesquisa IPSOS:
 
 
Já o Datafolha fez com que a Folha de S.Paulo amanhecesse com o título “Prisão enfraquece Lula e põe Marina perto de Bolsonaro“, seguido da linha-fina “Apoio a petista diminuiu e desconfiança sobre candidatura aumentou”.
 
Na prática, ao visualizar os números, a interpretação do jornal está claramente enviesada: ao contrário do diz o lead da matéria, que a diminuição do apoio do eleitorado mantem “indefinida a disputa pelo seu espólio eleitoral”, Lula segue, mesmo preso, na liderança dos resultados da pesquisa.
 
As perguntas foram feitas entre esta quarta e sexta-feira (11-13). São 31% dos brasileiros que votariam em Lula para presidir o país, ainda que hoje ele esteja preso por determinação de Sérgio Moro. O segundo colocado é Jair Bolsonaro (PSL), com 15% das intenções de voto e Marina Silva (Rede), com 10% das intenções.
 
Se fossem feitas as comparações diretas desta pesquisa com a anterior, quando o ex-presidente tinha 34% dos votos, é verificada uma baixa nas intenções. Mas de apenas 3 pontos percentuais, ou 1 se considerar que a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Assim, pouca mudança.
 
Mas, ainda, a própria reportagem da Folha deste domingo assume: “Como os cenários pesquisados são diferentes dos analisados em janeiro, a comparação direta entre os dois levantamentos não é possível”, o que contradiz o próprio títula da matéria:
 
 
Os números estão bem longe de tornar a mirada da Folha real, que conduz à percepção de uma disputa talvez acirrada para o ex-presidente. Bolsonaro, estando em segundo, não arrecadaria o suficiente de votos para ser eleito tampouco, porque nos cenários em que se retira a opção Lula da disputa, Bolsonaro e Marina empatam, ainda com poucas porcentagens: ele com 17% e ela com 15%.
 
O Instituto Datafolha também usou poucas opções dos pretendentes ao pleito presidencial: depois de Marina, aparecem Joaquim Barbosa com 8%, Geraldo Alckmin com 6%, Ciro Gomes com 5%, Alvaro Dias com 3%, Manuela D’Ávila com 2%, Fernando Collor com 1%, Henrique Meirelles com 1%, Rodrigo Maia,com 1%, e Flávio Rocha com 1%.
 
Mas diante das pesquisas tradicionais que alimentaram a análise da grande imprensa neste final de semana, outro instituto divulgou o resultado de levantamento: para os entrevistados da pesquisa Vox Populi, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e encomendada pelo PT, a prisão de Moro surtiu efeito contrário à eliminação de Lula da disputa presidencial.
 
Os números mostram que aumentou de 40% para 43% as intenções de eleger Lula presidente em pergunta espontânea, e de 45% para 51% nas perguntas estimuladas, colocando-o como vitorioso em primeiro turno. Também, aumentou de 16% para 19% a identificação dos entrevistas com o PT, mostrando diferença grande com as demais siglas tradicionais, como o MDB e o PSDB.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. É sempre assim. Lê-se apenas

    É sempre assim. Lê-se apenas a manchete. Lê-se apenas o lead. Quase nunca a notícia toda. Mas mesmo assim não conseguem derrubar o homi.

  2. Se os beneficiários do bolsa

    Se os beneficiários do bolsa família soubessem que pra cada centavo que receberam.O PT e essemelhados roubaram milhões , quantos votos Lula teria ? O mesmo.

    Mas se não pudessem votar porque  foram beneficiados como tipo cala boca, desconfio que Lula teria ZERO PORCENTO.

                A propósito :

            Lula tem todo o direito de dizer que não é mais um ser humano, pois se transformou numa ideia, mas foi Temer quem zerou a fila do Bolsa Família, que chegou a ter 6 milhões de pessoas na espera, e 

    reajustou o benefício acima da inflação.

    Hoje o programa atende 14,3 milhões famílias, 160 mil acima do recorde de 2014.

     Elio Gaspari

     

  3. “Quiseram”, não caro Nassif,

    “Quiseram”, não caro Nassif, querem. E continuarão querendo e conseguindo. Só não conseguirão quando o estado forçar a democratização dos meios de comunicação. Mas vamos lá…

     

    Se o STF fosse mesmo respeitar a voz das ruas, deveria conceder ao ex-presidente o Habeas Corpus. Se não vejamos:

    “A Lava Jato faz perseguição política contra Lula?”
    57% diz que sim.

