O furacão político sacode Porto Rico, por Carolina Chimoy

Revelação de diálogos foi a gota d’água para queda do governador da ilha, que há anos sofre com endividamento e efeitos de furacão. Os porto-riquenhos estão indignados com seus representantes

Por Carolina Chimoy

Na DW Brasil

Dois anos atrás, foi um furacão – hoje é uma tempestade política que sacode a ilha com cerca de 3,2 milhões de habitantes. Com seus protestos pacíficos nas ruas, centenas de milhares de pessoas indignadas obrigaram o governador a renunciar.

A última vez que tantos manifestantes tomaram as ruas de Porto Rico foi em 2017, quando o furacão Maria devastou a ilha, mas a ajuda de seu próprio país não se concretizou – ou seja, dos EUA.

Para compreender a tempestade política em Porto Rico, é preciso entender o que significa ser parte dos Estados Unidos da América: embora os porto-riquenhos paguem impostos nos EUA, eles não podem participar das eleições presidenciais e são representados no Congresso por uma parlamentar sem poder de voto. Então, quando se trata do uso indevido de fundos públicos, trata-se do uso indevido de dinheiro público americano.

Os manifestantes acusavam o ex-governador, Ricardo Rosselló, de ter usado fundos estatais para fins próprios. Adicione a isso o fato de que o território está fortemente endividado há anos e, portanto, praticamente insolvente.

A rede de corrupção envolvendo o governador, o ex-ministro da Economia e outros correligionários, veio à luz por meio de um bate-papo na plataforma Telegram. As conversas, que impressas somam aproximadamente 900 páginas, ocorreram entre Rosselló e 11 de seus assessores, entre eles políticos de alto escalão do território.

No bate-papo, foram planejadas não apenas decisões sobre gastos de fundos estatais e sobre a manipulação de informações públicas – a “gota d’água”, a razão pela qual o povo de Porto Rico está mais indignado do que nunca é outra parte do conteúdo do bate-papo.

Os participantes fazem declarações discriminatórias, insultuosas e obscenas sobre mulheres, por exemplo, chamando-as de “prostitutas”; sobre homossexuais, sobre pessoas com excesso de peso – e até zombaram das vítimas do furacão Maria em 2017.

Consta também que o governador interveio no Judiciário ao nomear para a Corte Suprema de Porto Rico juízes que simpatizam fortemente com ele e seu governo.

O ex-governador Rosselló pode, assim, ser acusado judicialmente de malversação de fundos públicos e corrupção, mas a população também o critica do ponto de vista moral e ético. Por isso porto-riquenhos foram às ruas nos últimos dias – eles estão indignados com a política e seus representantes.

A situação é absurda. Há dois anos o governador, apoiado por democratas e republicanos, sorria para as câmeras, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump,  atirava rolos de papel toalha para vítimas do Furacão Maria. Hoje, Roselló ficou isolado e vem sendo criticado tanto por Trump quanto pela representante de Porto Rico no Congresso. Ela também pediu a renúncia do governador.

Nesse contexto, tons sexistas não são estranhos ao presidente, e Trump também instalou seu candidato como juiz na Suprema Corte dos EUA. Faltou somente a indignação moral das massas na parte continental dos Estados Unidos. Em vez disso, o presidente aponta o dedo para a pequena ilha no Caribe.

Redação

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