Atualizado às 15h40
Por Guilherme Carvalho
Comentário do post “Brasilianas.org sobre a Usina de Belo Monte“
Nassif,
Tenho maior respeito e admiração por você, mas seu comentário também se baseia em desinformação para fundamentar determinado ponto de vista. Há muitas questões em jogo. Vamos a algumas delas:
1) O governo pretende construir dezenas de hidrelétricas na Amazônia nos próximos anos. Para isso a legislação ambiental vem sendo sistematicamente desconstruída. A questão é que ninguém – realmente ninguém – sabe ao certo quais serão os impactos cumulativos dessa quantidade enorme de barragens nos ecossistemas da região, bem como de seus impactos dentro e fora do país. Além disso, há estudos sérios demonstrando que as usinas produzem grande quantidade de gás metano, cujos impactos são ainda mais nefastos do que o gás carbônico na atmosfera. Portanto, o debate não pode se restringir ao caráter técnico se é as turbinas gerarão energia a partir da formação de grandes lagos ou por lâmina d’água;
2) O debate sobre a construção de Belo Monte e de outras usinas deve estar incorporada à reflexão sobre o nosso modelo energético. É possível o mesmo ser considerado sustentável quando o que o orienta é a perspectiva “ofertista” de mais e mais energia, sem qualquer preocupação com a eficiência energética, por exemplo? Como podemos estar satisfeitos com um sistema que perde cerca de 15% da energia produzida somente na sua distribuição? Isso é um verdadeiro absurdo! Como poucos estão interessados em debater essas questões fica mais fácil defender a proliferação de usinas na Amazônia;
3) Toda essa energia produzida é para abastecer os grandes centros econômicos do país. Aqui ficarão os impactos socioambientais negativos enquanto que a geração de riquezas se dará em outros cantos do Brasil e do planeta. Aliás, essa tem sido a história da Amazônia: uma eterna periferia. Ou como certa vez disse o grande Raul Seixas, o “jardim do quintal”. Nem o ICMS cobrado fica na nossa região. A energia produzida também servirá para abastecer as atividades produtivas intensivas no consumo de energia que nem Europa, Estados unidos e Japão querem nos seus territórios. Atividades estas que geram poucos empregos e receitas para o país, que provocam enormes danos ambientais, não promovem distribuição de renda, mas que possuem forte vinculação com o mercado internacional.
4) Aqui mesmo no blog há uma matéria postada cujo título é O capitalismo como religião. Nela há uma passagem muito interessante: “Na ordem imposta pelos monges e clérigos do mercado, não há lugar para a democracia”. Nem passa pela minha cabeça realizar qualquer vinculação entre o seu ponto de vista com tal afirmação. Resgatei a mesma para embasar uma reflexão que acho necessária: o atual modelo de desenvolvimento, fundado na exploração intensiva de recursos naturais, depende da fragilização da democracia e de suas instituições.
Nassif, talvez você não saiba mas aqui no Pará o clima de terror se instalou com toda a força:
– Os assassinatos seletivos de lideranças que se opõem aos grandes projetos e a todos os seus impactos negativos foram retomados com toda força;
– A grande mídia tem promovido campanhas difamatórias contra os movimentos sociais e seus integrantes (pergunte aos movimentos de mulheres de Altamira como elas são chamadas pelas rádios locais);
– As forças de repressão, como a Guarda Nacional, têm sido usadas para intimidar as organizações da sociedade civil;
– A criminalização dos movimentos sociais tem sido uma das armas da intimidação oficial;
– O Consórcio vencedor de Belo Monte tem usado recursos financeiros para dividir as comunidades indígenas;
– A FUNAI tem servido como ponta de lança na intimidação de comunidades indígenas (veja o que aconteceu recentemente com Megaron).
Bem, vou ficar por aqui. Infelizmente o Brasil não sabe o que realmente acontece por aqui. As vezes acho que nem se interessa…
Por zuleica jorgensen
Confesso que ainda não tenho opinião formada sobre o assunto, mas algumas afirmações do articulista me parecem bastante primárias e pouco convincentes.
Primeiro, o aspecto da poluição. A energia hidrelétrica é considerada, de forma quase unânime, como uma das mais limpas, até porque, creio, jamais haverá forma totalmente isenta de algum impacto ambiental. Gostaria até que o autor indicasse os trabalhos que apontam para a produção de gas metano pelas hidrelétricas, porque seria um valioso subsídio para análise.
Quando o autor fala que Belo Monte se destina a abastecer grandes centros econômicos, sinto um inescondível ranço ideológico do que um fato real. A mim parece óbvio que a energia produzida, ao lado de abastecer grandes centros econômicos, certamente beneficiará o crescimento das regiões norte e nordeste, que hoje ostentam PIBs sensivelmente melhorados, consolidando esse crescimento como processo durável e, portanto, sustentável. Belo Monte tem que ser avaliada considerando-se que ainda somos um país capitalista, que precisa superar suas imensas desigualdades, retirando da miséria absoluta milhões de cidadãos. A usina não pode ser tratada com uma visão revolucionária, de por fim ao capitalismo, ou de retorno à vida campestre tal como sonham grande parte dos ecoverdes que vemos por aí.
Nos textos que li a respeito, faz-se sempre referência a projetos de redução dos impactos ambientais para as populações atingidas, com melhoria de condições de saúde e moradia para esses brasileiros. Neste ponto, a tarefa a meu ver, é exigir do governo e dos que constroem a usina o cumprimento rigoroso de todas essas metas. A propósito, vi fotos de povoados ribeirinhos que supostamente seriam atingidos e fiquei horrorizada com as condições em que vivem. Se é aquilo que buscam preservar, não vejo muito sentido.
Agora, existe de fato a preocupação constante com a preservação da floresta e de sua biodiversidade. Um projeto dessa envergadura poderia, a meu ver, ocasionar um boom de crescimento nas regiões do entorno, o que certamente não seria positivo em se tratando da região que é. E mais, se for verdade o que diz o aerticulista que há projetos de construção de dezenas de hidrelétricas na amazônia, a preocupação aumenta sensivelmente.
Todos nós sabemos das ambições de várias países estrangeiros em relação à região. Um projeto desse porte poderia abrir as portas para uma entrada indesejável de estrangeiros, colocando em risco nossa autonomia sobre a região.
A repressão aos movimentos contrários, por seu turno, tem que cessar imediatamente. A democracia tem que ser respeitada e todos devem poder livremente manifestar sua opinião e lutar legitimamente por suas idéias. O Brasil precisa saber do que está ocorrendo em Altamira e em todas as regiões afetadas por Belo Monte.
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