O que os militares farão se a incompetência engolir Bolsonaro?

Uma olhada rápida na história republicana do País não deixa dúvidas sobre a origem inextinguível da ameaça: os militares estão sempre prontos a soltar seus tanques, donos de um poder inimaginável em um Estado Democrático de Direito

Por Mauricio Dias

Na CartaCapital

Jair Bolsonaro, no papel de presidente da República, mantém-se como sempre foi: alguém disposto a botar fogo em gasolina. Desajuizado, reativou as “comemorações” nos quartéis, no dia 31 de março, do golpe que derrubou João Goulart em 1964. A regra vale a partir de agora, caso não surjam outras interrupções.

Tudo começou então com um golpe cruel e de longa duração. Dilma Rousseff foi uma das vítimas da selvageria, ocorrida nos anos 70, quando estava presa e sob tortura como tantos outros. Ao chegar à Presidência décadas depois, ela decidiu terminar com as fanfarras nos quartéis no dia em que lá se homenageava a tragédia.

E, mais, cancelou em cima da hora uma palestra a ser realizada dia 31 de março de 2011. Seria da lavra do diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia sobre “A contrarrevolução que salvou o Brasil”. O orador haveria de ser o general de Exército Augusto Heleno. Esse mesmo que hoje ocupa o Gabinete de Segurança Institucional no governo de Bolsonaro.

Não havia, porém, desforra na decisão: o objetivo de Dilma era o de retornar com a história ao seu devido lugar. E assim se fez. Suspendeu a data da celebração, em nome da democracia, Bolsonaro, agora, recoloca seu trem nos trilhos. Obviamente, ele nega o golpe. O porta-voz do presidente, general Otávio do Rego Barros, tenta explicar o inexplicável. Diz ele em pregão suspeito: “A sociedade, reunida e percebendo o perigo que o País estava vivendo naquele momento, juntaram-se civis e militares e conseguimos recuperar e recolocar o nosso país em um rumo…”

Uma olhada rápida na história republicana do País não deixa dúvidas sobre a origem inextinguível da ameaça: os militares estão sempre prontos a soltar seus tanques, donos de um poder inimaginável em um Estado Democrático de Direito. Após o Estado Novo impuseram na Presidência o general Eurico Gaspar Dutra. Depois, regozijaram-se com o suicídio de Vargas, presidente democrático. JK resistiu à pressão fardada, Jânio renunciou e Jango foi defenestrado. Nasceu aí a ditadura que durou 21 anos.

No governo Bolsonaro, os generais funcionam como avalistas e protetores, significam a garantia do poder, a despeito do contraponto do vice Mourão. Mas, se o capitão for tragado por sua própria incompetência, que farão os estrelados? Vale lembrar, de passagem, que o ideólogo da revolução bolsonarista, Olavo de Carvalho, considera Mourão um parvo.

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Num verdadeiro Estado Democrático de Direito, por mais força que tenham as forças armadas ficam restritas ao seu papel constitucional.
    Aqui, Brasil, sempre haverá carteirada pois as instituições são frágeis e cuidam apenas de si, como pode ser verificado nas posições que assumem a todo momento para manutenção de suas benesses e privilégios.

  2. Tristes figuras.
    Deixaram o bolsonaro reviver o drama e o desastre que foram os militares em 64.
    Bolsonaro ainda reavivou a miséria das torturas, o mais covardes dos crimes, e eles idiotamente o avalzaram.
    O golpe de 16 fez brotar todas as misérias deste país. Globo, militares golpistas e etc.
    Que falta de noção. Havia uma pedra encima deste lamentável e terrível assunto e eles ingenuamente o deixaram aflorar.
    Tristes e fracas figuras.

