O novo momento político – 2

Coluna Econômica

(Clique aqui para ler o primeiro artigo da série: O novo momento político – 1)

Na coluna de ontem mostrei os conflitos inerentes a todo período de inclusão social. Em uma primeira fase, o velho morreu, o novo ainda não nasceu, os diagnósticos são precários, resultando na perda de rumo.

Mas – ponto fundamental – essa impaciência pelo novo é captada inicialmente pela população, embora de modo ainda difuso. O eleitor pressente a direção a ser seguida, embora ninguém saiba ao certo o caminho e abre espaço para a etapa seguinte.

O caminho a ser seguido fica amarrado ou ao surgimento de estadistas – aqueles capazes de entender e promover a mudança -, os visionários –que enxergam, mas não sabem como chegar até lá – e os meramente medíocres – que empurram com a barriga, às vezes nem por demérito mas pela falta de um amadurecimento das ideias.

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NosaNos anos 80, os governos Figueiredo e Sarney foram tipicamente desse terceiro estágio. A única bandeira a vigorar no período foram os planos de estabilização, tidos como mágicos a acima da política.

Já Fernando Collor enxergou nitidamente o novo. Havia uma vontade nacional contra a centralização do período anterior, contra o burocratismo, contra o peso do Estado que impedia o desabrochar de novas forças sociais e econômicas.

Foi eleito devido às bandeiras que desfraldou. Seu discurso foi tão poderoso que chegou a influenciar o programa do PT na época, que acabou esbarrando na resistência de alguns núcleos.

Collor se enrolou na própria inabilidade política e terminou devorado pela esfinge, assim como Carlos Andrés Perez, na Venezuela. Eram os típicos visionários. Teve o mérito de clarear o período posterior.

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FHC pegou as ideias prontas e o terreno aplainado. Completou o trabalho de Collor com grande habilidade política e nenhuma visão sobre a nova etapa. Tivesse tido a visão sobre o momento seguinte, completar-se-iam os vinte anos no poder preconizados por Sérgio Motta.

A que se seguiu à reconquista dos direitos civis e dos consumidores seria a etapa da grande inclusão social, da ampliação das organizações sociais, da preparação para a nova sociedade de consumo de massa que se avizinhava e da recuperação do sonho do desenvolvimento.

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Lula foi eleito pelos novos ventos. Já em 2002, sua eleição representou o novo movimento, a vontade política crescente de combater a miséria e a fome, em contraposição ao frio mercadismo de FHC.

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Há dois momentos na vida do governante: as eleições, onde se manifesta o sentimento difuso do eleitor; e o dia a dia, no qual os agentes dominantes são a mídia, a opinião pública midiática e os parlamentares.

No dia-a-dia eram dominantes os interesses consolidados em torno do neoliberalismo. Gastos sociais eram apresentados como desperdício, qualquer política compensatória como paternalismo estéril.

Eram esses os dois grandes desafios a serem perseguidos. O primeiro, como conduzir esse gigantesco processo de inclusão social; o segundo, como mudar o paradigma sem produzir uma desestabilização política cujo enredo era parte integrante da história política do continente.

É sobre isso que falaremos na coluna de amanhã. 

Luis Nassif

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