Migalhas: “Palocci criou um mundo fictício. Sua delação é peça de ficção”

O “ouvi dizer” é das coisas mais condenáveis no conjunto probatório de qualquer processo. E é só disso que a delação de Palocci é feita

Do Migalhas

As viagens de Antonio Palocci – E01 – T01

A escola literária do realismo mágico, que tem na figura de Gabriel Garcia Márquez o grande expoente, ganha agora um concorrente. Não à altura, diga-se.

De fato, longe de ter a capacidade do escritor colombiano, Antonio Palocci criou um mundo fictício. Sua delação premiada é uma peça de ficção digna de concorrer ao prêmio de pior trabalho do mundo.

Antes de entrar no assunto, que vai render vários episódios da série “As viagens de Antonio Palocci”, é bom fazer um “previously” e lembrar que o informativo Migalhas já alertava a seu seleto público que estávamos diante de cidadão problemático.

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Vejamos, por exemplo, o comentário que fizemos na migalha do informativo 1.190, no distante 17 de junho de 2005, que noticiava a ida de Palocci para a Casa Civil: “os corretores ribeirão-pretanos vão ficar ainda mais ouriçados”. Para bom entendedor, isso resumia bem quem era o personagem.

Naquele mesmo 2005, no dia 19 de agosto, fomos bem mais explícitos: “A máscara de impoluto do ministro vai aos poucos ganhando suas maculosas cores reais.” (Migalhas 1.235)

Ou seja, há 14 anos já alertávamos os leitores que o sr. Antonio Palocci não era flor que se cheirasse.

O jornalista Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo, também já há mais de uma década contou as peripécias do então prefeito de Ribeirão Preto, quando promoveu uma licitação para comprar molho de tomate com ervilhas, que curiosamente só uma empresa vendia.

Dito isso, voltemos à peça de ficção que se tornou a delação do ex-alcaide da Califórnia Brasileira.

Com argumentos do tipo “ouvi dizer”, Palocci quis engambelar o MPF com uma delação cujo prêmio não eram benefícios judiciais, e sim a possibilidade de abocanhar os milhões que sua empresa de consultoria faturou. A propósito, a despeito do modo como ganhou dinheiro, Palocci é médico.

Leia também: A incrível delação de Palocci em que o governo Dilma foi capaz de anular a Castelo de Areia

Com informações vagas e imprestáveis, o MPF deu de ombros para o que Palocci tinha a dizer.

Mudando de balcão, Palocci foi para a PF. Esta, por seu turno, inexplicavelmente aceitou o acordo. Os motivos dessa aceitação ainda estão esconsos.

Fato é que o TRF da 4ª região, que deveria ter sido judicioso ao homologar o acordo, carimbou o que viu. Assim também o fez o ministro Fachin. Diz-se “judicioso” porque não se pode simplesmente endossar um acordo que não preenche o mínimo de razoabilidade na apresentação de provas. O “ouvi dizer” é das coisas mais condenáveis no conjunto probatório de qualquer processo.

Enfim, mesmo com tais elementos, deu-se como válido o acordo firmado com a PF.

Daí, surgem várias questões intrigantes:

– O delegado que firmou o acordo é o mesmo que investiga?

– Não estará ele com ânimo inapropriado de querer provar que estava certo, maculando a isenção que deve ter uma investigação?

– O MPF, que tinha se negado a receber a delação, concorda com diligências apenas com base na delação que ele rechaçou?

Aliás, em resposta a esta última pergunta, foi o que fez o MPF na operação da última sexta-feira, na 64º fase da Lava Jato, incoerentemente concordando com diligência que tinha como base a delação a qual ele não deu a mínima credibilidade. Ai, ai, ai….

Hoje, no jornal Valor Econômico, outro capítulo da fantasia palocciana. Ele diz que houve propina no STJ para anular as provas da operação Castelo de Areia. Palocci conta que a empreiteira Camargo Correa pagou para obter a decisão. Mas vejamos o que foi homologado: “Antonio Palocci foi informado de que em troca da liminar concedida no Habeas Corpus, referido ministro recebeu a quantia de R$ 5 milhões em uma conta no exterior, na Suíça.”

“Foi informado”? Informado por quem, cara pálida? Possivelmente o delator vai colocar a informação na boca do falecido ministro Marcio Thomaz Bastos, que não está entre nós para desmentir o Pinóquio tupiniquim.

