“Não cairemos na armadilha da unidade contra o inimigo comum”, dizem anarquistas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Enviado por Alex Sotto

Comunicados da Federação Anarquista sobre o atentado contra a redacção do Charlie Hebdo

Não uivaremos com os lobos!

O atentado cometido esta quarta-feira 7 de Janeiro pela manhã contra o Charlie Hebdo por alguns indivíduos, reclamando-se do Islão, não nos deve fazer perder a capacidade de raciocínio, apesar da emoção, bem compreensível, que nós partilhamos, de muitos camaradas nossos. Se num determinado período o meio libertário, muito em particular a nossa organização, esteve próximo destes herdeiros do Hara Kiri, a sua emanação contemporânea já nos deixou de fazer rir há muito tempo.

Não escolhemos nem vamos escolher entre integristas e desinibidores dum racismo “de esquerda”. Nós não escolheremos entre reaccionários religiosos de que conhecemos bem as práticas qualquer que seja a sua seita e um jornal veiculando a islamofobia debaixo da cobertura da laicidade e da liberdade de expressão. Desde a sua origem a nossa organização combate todas as religiões e as suas emanações integristas venham de onde vierem. Não cairemos na armadilha grosseira da unidade nacional contra “o inimigo comum”.

A nossa solidariedade vai para aqueles que vão sentir o ricochete deste assassinato imbecil e criminoso a mais do que um título. Já se ouviu o tiro de partida para a caçada e o que retém o poder “socialista” de se lhe entregar totalmente é o medo de não serem eles a recolherem os frutos nas próximas eleições. Vemos já florirem os discursos sobre a guerra civil, apenas algumas horas depois deste atentado.

Nós não escolheremos também o terreno duma extrema-esquerda que confunde, na sua estupidez essencialista e politiqueira, realidades tão diversas como o proletariado, o Islão, o racismo, os sem-papéis ou os “jovens da periferia”, fantasiando sobre um alegado potencial revolucionário dos muçulmanos.

Este atentado dá-se num período de estigmatização dos muçulmanos ou assimilados enquanto tal. É preciso relembrar que a islamofobia é um instrumento do poder visando dividir a nossa classe e as suas lutas. Ela não se desenvolve como reacção a um alegado “problema muçulmano”. O movimento anti-Islão alemão “Pegida”, que ganha dimensão, é caracterizado por esta psicose, mas a população “muçulmana” deste país representa menos de cinco por cento da população.

No entanto, é principalmente sobre este sentimento de invasão, “de islamização”, que a extrema direita se estrutura nestes últimos anos. Não temos nenhuma dúvida de que o massacre reaccionário de Charlie Hebdo vai reforçar este fenómeno e dará à FN (Frente Nacional, fascista) e aos seus satélites uma maior legitimidade para defenderem a existência de um conflito étnico como problema de fundo e a escolha nacional como solução.

Neste período conturbado, os anarquistas devemos guardar a cabeça fria e manter uma linha de demarcação clara entre nós e os nossos inimigos: integristas de todas as capelas, xenófobos de esquerda como de direita, sexistas de todos os horizontes e pretensos comunistas virados para a reconciliação nacional e para o inter-classismo.

Grupo Regard noir – Federação Anarquista
 

8 Comentários

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    1. a letra

      Anarquia Oi!

      Garotos Podres

      Um dia você vai descobrir 
      que todos te odeiam
      e te querem morto,
      pois você
      representa perigo
      ao poder!!!
      Anarquia oi, oi! 4x
      Eles não querem 
      que você viva
      destrua o sistema
      antes que ele o destrua
      Não acredite,
      em falsos lideres
      pois todos eles
      vão te trair
      Anarquia oi, oi! 8x 
      A-nar-qui-a
      A-nar-qui-a
      Anarquia oi, oi! 4x

       

  1. Liberdade de expressão desde

    Liberdade de expressão desde que seja com sabedoria e razoabilidade, enfim, com bom senso, elemento central da conduta ética.

    1. Bom senso. Sei. Mais uma a favor da criminalizaçao da blasfêmia?

      Voltamos à Idade Média. Críticas só com “bom gosto” e “bom senso”. Razoabilidade, sabedoria, etc. Que sempre estao no meio, nao é? Nada de extremismos. Ai que discurso HORROROSO. 

  2. A coisa realmente tá preta.

    Quem olha para o escuro, não pode enxergar muito mesmo e só consegue apontar pra nada, que é a essência que sai desse artigo.

  3. O jovem Daniel Wickham, do

    O jovem Daniel Wickham, do Reino Unido, twittou uma impressionante lista da hipocrisia, nomeando os transgressores da liberdade de expressão que compareceram à Marcha Republicana, em Paris, para defender a “liberdade de expressão”.

    1- O rei Abdullah da Jordânia, que no ano passado condenou um jornalista palestino a 15 anos de prisão.
    2 – O primeiro-ministro de Davutoglu da Turquia, que aprisiona mais jornalistas do que qualquer outro país do mundo
    3 – O primeiro-ministro Netanyahu de Israel, cujas forças mataram sete jornalistas em Gaza último ano.
    4- O primeiro-ministro da Tunísia Jomaa, que recentemente prendeu blogger Yassine Ayan por 3 anos por “difamar o exército”.
    5- O Procurador-Geral de os EUA, onde a polícia em Ferguson recentemente agrediu e prendeu repórteres do WashPost .
    6- Presidente Keita do Mali, onde os jornalistas são expulsos para cobrir violações dos direitos humanos.
    7- O ministro das Relações Exteriores do Bahrein, segunda maior prisão de jornalista do mundo per capita (eles também os torturam).
    8 – O Sheikh Mohamed Ben Hamad Ben Khalifa Al Thani do Qatar, que condenou um homem a 15 anos de prisão por escrever um poema que não o agradou.
    9 – embaixador saudita para a França. Os sauditas açoitaram publicamente o blogueiro Rraif Badawi por “insultar o Islã”.
    10 – o chanceler Lavrov da Rússia, onde um jornalista foi preso por “insultar um funcionário do governo”.

    Faltou este:
    11 – Embaixador brasileiro para a França, José Maurício Bustani,representando um país onde vários jovens estão presos por participarem de manifestações e protestos populares em defesa de direitos.
    https://revolution-news.com/france-world-leaders-who-suppr…/

    Via Antonio Celso Ferreira

    Continua….
    https://revolution-news.com/france-world-leaders-who-suppress-freedom-of-speech-rally-for-freedom-of-speech/

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