Há algumas semanas entrevistei o candidato Geraldo Alckmin. No final da entrevista tivemos uma conversa informal, cujo conteúdo preservei até agora, término do primeiro turno.
Político discreto, ele não gostou da carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao partido. Comentou que um dos problemas do ex-presidente é que julgava que, depois dele, viria o dilúvio, e o dilúvio não veio.
Ri da especulação da imprensa que, após as eleições, aproximar-se-ia do governador mineiro Aécio Neves. Disse que políticos e jornalistas têm por hábito tentar adivinhar o futuro. E muitas vezes acertam.
Conta que aprendeu com Mário Covas uma lição política inesquecível. Covas tirava todo final de semana para circular no meio do povo. Nada de eventos, solenidades, mas andar, sentir cheiro de povo. Era uma maneira de jamais perder a perspectiva do povo, diz Alckmin, e também passar o exemplo para toda a administração. Alckmin diz que aprendeu e repete sempre a lição. Diz que Lula também conhece essa lição. Fernando Henrique, ele não sabe.
O rosto não demonstra ira, raiva. Embora tivesse ocorrido logo após a carta de FHC, a conversa é tranqüila, sem rompantes. Não gostou dos ataques que o ex-presidente disparou contra a administração penitenciária do Estado. Diz que o ex-Secretário Nagashi já tinha preparado a resposta. E enfatiza: “Nagashi é uma pessoa digna”. A defesa que faz do seu ex-Secretário mostra virtudes importantes na argamassa que molda partidos, mais ainda em ambiente onde a lealdade é insumo escasslo, como na cúpula do PSDB.
Não aceita, também, a idéia de que, por ex-presidente, FHC seja um expert em eleições. Não gostou de sua resposta ao governador Cláudio Lembo, de que sabia mais de eleições por ter vencido Lembo em 1978. Lembra que a eleição foi vencida por Franco Montoro. Fernando Henrique e Lembo foram derrotados.
No início da sua campanha, Alckmin foi à Casa das Garças, no Rio de Janeiro, centro de lobby (no sentido americano do termo) da visão financeira da economia. O que ouviu, não o empolgou. Disse ter ouvido a fórmula completa para perder eleição: reduzir a aposentadoria dos velhinhos, o salário dos funcionários públicos e os recursos para os mais pobres.
Deixa no ar que sabe muito bem o que quer para a economia, mas não explicita. Mudar a economia não é apenas questão de falar, mas de querer e de poder. Em São Paulo não demonstrou muita gana transformadora, nem discernimento para fazer um bom secretariado. Mas, na conversa, em todo caso, fica claro que Alckmin não é do tipo que se deixará conduzir. E, definitivamente, não é mais do mesmo.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.