Política de “campeões nacionais” não explica fracasso da Oi, por Sérgio Lírio

Jornal GGN – Em artigo publicado na Carta Capital, redator-chefe da publicação, analisa o pedido de recuperação judicial da Oi, operadora que tem 74,5 milhões de clientes e uma dívida que totaliza R$ 64,5 bilhões de reais. Boa parte da imprensa relacionou o fracasso da telecom com a política de “campeões nacionais”, adotada no governo Lula, que tinha como objetivo fortalecer empresas brasileiras capazes de concorrer com as mulitnacionais, através da participação de BNDES, Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

Lírio discorda dessa tese, relembrando que a Oi surge da fusão entre a  fusão a Telemar com a Brasil Telecom, e diz que o real motivo para o acordo era resolver uma batalha judicial entre os fundos de pensão de empresas estatais e o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e os sócios da Telemar, o empresário Carlos Jereissati e a construtora Andrade Gutierrez. A disputa envolveu espionagem, chantagem, fraudes e até duas operações da Polícia Federal.

O tal “sonho da supertele” nacional durou pouco, já que em 2013, a Portugal Telecom adquiriu o controle da OI, em outra operação nebulosa. Para Lírio, como a OI não tinha uma estratégia clara de negócios e foi criada para resolver um probema acionário e político-criminal, seu destino não poderia ser diferente.

Enviado por Maria Carvalho

Da Carta Capital

OI, a falência da “supertele”
 
A política de “campeões nacionais” não explica a fusão da Telemar com a Brasil Telecom
 
por Sergio Lirio 

Com uma dívida de 64,5 bilhões de reais, a OI, operadora de telefonia que atende 74,5 milhões de clientes no País, ingressou na Justiça do Rio de Janeiro com um pedido de recuperação judicial. A última tentativa de renegociação dos débitos fracassou na sexta-feira 17.

Em uma apresentação a credores, a companhia revelou seu curtíssimo fôlego financeiro. Em dezembro, o caixa estaria positivo em 700 milhões de reais, mantidas as condições atuais de mercado. No próximo ano, ficaria negativo em 8,4 bilhões de reais, rombo que chegaria a 17,3 bilhões em 2018.

Parte da mídia apontou como causa única do fracasso a política de criação de “campeões nacionais” adotada no governo Lula. A ideia era fortalecer empresas brasileiras, estimular a formação de gigantes locais capazes de concorrer com as multinacionais por meio da participação acionária do BNDES, Banco do Brasil e Caixa, além da oferta de linhas de financiamentos públicos mais baratas. Outro beneficiado por essa política foi o JBS Friboi, hoje o maior frigorífico do planeta.

A OI consolidou-se em 2008 a partir da fusão da antiga Telemar, que operava no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Nordeste, com a Brasil Telecom, atuante no Distrito Federal e Centro-Sul. O governo Lula chegou a alterar a lei de outorgas, criada durante a privatização da Telebrás, para permitir a união das duas empresas.

Culpar apenas a política de “campeões nacionais” é uma meia explicação. No caso da OI, a teoria foi usada pelo governo para encobrir o real motivo da fusão: resolver a longa e desgastante disputa judicial entre os fundos de pensão das maiores empresas estatais, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e os sócios da Telemar, o empresário Carlos Jereissati e a construtora Andrade Gutierrez.

Mais detalhes estão na reportagem Os novos barões, publicada por CartaCapital em janeiro de 2008.

Desde a privatização em 1998, três fundos de pensão (Previ, do Banco do Brasil, Petros, da Petrobrás, e Funcef, da Caixa) envolveram-se em uma intensa batalha judicial com Dantas pelo controle da Brasil Telecom.

O banqueiro dominava a operadora, apesar de acionista minoritário, e usava-a de acordo com seus interesses, à revelia das fundações, obrigadas pelo governo FHC a investir nas teles privatizadas. Dantas também mantinha uma pequena participação na Telemar e igualmente alimentava uma disputa com os demais sócios.

As brigas societárias transbordaram para a política. Durante o governo FHC, Dantas contava com o total apoio dos tucanos. Em um jantar no Palácio do Alvorada em 2002, conseguiu do próprio presidente da República a troca de dirigentes das fundações incomodados com seus desmandos.

A chegada do PT ao poder em 2003 resultou em mudanças no comando e na orientação dos fundos de pensão. O falecido Luiz Gushiken, ministro palaciano, alinhava-se com as fundações. Sem o apoio de antes, Dantas aproximou-se de José Dirceu e Antônio Palocci. As disputas na cúpula do governo Lula e a aproximação do banqueiro de lideranças do partido estão na base do chamado “mensalão”.

Foram 11 anos de uma guerra travada muito além dos tribunais no Brasil e no exterior. Espionagem, chantagem, fraudes e duas operações da Polícia Federal compõem o enredo. Os dois lados saíram maculados e daí nasceu a ideia da fusão. Dantas desistiu do setor de telefonia em troca de cerca de 1 bilhão de reais e de um armistício com o PT. Os fundos, por sua vez, aceitaram o comando de Jereissati e da Andrade Gutierrez.

O sonho da “supertele” nacional durou menos de cinco anos. Em 2013, a Portugal Telecom adquiriu o controle da OI, em outra operação nebulosa. Os portugueses não caíram de paraquedas no imbróglio. Em 2005, CartaCapital revelou na reportagem A conexão Lisboa que José Dirceu havia autorizado o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza a viajar a Lisboa e oferecer um negócio aos acionistas da Portugal Telecom.

O objetivo era o mesmo que embasou a criação da OI: solucionar o impasse entre Dantas e os fundos de pensão. O banqueiro venderia aos portugueses a então Telemig Celular. O dinheiro, cerca de 5 bilhões de reais, seria usado para comprar a parte da italiana TIM na Brasil Telecom. E as fundações estatais? Seriam obrigadas pelo governo a acatar o domínio do dono do Opportunity. O escândalo do “mensalão” atrapalhou os planos.

