O uso político das emendas parlamentares

Achei isto aqui, que me parece uma descrição apropriada das emendas parlamentares.

(faltou saber a fonte)

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De acordo com a Constituição, a emenda parlamentar é o instrumento que o Congresso Nacional possui para participar da elaboração do orçamento anual. Por meio das emendas os parlamentares procuram aperfeiçoar a proposta encaminhada pelo Poder Executivo, visando uma melhor alocação dos recursos públicos. É a oportunidade que eles têm de acrescentarem novas programações orçamentárias com o objetivo de atender as demandas das comunidades que representam. Além das emendas individuais existem as coletivas, como as de Bancada, produzidas em conjunto pelos parlamentares de estados e regiões em comum.

Apesar de estarem previstas na Legislação, as emendas parlamentares constituem um assunto polêmico entre os analistas. Há quem defenda que tais emendas representam uma ação política, paroquial e eleitoreira. Para outros, elas são a oportunidade que os pequenos municípios têm de receber benfeitorias da União, como hospitais, presídios, postos de saúde, quadras esportivas e outras obras do gênero.

Não é de hoje que, para o governo federal, as emendas parlamentares significam úteis ocasiões de negociar com os congressistas o apoio em futuros projetos. Como o Orçamento da União é autorizativo, e não impositivo, os governos costumam liberar as emendas dos parlamentares fiéis e desconsiderar , ou atender com menor afinco, as demandas dos parlamentares que lhe fazem oposição.

Outro instrumento utilizado por deputados e senadores para influenciar a execução do orçamento, de forma a atender seus redutos eleitorais é a negociação de parcelas das rubricas consignadas como “Nacionais” no OGU. Tais rubricas não especificam os estados ou municípios onde o recurso deve ser aplicado, ficando a cargo do ministério responsável definir as localidades favorecidas.

No Ministério do Esporte, por exemplo, os recursos previstos no orçamento para a ação “Implantação de Núcleos de Esporte Recreativo e de Lazer”, teoricamente deveriam ser aplicados em localidades que carecem de infra-estrutura esportiva. Na prática, no entanto, nem sempre é isso que acontece. Muitas vezes, determinados políticos solicitam ao ministério liberação de verba para os estados e localidades que representam, deixando os mais necessitados de fora da lista dos beneficiados. Resultado: ganham os municípios com maior força política dentro do Congresso.

As emendas coletivas também dão margem a situações curiosas. Freqüentemente, um grupo de parlamentares se une quando o orçamento está em votação e apresenta uma emenda em favor do seu estado dentro de uma rubrica intitulada “Nacional”. Feito isso, negociam com a pasta beneficiada, para que a compra, por exemplo, de 10 ambulâncias seja partilhada unicamente nas áreas de interesse político do referido grupo parlamentar. São as chamadas “rachadinhas”.

Enfim, as emendas parlamentares têm aspectos positivos e negativos. De positivo, o benefício federal que atende diretamente diversas localidades. De negativo, a liberação discricionária que o Executivo faz, distinguindo os parlamentares que apóiam ou não o governo, banalizando e apequenando as relações entre os Poderes Legislativo e Executivo.

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Creio que sustenta tudo o que disse antes. Se o modelo Aécio é substituir indicações executivas por emendas parlamentares, ele resulta justamente em fazer a balança pender para o lado do paroquialismo. O Brasil já vive uma situação delicada com as emendas parlamentares como estão, caso se crie uma cultura de clientelismo miúdo, ao invés de pelo menos vincular a liberação dos recursos às rubricas discricionárias (e aí o político vai negociar com o ministro, que também é político mas pelo menos sofre vigilância mais intensa do que se estivesse num gabinete embolorado do Congresso; sem contar que ele pelo menos pode ter acesso aos técnicos que lhe dirão se esse gasto é razoável ou não), será o desastre total.

O que fica claro é que o ministro pode até ser “técnico”, mas ficará de mãos amarradas quanto a conduzir com sabedoria os gastos discricionários, pois estes passarão a cargo da negociata política. Não é nem trocar seis por meia dúzia, é trocar seis por cinco. Ou três, sei lá.

Caso se confirme que o “modelo Aécio” é esse, não vejo outra solução que não amarrá-lo bem amarrado e jogá-lo no poço mais escuro que acharmos.

Ai de ti, Santa Catarina.

Luis Nassif

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