E o enredo de Palocci é tão sem caráter, que ele diz que foi pessoalmente falar com um ministro, o então desembargador convocado Celso Limongi, e que este teria concordado em enterrar a operação Castelo de Areia.

Mas a memória do saudoso desembargador, falecido há um ano, não merece ser conspurcada por esse cidadão. Celso Limongi, ex-presidente do TJ/SP, é daqueles exemplos a serem a seguidos. Pudera fôssemos todos Celso Limongi na vida.

Enfim, só estes motivos já seriam suficientes para se duvidar da fajuta delação, o que torna inexplicável que se tenha homologado tamanho instrumento de infâmia.

E não é só isso. Há muita ignomínia ainda a ser perpetrada (p.ex. contra todas as grandes instituições financeiras do país) e que serão devidamente corrigidas nos próximos episódios dessa série, pois são 87 páginas de aleivosias.

Por fim, deve-se trazer ainda um último ponto. A delação está sob sigilo, pelo menos até onde se sabe. Como, então, o Valor Econômico teve acesso à íntegra? E como a Folha de S.Paulo, há dois anos, sabia também desse assunto?

Ou se escancara imediatamente seu inteiro teor, ou há cumplicidade com vazamentos que só prejudicam a própria Justiça.

Vindo à luz do sol, ver-se-á que o liliputiano delator não merece agora, como já não mereceu antes, atenção alguma.

 

Redação

6 Comentários

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  1. Caramba!

    Os lavajateiros têm uma “tioria” politica no bestunto, aquela, sim, aquela que eles enguliram da mídia, e que está lá no powerpoint: o presidencialismo de coalizão vinha muito bem, obrigado, até que grassou sobre ele o “sinistro projeto de poder petralha”…

    O que eles estão falando com o Palhocci dentro da cadeia e com os “adevogados” dele é “tioria” política, não tem nada a ver com Direito, santo deuxxx!

  2. A autocrítica é necessária, caro Nassif. Urgente.

    OS PALACETES DO GOLPE

    “‘O ‘ouvi dizer’ é das coisas mais condenáveis no conjunto probatório de qualquer processo. E é só disso que a delação de Palocci é feita.” Isso é óbvio, ora, como era óbvio que o Palocci sempre foi um canalha, cansei de dizer aos vaidosos, moleques sem mundo, da Execa do PT de Sampa, os sabidos sem vergonhas não me ouviram apesar do horror que veio depois, a partir do sincero Francenildo. Pagam o preço da sua leviandade, da sua – repito – falta de mundo.

    O problema nunca foi o Palocci. É um mero peão covarde que colocaram como bispo no tabuleiro do xadrez nacional, os petistas colocaram. O autor da maldita Carta de Recife junto com Delfim. Não, não é ele o problema. O problema é outro: muito pior. Tem os sabidos sem mundo, mas bem intencionados, foram um problema, mas é mais.

    O problema é a quadrilha de juizes e procuradores, passando pelo TRF4 e ao fim chegando no Supremo Trivenal Federal, na gaveta em crime continuado. O problema é a JUSTIÇA cúmplice de bandidos. O problema é um canalha que condenou Lula sem provas virar ministro de um animal psicopata, um escárnio na cara das pessoas com razoável instrução.

    O problema é o Aécio e outros dos maiores ladrões do Brasil estarem soltinhos da silva, nem denúncia essa Justiça de palacetes – pelos atores e pelos que se calam – aceita.

  3. O titulo de maior gaiato do brasil pertencia ao falecido Paulo Henrique amoral,mas agora passa a ser desse Nassif.Esse comentário Palocci ,beira a escrotice absoluta.Vcs petistas são muito cínicos,q cambada de FDP.Claro q o Palocci diz é verdade.Nao adianta ,o luladrao ,a dilmanta é todos os outros vão apodrecer na prisão.

    1. Com um comentário desses, sem nenhuma análise e nenhum argumento, mas cheio de xingamentos e erros de português, nem precisa de esforço.. É mais um bolsominion com dificuldades cognitivas.

    2. Ô cafajeste, você se deu ao mínimo trabalho de ver que o artigo NÃO é do Nassif?

      O que não adianta é você embrulhar sua cafajestagem em indignação. Cafajeste não se indigna, apenas simula.

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