No Brasil, 1 a cada 3 acredita que golpe militar se justifica em casos de muita corrupção

Barômetro das Américas aponta ainda que 38% acreditam que o presidente da República pode dissolver o Supremo caso o país enfrente dificuldades

Jornal GGN – Para 35% dos brasileiros, um golpe militar se justifica em um cenário de muita corrupção. Essa é uma das conclusões do Barômetro das Américas (Lapop), pesquisa de opinião coordenada pela Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, que avalia a percepção sobre o sistema democrático e as instituições políticas na região.

O levantamento é realizado a cada dois anos, desde 2006 e, aqui no Brasil, conta com a parceria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Ibope. Para consolidar os resultados publicados no trabalho mais recente, foram entrevistados 1.498 brasileiros, entre janeiro e março, em cidades de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.

Além de mostrar que 1 a cada 3 pessoas no Brasil acham que um golpe militar se justifica em casos de muita corrupção, o levantamento mostra que a aceitação de medidas autoritárias cresce para 43% no grupo daqueles que se consideram de direita e para 47% entre evangélicos.

A maioria dos brasileiros, 65%, é contrária à tomada do poder pelos militares, percentual semelhante aos resultados da pesquisa de 2017.

Fechamento do STF

Para 38% dos entrevistados, o presidente da República pode dissolver o Supremo Tribunal Federal (STF) e governar uma Corte suprema caso o país enfrente dificuldades. A proporção mais que dobrou em relação ao registrado no Barômetro de 2012, quando 13% eram favoráveis a esse tipo de medida. Entre aqueles que se consideram de direita, o apoio ao fechamento do STF em caso de necessidade política sobe para 52%.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o pesquisador da FGV George Avelino ponderou que o descontentamento com o STF está presente em todos os segmentos ideológicos. A corte negou por duas vezes habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desagradando a esquerda. Por outro lado, grupos de direita veem o Supremo como conivente com a corrupção.

“O que é mais preocupante é que há apoio nos três grupos [direita, centro e esquerda], embora a direita se destaque mais. O STF não está conseguindo agradar ninguém”, afirmou o pesquisador.

Crescimento da direita

O trabalho mostra que, pela primeira vez desde 2012, existem hoje mais brasileiros que se declaram de direita do que de esquerda: 39% contra 28%, respectivamente.

Em 2017, a proporção era exatamente inversa: 39% responderam como de esquerda e 28% de direita. Nas duas série anteriores, 2012 e 2014, houve empate nos grupos: 27% e 29%, respectivamente. Em 2010, eram 29% aqueles que se consideravam de direita e 17, os que se entendiam como de esquerda.

Também em entrevista à Folha, o pesquisador Jairo Pimentel (FGV) explicou que o fenômeno do aumento do grupo de direita se deve ao sentimento antipestista e ao desalento ligado aos escândalos de corrupção, que abriram margem para que políticos do campo conservador captassem parte do eleitorado.

“Houve estabilidade entre direita e esquerda na última década, mas hoje a gente observa aumento de dez pontos percentuais [nos adeptos da direita]. Isso tem muito a ver com a capacidade de lideranças de representar, em termos ideológicos, aquilo que boa parte da população já pensava, mas não encontrava alguém para ecoar seus anseios”, disse.

Apoio à Democracia

O levantamento mostra que 60% (6 em cada 10) consideram a democracia a melhor forma de governo – em 2017 eram 52%.

Por outro lado, 58% dizem que não estão satisfeitos com o funcionamento do sistema democrático no país. Em relação a 2017, houve queda de 25% nesse percentual. Logo, a pesquisa aponta para o crescimento do otimismo em relação ao sistema democrático.

Pimentel avalia que o apoio à democracia cresceu por conta do otimismo com o último processo eleitoral. “O dado revela que as últimas eleições reforçaram as crenças das pessoas na democracia e no processo eleitoral. Houve alternância de poder e isso se refletiu no aumento da confiança nas instituições e na democracia”, pontuou.

Confiança nas instituições

A instituição com mais confiança entre os brasileiros são as Forças Armadas (70%). Congresso tem 31% de confiança e partidos políticos 13%. Já o STF conta com 41% de confiança e as eleições 33%.

No geral, considerando todas as instituições, a confiança da população saltou de 41%, em 2017 para 51% neste ano, registrando o segundo maior valor da série histórica, desde seu início.

Ainda assim, o Brasil está em 9º lugar no ranking sobre a confiança às instituições, ficando atrás de Nicarágua, México e Guatemala.

Para 29% da população brasileira (1 a cada 4) todos os políticos são corruptos. E, para a grande maioria dos entrevistados (79%), mais da metade dos políticos é corrupta – nesse terreno o Brasil, num ranking de 13 países, perde apenas para Peru e Panamá.

*Com informações da Folha de S.Paulo

Redação

2 Comentários

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  1. Será que estas pessoas não sabem que os militares são tão venais quanto os civis? A vasta corrupção ocorrida durante a ditadura militar de 64 era censurada com todo o rigor para dar a impressão de honestidade no seio do regime dos generais ditadores. Além da extensa corrupção foram escondidas da população em geral a extrema violência dos militares que torturavam e assassinavam centenas (talvez milhares se contar os “desaparecidos”) de pessoas que eram contrárias à ditadura.

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