Maioria não percebe que vê conteúdo direcionado, diz autor de livro sobre as redes sociais como arma

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – P. W. Singer, autor do livro “Likewar: the Weaponization of Social Media” (Likewar: a ‘Armamentização’ das Mídias Sociais, em tradução livre; sem edição no Brasil), disse à Folha de S. Paulo que a maioria da população com acesso à internet não percebeu que vê conteúdo direcionado nas redes sociais e também afirmou que governos populistas autoritários souberam como utilizar esses recursos para alavancar pautas de seu interesse em vários países do mundo, com mais eficiência. O Brasil é um deles.
 
Singer disse que a eleição brasileira, assim como ocorreu nos Estados Unidos e México, mostrou que as “vozes artificiais [nas redes sociais]são determinantes para que campanhas ou ideias ganhem atenção online e se transformem em poder na vida real.”
 
“Hoje em dia, pouco do que acontece na internet é natural. (…) A maioria não tem consciência de que está sendo direcionada, segmentada, e de que é um alvo.”
 
A internet prevê uma série de recursos que permite a empresas ou a pessoas físicas o direcionamento eficaz de conteúdo para um determinado nicho, mercado ou cluster (grupo de pessoas com as mesmas características, segmentado por categorias). Na eleição dos Estados Unidos, o serviço da empresa Cambridge Analytica em favor de Donald Trump fez a diferença em vários estados. Populações locais foram divididas em blocos e bombardeados com assuntos que chamavam sua atenção. As fake news ganharam terreno.
 
Bots, que são máquinas utilizadas para disparar mensagens nas redes sociais, e os “sockpuppets”, que têm humanos por trás, são alguns dos recursos que formam as “vozes artificiais”. “A combinação dos dois é o que os torna mais poderosos, eles amplificam vozes, teorias da conspiração e notícias falsas. A combinação entre humanos, muitas vezes contratados, e bots é muito eficiente.”
 
“Cerca de um terço das vozes online falando sobre o “brexit” eram bots. Essa foi quase a mesma porcentagem de bots na eleição do México, neste ano. Não tenho números para o Brasil”, afirmou Singer.
 
A DIREITA NA POLÍTICA
 
Para o autor, não é “exatamente a direita tradicional que vem fazendo isso, são governos populistas de direita com tendências autoritárias. Eles têm conseguido mobilizar seus eleitores por meio das redes sociais de maneira muito mais eficaz, porque isso envolve ao mesmo tempo se beneficiar da liberdade de expressão e também manipular as informações, e governos autoritários conseguem fazer isso melhor.”
 
O caminho comum é “obter imensos bancos de dados, usá-los para fazer ‘microtargeting’ de mensagens, manipular o fluxo de informações que chega aos eleitores, enviar notícias falsas que potencializam os medos desses eleitores.”
 
Leia a entrevista aqui.
 

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Cosmética que você não vê

    “Para o autor, não é ‘exatamente a direita tradicional que vem fazendo isso, são governos populistas de direita com tendências autoritárias.'”

    “Governos populistas de direita com tendências autoritárias” são exatamente a “direita tradicional” só que sem disfarces, sem verniz, sem a preocupação com embalagem e aparência.

    Mas não consta que ser esmagado por botas mais bem polidas doa menos do que por botas menos bem cuidadas.

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