O governo Bolsonaro é disfuncional. A sorte dele é que a oposição é mais, por Thomas Traumann

Não ocupa espaço, não batalha a narrativa, minimiza Bolsonaro e acha que ele vai perder o jogo sozinho, diz ex-ministro da SECOM

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Por Thomas Traumann

No Twitter

A premissa para entender a política é compará-la com o basquete, não com o futebol. No futebol você pode fazer um gol, recuar e jogar no contra-ataque (bom dia, Muricy Ramalho). 1×0 é um resultado normal e mais de 4 gols no jogo é espetáculo.

No basquete, mesmo o Dream Team dos EUA leva 50 pontos. Só que faz 120! O importante é marcar atrás, ganhar rebote e atacar sempre. A intensidade traz a vitória.

Bolsonaro é intenso. Provoca uma crise de manhã, muda de assuntos à tarde, chama um adversário para a briga, inventa um factoide e promete uma bondade. Ocupa todos os espaços. Faça chuva, faça sol, a máquina digital bolsonarista distribuí para milhões a sua versão dos fatos.

A oposição, por sua vez, faz uma cesta e depois entra no Twitter para comemorar a lacração. Não ocupa espaço, não batalha a narrativa, minimiza Bolsonaro e acha que ele vai perder o jogo sozinho.

Em junho/junho, Bolsonaro estava na parede. Os ministros do STF sabiam do risco de serem depostos, a população estava chocada com os mortos de Covid-19 e o mercado percebia Guedes com o parafuso solto.

O que fez a oposição? Foi brigar entre si porque no ‘verão passado, patati, patata…’

Jair Bolsonaro suspendeu as ameaças ao STF, trouxe o Centrão para o governo e ampliou a distribuição do Auxílio Emergencial. Como os governadores (sem base científica!) acabaram com as quarentenas, Bolsonaro ganhou de graça o discurso de que tinha razão desde o início sobre a Covid-19.

O governo Bolsonaro é disfuncional. A sorte dele é que a oposição é mais.

Thomas Traumann é jornalista e consultor. Foi porta-voz da Presidência da República e ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo Dilma

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “O governo Bolsonaro é disfuncional. A sorte dele é que a oposição é mais.”

    Volto ao tema: com Gleisi de Presidente o PT só vai ser a retaguarda do atraso. Chega de blablabla .. melhor juntar td num partido so com alguem que entenda e se preocupe com o Brasil, não com as questões da provincia.

    Ou ao menos por um Presidente de sindicato na Presidencia do PT pra sair do marasmo discursivo.

  2. Boa…! Thomaz, faltou você dizer o que deve ser feito, e como agir! Este papo de esquerda não faz nada, é muito simplório, faz parte do senso comum e desprovido de propostas.

  3. No entender da oposição , sem entrar no mérito , o governo é fruto de um golpe , assim fazem resistência e não oposição, a oposição usa o STF em lugar da luta política um erro na minha mui modesta opinião.
    A saída é o velho jogo político , só isto

  4. A direita compreendeu a dinâmica da comunicação e das redes sociais. A esquerda, seja ela qual for (normalmente, perguntaria “qual?”, mas agora não dá), peca pela linguagem burocrática e empolada, pelo convencimento dos já convertidos (uma tautologia inútil), pelas discussões político-partidárias (quem será o cabeça de chapa ou o dono da bola de capotão), pela ausência de combate na narrativa (o auxílio emergencial, o resto todo mundo sabe) e os particularismos de toda espécie.
    O resultado dessa ausência de atividade expansiva e para fora de si é a briga interna, a cobrança encarniçada, os “cancelamentos”, o meu orgulho, o meu grupelho. E o seu “problema dos Universais”.
    Nada impede de haver um bloco de esquerda, um bloco progressista, um bloco democrático, os três ao mesmo tempo ou mais de um tanto faz. Ou mesmo não haver blocos, desde que convirjam para fins semelhantes. Provavelmente, alguns terão que abrir mão de posições confortáveis.
    A direita tem gente, dinheiro, capilaridade. Mas pode ser um tigre de papel. Há excessos de toda ordem por parte dela.

  5. A esquerda não voltará ao poder tão cedo, até porque está sendo montado o modelo de “Populismo Bolsonarista” que atingirá uma imensa parcela da população que ainda não era alcançada pelos programas sociais do Estado. Este modelo vai mesclar ingredientes do desenvolvimentismo e do liberalismo. O momento histórico é propício para isso. É que a discussão sobre quem está com a razão, liberais ou desenvolvimentistas, depende do contexto histórico e não de fórmulas matemáticas ou ideológicas. Quando um país entra num ciclo de grande prosperidade, com todos os seus fatores de produção sendo plena ou quase plenamente utilizados, é requerido adotar medidas liberais de austeridade econômica -redução de investimentos públicos, elevação de impostos, valorização cambial e aumento de juros- para frear o consumo, a produção e evitar inflação que pode corroer o valor dos salários, da moeda e estourar as contas públicas. Inversamente, quando a economia está com elevada “capacidade ociosa” -elevada parcela dos fatores de produção parada-, isto é, em recessão ou depressão, como é o caso atual da economia brasileira, a única fórmula para sair do ciclo recessivo/depressivo é adotar medidas desenvolvimentistas inversas: elevar gastos públicos, reduzir juros, impostos e desvalorizar a moeda. A fórmula que está sendo montada por Bolsonaro para enfrentar a depressão econômica, resgatar sua popularidade e se manter viável para 2022 deve mesclar os dois componentes: elevação dos gastos públicos na área social e econômica, corte para os andares de cima e elevação de impostos para os andares de baixo da população, privatização em massa de empresas públicas, redução dos juros e manutenção da desvalorização monetária. Guedes não se encaixa nesta fórmula porque, como todo barão ladrão, é um “samba de uma nota só”. Por isso está sendo rifado pouco a pouco, à caminho da degola. Ou muda para continuar no governo, o que é mais difícil, ou cai, o que é mais provável. E o pior é que Bolsonaro deverá se reeleger com esta fórmula, pois a esquerda não dá sinais de melhora e parece ter entrado numa espiral de cancelamentos fratricidas.
    Por: Válber Pires

  6. Agora dá para entender o porquê que a comunicação do governo Dilma foi tão ruim. Não que esse tal de Trauma devesse retificar o mau desempenho político gerado pelo governo Lula e continuado pelo governo Dilma.
    Não ter reagido ao golpe não foi uma escolha dos governos do PT, foi simplesmente uma consequência do erro político de desmobilizar todas as bases que o apoiavam e não partir para uma mobilização geral. Em 2013 Dilma chegou a pensar numa constituinte, que desistiu pelo medo dos seus correligionários (a base completa) de perder a disputa, ou seja, no lugar de aprofundar a luta e colocar uma constituinte como uma saída para mobilizar o povo e aprofundar a separação entre esquerda e direita, simplesmente caíram na velha e desgastada fórmula de Lula da conciliação.
    Esta tendência de se ajustar as políticas ao discurso da oposição política e mediática continuou até os dias de hoje e essa aparente perda de poder da esquerda é simplesmente resultado disso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador