Clarín repercute entrevista de Lula à Carta Maior
Acusado da prática de crimes durante a ditadura militar, o jornal Clarín está em pé de guerra contra o governo de Cristina Fernández Kirchner. Em uma matéria sobre a entrevista concedida pelo presidente brasileiro à Carta Maior, ao Página/12 e ao La Jornada, jornal argentino selecionou algumas afirmações de Lula sobre a liberdade de imprensa e os meios de comunicação. E deixou de lado as declarações que apontam para a similaridade dos problemas envolvendo a mídia na América Latina e mesmos nos EUA, onde o governo Obama já caracterizou a rede Fox como um partido de oposição e não como um veículo de imprensa.
Redação – Carta Maior
O jornal argentino Clarín repercute neste sábado a entrevista que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu à Carta Maior. A matéria assinada por Eleonora Gosman, correspondente do jornal em São Paulo, é destaque no portal do jornal argentino enfatizando as declarações de Lula sobre os meios de comunicação. Em guerra contra o governo de Cristina Fernández Kirchner, o Clarín procurou selecionar algumas afirmações do presidente brasileiro sobre o tema:
Lula dice que gracias a la libertad de prensa “llegué donde llegué” – destaca o título da matéria.
O texto refere ainda que participaram da entrevista “dos medios latinoamericanos”, sem mencionar que um deles é o seu concorrente Página/12 (o outro foi o jornal mexicano, La Jornada).
Na seleção de afirmações de Lula, o Clarín deixou de lado as reflexões do presidente brasileiro sobre os problemas da mídia na América Latina (a similaridade do tipo de cobertura realizado pelas grandes empresas de comunicação) e também nos Estados Unidos, onde o presidente Barack Obama já caracterizou explicitamente a rede Fox como um partido de oposição e não como veículo de imprensa.
Crimes durante a ditadura
No dia 24 de agosto, o governo argentino denunciou o Clarín e os jornais La Nación e La Razón de apropriação ilegal da empresa “Papel Prensa” (maior empresa fornecedora de papel jornal do país). A presidente Cristina Fernández de Kirchner divulgou nesta data o informe elaborado pela Comissão Oficial formada especialmente para investigar a transferência das ações da empresa do Grupo Graiver (antigo proprietário de Papel Prensa) aos proprietários dos jornais Clarín, La Nación e La Razón. Essas empresas (durante a ditadura) “necessitavam das ações classe A para assumir o controle da empresa”, fato comunicado naquela época, nos três jornais, por meio de uma nota afirmando que “tomavam o controle da empresa conforme acordo prévio com a Junta de Comandantes” da ditadura.
Cristina Fernández de Kirchner afirmou que “no caso do Clarín ocorreu a coincidência entre quem fabrica o papel e quem controla a palavra impressa”. Ela denunciou as condições políticas nas quais a transferência das ações se deu, num país em que só existia a “liberdade ambulatória”. Denunciou também que, anos depois, por causa da falência do La Razón, os jornais controladores da empresa “acordaram um pacto de sindicalização de ações”, para controlar as decisões da companhia.
Outra polêmica envolvendo o Clarín refere-se à suspeita de que a proprietária do grupo, Ernestina Herrera de Noble, tenha adotado a filha de de desaparecidos durante a ditadura militar. A fundadora do movimento Avós da Praça de Maio, Chicha Mariani, suspeita que a filha de Ernestina Herrera de Noble, seja, na verdade, sua neta, Clara Anahí, cujos pais foram seqüestrados por militares em sua casa, em novembro de 1976. A Justiça argentina determinou a realização de exames de DNA.
Na dia 29 de setembro, a juíza responsável pelo caso, Sandra Arroyo Salgado, determinou que o Banco Nacional de Dados Genéticos faça uma análise de amostras de sangue e de saliva que Felipe e Marcela Herrera de Noble entregaram em dezembro de 2009. O objetivo é verificar se ali há material genético suficiente para fazer o exame de DNA. Se não houver, a juíza pode determinar que os dois entreguem nova amostra.
Leia aqui a íntegra da matéria do Clarín sobre a entrevista de Lula

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