    “A Lava Jato até agora nada provou contra Lula”
    47% concorda e 47% discorda. No empate, aplique-se a letra da lei, em vez da voz do povo.

    Mas que delírio, rs…

    A turma da PGR e dos juízes, junto com firmas como a “Globo”, eleitos como Aécio, Alckmin e Aloysio e não-eleitos como Temer deram um golpe de estado, “com o Supremo, com tudo”, para agora ouvir a voz do povo ou respeitar a lei? O golpe é para forçar nosso país a votar à posição de dependência ao dólar. Não adianta argumentar com o lobo que bebe água da parte superior do rio, o negócio é dar-lhe uma paulada na cabeça e pronto.
     

  4. Imbatível

    Mesmo preso Lula lidera as kntenções de voto. É o maior atestado de pobreza para a direita, que é incapaz de produzir uma liderança competitiva. Sem lideranças e usando de todos os artifícios ilegais e arbitrários não conseguem frear Lula. Depois de tanto sofrimento, pelo menos essa Schadenfreude ele tem.

  5. Pesquisa mostra que Ciro não atrai eleitor de Lula

    É nisso que dá cair na besteira trair o lulismo e virar udenista lavajateiro. Perde terreno para Marina Silva e Joaquim Barbosa, além do próprio Bolsonaro.

    E mesmo sem Lula não vai para o segundo turno em nenhum cenário (sobe só 4%, quando Marina, que já tinha o dobro de Ciro sobe 6%). E Ciro não consegue nem desempatar com Alckmin na margem de erro.

    Sem Lula, nem o Nordeste vota em Ciro, vota nulo.

    Agora o PT tem que lançar a candidatura Lula com Haddad de vice, para Haddad falar por Lula enquanto ele estiver preso, carregar a bandeira do lulismo e do Lula livre, e ficar conhecido nacionalmente.

    Se o TSE impugnar a candidatura de Lula, Haddad assume a cabeça de chapa e escolhe outro vice.

    1. Concordo

      Agregaria já ao Jacques Wagner nas caravanas e, ainda, focaria estas caravanas no legislativo, com Lula apoiando senadores e deputados progressistas do PT e aliados

  6. É possível fazer a canoa virar

    (1) a pesquisa mostra que a extrema-direita e seus admiradores não passam de 15%.

    (2) com ou sem Lula, os democratas (liberais e socialistas) precisam se unir para levar no primeiro turno e ter força política para expurgar os fascistas e derrotar a Globo..

    (3) se Lula não puder ser candidato, penso que o PT deveria indicar o vice da aliança democrática. Infelizmente o Haddad não tem força eleitoral, apesar de ser um político admirável.

    (4) é um erro apostar tudo na eleição. A solução é mobilizar, educar e organizar o povo politicamente. E isto levará anos de intenso trabalho político.

  7. “Gas station”

    Todo mundo sabe que o motor deste golpe são os EUA (como foi na quartelada de 64). 

    Nosso maior líder popular está preso, porque os EUA exigiram. 

    O que faz os EUA pensarem que podem tratar um país de 200 milhões de habitantes com tal desrespeito?

    Simples: a mesma arrogância e obtusidade míope com que John McCain referiu-se à Rússia como uma 

    ‘gas station masquerading as a country’

    Aparentemente os EUA vêem (e tratam) o Brasil como uma ilhota do Caribe análoga à do filme Queimada e pensam que Lula é o José Dolores

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Queimada!

     

  8. Marioria vê culpa de Lula, porém…

    Há algo de podre no resultado da pesquisa apresentada:

    Se a maioria vê culpa de Lula, como pode 47% achar que até agora a lavajato nada provou contra o Lula, contra 47% que acha que a lavajato provou algo contra o Lula?

    Se a maioria visse a culpa do Lula, essa mesma maioria teria, necessariamente, que achar que a Lavajato provou os crimes atribuídos ao Lula.

    1. Não necessariamente…

      Eu por exemplo acho que as milícias assassinaram a Marielle Franco, mas não que alguém tenha provado que isso é verdade.

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