Concebida para resolver um problema acionário e politico-criminal, sem uma estratégia clara de negócios, o destino da “supertele” não poderia ser diferente.

 

Redação

10 Comentários

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  1. O destino da Oi esta traçado

    O destino da Oi esta traçado desde a PRIVATIZAÇÃO SEM DINHEIRO, o valor inicial teve de ser emprestado pelo BNDES

    através da compra de 200 milhões de Reais em debentures da LA FONTE, holding do grupo Jereissati, NINGUEM COLOCOU UM CENTAVO, a Tele Leste nasceu só com dividas, os grupos que compraram não colocaram nada,  mas tiraram muito em dividendos, a fusão da fusão PAGOU MUITO DIVIDENDO e se descapitalizou.

    Portanto os grupos iniciais alem de não tem colocado dinheiro algum ainda tiraram muito durante esses vinte anos.

    A assunto MERECERIA UMA CPI, a OI é muito simbolica sobre a ERA DAS PRIVATIZAÇÕES.

    O dinheiro foi todo do BNDES e dos fundos de pensão estatais, as garantias foram do BANCO DO BRASIL, no limite da irresponsabilidade,  mas a gestão foi sempre dos GRUPOS SEM DINHEIRO que cevaram até a ultima gota, comeram a carne e entregam os ossos para quem? Para os credores, BNDES , BANCO DO BRASIL e fundos de pensão estatais.

    Gostaria de ver uma tese dos professores da PUC Rio sobre esse caso exemplar de privatização.

    1. Assim que deu o Golpe, Temer

      Assim que deu o Golpe, Temer pediu um tradutor para árabe, e agora com o Padilha trazendo às luzes a negociação da Oi, uma pulga atrás da minha orelha, um pulgão enorme, está a gritar que, se a gente ligar para a Oi, do outro lado quem atende o telefone já é o Temer. Na cara dura, mais uma patranha da Oi.

      1. Nada aver. Se vc quiser

        Nada aver. Se vc quiser procurar culpados pelo desastre da OI procure no PSDB que privatizou de forma irresponsavel “”no limite da irresponsabilidade” segundo Ricardo Sergio e no PT que mudou a Lei Geral de Telecomunicações para criar a OI e deu R$10,5 bilhões de dinheiro publico para forjar esse CAMPEÃO NACIONAL.

        O Temer não tem nada a ver com esse imbriglio que estoura nas suas mãos.

    2. Minoritário

      Os fundos e o BNDES entraram com toda a grana e o Daniel Dantas, minoritario, detinha o controle e a gestão, sob as benças de FHC e sua trupe. Muito estranho, que mesmo com o levantamento da tampa do esgoto da política nacional, o nome de Dantas ainda não apareceu.

  2. Pais dos trouxas e das bananas

    Tem um bilionário egípcio de olho na OI!

    De bobo ele não tem nada…

    Enxergou um governo GOLPISTA E CORRUPTO e sabe das PATRANHAS QUE SÃO FEITAS NO BRASIL COM DINHEIRO PÚBLICO!

    Privataria tucana, não o livro, mas as histórias de como foram feitas a privatização das teles DEVEM TER CORRIDO O SUB-MUNDO DOS NEGÓCIOS!

    É nisso que dá ser o primeiro país GOVERNADO EXPLICITAMENTE PELA CORRUPÇÃO!

    Basta chegar e o BNDES libera os ativos bons para quem ‘COMPRA” SEM GASTAR UM DÓLAR e “joga” para os contribuintes brasileiros a parte podre!

    Ninguem vai sair preso nesta operação?

    A única solução é achar um vínculo com petrobrás…

    Quem sabe parte do dinheiro dos doleiros não estava circulando na privataria?

  3. Incompetência e ladroagem privadas

    A Oi é mais um caso, desta vez gigantesco, a comprovar a falácia da superioridade da administração privada sobre a pública. Outro caso, a Light. Outro, ainda, a Samarco. Casos semelhantes há as dezenas. Na área privada brasileira, em verdade, não há competência administrativa e tampouco ética, mesmo que a discutível ética capitalista. Não temos capitalistas, mas ladrões oportunistas que roubam o Estado, consumidores e a sociedade. Desta vez são mais de R$ 60 bilhões.

    1. Só que a grana vem do BNDES

      A OI foi um produto da privatização de fancaria, feita com financiamento do BNDES. Ora, se entrou dinheiro público, então não houve de fato privatização, o Estado vendeu para si mesmo! Para dar certo, deveria antes ter privatizado o BNDES.

      Você está com saudades da TELERDA? Estatal boa estava aí! Foi um grande cabide de emprego para coronéis no tempo do regime militar, tanto que surgiu daí uma piada memorável: a TELERDA não expandia suas linhas porque tinha muito coronel e pouco cabo.

      1. A privatização das teles foi

        A privatização das teles foi conduzida pelos cerebros da PUC Rio que naquela epoca mandavam com exclusividade na politica economica e que hoje voltam sob o guarda chuva de Meirelles e Goldfajn. A mesma escola e a mesma teoria:

        “”è melhor privatizar nem que der de graça”, pois deram de graça e ai está o resultado.


  4. Não se fazem empresas campeãs por decreto. É preciso de um “dono” que queira se campeão, como Steve Jobs fez com a Apple.

    Essa foi uma idéia de idiota do PT. Mas as comissões, todas honestas, foram pagas.

    Idéia legítima que deveria ter sido descartada.

    Mercadante estava no meio né. Entende se.
    Mercadante é o Serra do século 21.

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