“Nos manteremos fora da discussão política”, diz Anvisa sobre guerra da vacina

Jornal GGN – O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, afirmou à imprensa, na tarde desta quarta (21), que a agência se manterá de fora da politização em torno da vacina contra o novo coronavírus. O dirigente ainda afirmou que a agência não faz diferenciação entre a vacina de Oxford e a vacina chinesa e negou que exista “interferência externa” nas decisões técnicas a respeito do registro dos imunizantes. Ainda segundo Barra Torres, a Anvisa não terá participação na compra e distribuição das vacinas, sendo papel exclusivo do governo federal em entendimento com os governos estaduais e municipais.

A Anvisa foi cobrada a ter um posicionamento público a respeito da politização da vacina depois que, a mando de Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde recuou da decisão de comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa, em acordo assinado no dia anterior com o Instituto Butantan. À mídia, o presidente admitiu que mandou cancelar a carta de intenções de compra porque o governador João Doria, seu desafeto, assinou o documento.

Em pronunciamentos públicos, Bolsonaro também tem insinuado que a vacina chinesa não é segura e, por isso, não valeria o investimento bilionário. O presidente faz distinção de tratamento em comparação com a vacina de Oxford, que recebeu, em agosto passado, o sinal verde do Ministério da Saúde para a compra de 100 milhões de doses ao custo de R$ 1,9 bilhão.

“Eu entendo que haja uma série de ansiedades e vontades envolvidas, isso é óbvio, (…) mas nosso dever é no trabalho que já nos consome por demais”, disse Barra Torres, escapando de fazer críticas diretas a Bolsonaro.

“Nos manteremos fora da discussão política e fora de qualquer discussão que não seja o norte técnico e científico para que, o quanto antes, possamos entregar respostas vacinais ao povo brasileiro. Esse é nosso compromisso”, pontuou.

Segundo Barra Torres, a Anvisa também não terá parte na discussão sobre a compra e distribuição das vacinas em desenvolvimento após o registro. “A Anvisa não participa de nenhuma compra feita pelo governo federal, de nenhum medicamento ou insumo”, disse.

Ele acrescentou que, para a agência, “pouco importa de onde vem a vacina ou qual é seu país de origem. Nosso dever constitucional é fornecer a resposta de que esses produtos tem ou não tem qualidade, segurança e eficácia. Após isso são efetuadas as decisões de compra pelo governo federal e estaduais e municipais, eventualmente. Não há participação da agência nesse processo.”

NÃO HÁ PEDIDOS DE REGISTRO ATÉ O MOMENTO

Diretora de medicamentos da Anvisa, Alessandra Bastos Soares explicou à imprensa que, até o momento, não há pedido de registro de nenhuma das quatro vacinas em desenvolvimento no Brasil.

O que a Anvisa fez foi avalizar os protocolos de desenvolvimento vacinal de quatro imunizantes e, agora, está acompanhando os processos. Somente após a conclusão dos ensaios clínicos é que haverá o pedido de registro junto à Anvisa.

“A competência da agência é, de uma forma imparcial, verificar sempre. Independente da origem do país, nosso critério não é de onde vem, mas se há qualidade no que é fabricado”, reforçou a diretora.

Ela também afirmou que a Anvisa não faz nenhuma diferenciação entre a vacina de Oxford e a da Sinovac. “Não há de forma alguma nenhuma diferença no tratamento de ambos os estudos. Eles cumprem rigorosamente o mesmo trâmite. [Somente] Os tempos são distintos, em função do período de solicitação para que os dados fossem analisados.”

Os dois dirigentes disseram que não há nenhum prazo para o pedido de registro e análise por parte da Anvisa. “Não há data pré-definida para conclusão de estudos e fornecimento de registros a qualquer uma das quatro vacinas em análise neste momento na agência. Entendemos a angústia, ansiedade e a pressa, mas [a decisão] não será atrelada a nenhuma data. Lançaremos mão do menor e melhor tempo.”

Barra Torres informou também que a Anvisa ainda não recebeu os dados que atestam a segurança da vacina chinesa, divulgados na segunda (19) pelo Instituto Butantan.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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