O novo momento político -3

Coluna Econômica

(Acesse os primeiros dois artigos da série: O novo momento político -1 e O novo momento político – 2)

Como explicado na coluna de ontem, Lula enfrentou dois desafios consideráveis: administrar a grande inclusão social do período e mudar os paradigmas vigentes nos anos 90, do mercadismo sem visão social e sem punch desenvolvimentista.

Os paradigmas do período anterior eram: todo gasto público é desperdício; todo gasto social é paternalista e cria vagabundos; todo o espaço às organizações sociais visa fomentar a subversão; qualquer investimento no Estado significa a volta do estatismo anterior

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LulaLula assumiu o governo com algumas idéias-chave.

O foco principal – expresso no seu primeiro programa, o fracassado Fome Zero – era o do combate à miséria. Em torno disso, montou sua estratégia política, fundada em alguns pontos.

Esvaziar os temores provocados por sua eleição. Fazer caber no governo o extenso arco de tendências do PT e aliados. Em vez da aliança com um grande partido (como FHC com o DEM), a montagem de uma frente de pequenos partidos que seriam turbinados para crescer.Reduzir todos os focos potenciais de instabilidade.

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A lógica política de Getúlio Vargas e mesmo de Fernando Henrique Cardoso era a de dividir para reinarJá a estratégia de Lula consistiu em somar, agregar e de atrair todas as fontes potenciais de conflito.

Deu uma volta enorme a um custo elevado

Fez concessões ao mercado, entregando-lhe as chaves do Banco CentralProcurou reduzir as críticas dos exportadores criando ferramentas artificiais de lucro – como o “swap reverso” que permitia aos exportadores lucrar no mercado financeiro com a apreciação cambial ao mesmo tempo em que perdiam com suas operações comerciais. E fortaleceu de forma expressiva os grandes grupos nacionais.

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Houve alguns erros inicias graves que quase comprometem seu projeto político. A distribuição de cargos se deu sem controle, sem critérios. A estratégia de se aliar a pequenos partidos, contrariando a lógica proposta por José Dirceu (copiada de FHC) de se aliar a um grande partido fisiológico, resultou no episódio conhecido como “mensalão” , que quase liquida com o governo.

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Mesmo assim, a estratégia original foi seguida à risca e se encorpando na medida em que o governo aprendia agerenciar. .

Antes, montou-se o Conselho de Desenvolvimento Social para atrair parcela expressiva do empresariado e de organizações sociais. Depois, um conjunto cada vez mais amplo de políticas voltadas para a inclusão social: o Luz para Todos, o Pronaf (Programa de Financiamento para a Agricultura Familiar), o biodiesel, o Reuni (bolsas de estudos para universidades privadas), a recuperação do salário mínimo e o maior de todos, o Bolsa Família.

No final do governo, percebeu-se o resultado da enorme volta dada por Lula: um país em que cabiam as multinacionais, o mercado financeiro, os movimentos sociais, as políticas compensatórias. Para tanto, haveria a necessidade de reduzir o pesado grau de preconceito e radicalização que caracteriza todos os processos radicais de inclusão social.

Sobre isso falaremos amanhã. 

Luis Nassif

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