  3. até o último deles na presidência, perseguições e tortura correram soltas…
    o que, no meu entender, deixa bem claro que não foram, não são e nunca serão “educados” para governar em tempo de paz

  4. As forças militares existem em função do poder econômico. Logo, em caso do Bolsonaro não se alinhar, os milicos farão o que o poder econômico lhe ordene que faça.
    Me surpreende a ingenuidade política de pessoas com o Rui Pimenta, segundo o qual ‘é uma das opções que o governo e os próprios militares podem tomar diante da crise. Eu nem acho que é uma iniciativa pessoal do Bolsonaro, é de toda a cúpula militar. Ora, a cúpula militar não tem iniciativa exceto de fachada, pois a força militar é o poder político são capachos do poder economico.

    Portanto, não há ameaça de golpe militar, mas de golpe civil travestido de golpe militar.

  5. Como qualquer outra categoria profissional os militares querem ganhar bem, acho que para por aí, não creio que os militares tenham qualquer aspiração a uma ditadura ou algo similar, creio inclusive que, em sua maioria, se sentem mais representados por Mourão e demais militares do que pelo Bolsonaro…
    Resumindo, não creio em qualquer ameaça à democracia, digo até mais, acho que os militares tiveram um bom relacionamento com o presidente Lula, o problema começou com a indicação e eleição da Dilma, que obviamente não gosta dos militares.
    A esquerda tem que entender que não existe governo sem apoio militar, especialmente quando se fala em governos de esquerda.
    A Venezuela que o diga …
    Bolsonaro só ganhou representatividade graças à comissão da verdade, durante o governo Lula ninguém falava em 31 de março …
    Ou a esquerda para de ressuscitar esse conflito e puxa os militares para o seu lado ou continuarão sempre sendo fracos, alguém tem dúvidas que se a Dilma tivesse os militares ao lado dela ela não teria caído ?
    É só olhar para Cuba e Venezuela.
    Governo de esquerda não se sustenta sem apoio militar.

  6. E quanta influencia o delirante olavo tem junto ao exército? Pouca.Se o capitao continuar descontrolado , seria afastado devido a sua proximidade com as milicias, ou outro motivo qualquer. Mourao seria a esperança de alguma estabilidade e dialogo. Se em seu governo a crise economica se aprofundar , ele poderá ser por anos um presidente-paralisado, como foi figueiredo depois de 79. Um golpe militar nao está descartado, o povo elegeu o descontrolado sabendo que ele cultua a ditadura e a tortura. O povo praticamente legitimou uma ditadura.

  7. Nassif: esse “sofrimento” imposto pelos VerdeSauvas vem de mais de um século. Depois de 1870 o grupo de espertalhões fardados (sempre esses espertalhões, minoria na Arma, mais com um poder de fogo assustador) começaram a minar o poder do Imperador. A Toca da Raposa era (como até hoje) a famigerada PraiaVermelha (dizem que vai ser rebatizada por Praia Cor de Rosa). De lá os fuxiqueiros incendiavam a galera. Como era Arma “inferior” tinham um major dedoduro plantado na cola do Imperador, lá na Quinta da Boa Vista. Dito e feito (inclusive enganando o Marechal Deodoro) exilaram rapidinho o pessoal da Corte (essa mesma Corte, que, um dos “ramos” imperial, se juntou a eles nesse golpe democrático de 2018) e, junto com meia dúzia de civis, ocuparam a governança do Pais. Assim, por incapacidade atual de arrumar uma mumunha no exterior (parece que os russos jogaram água nos planos de invadir a Venezuela) pensam que estão no Haiti. E sedentos de sangue, estão ansiosos pra botar os tanques fora das casernas e lavarem as ruas com o sangue dos 91 milhões que disseram não a eles nas urnas. Por isto estão festivos e eufóricos para que ocorra novos 1º de Abril (verdadeira data nacional da festividade). O CapitãoPresidente, por exemplo, nem vai precisar furtar laranjas dos Paivas… Por isto não farão nada pela incompetência do Mandatário palaciano. O governo é deles. Trocam o peão! Parece que a ideia é continuar até 2039, no mínimo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador