Professor sai escoltado de formatura após criticar Bolsonaro

Paraninfo da turma de comunicadores, o professor defendeu a liberdade de imprensa e repudiou ataques de Bolsonaro a jornalistas

Jornal GGN – O professor Felipe Boff, 40, saiu escoltado de uma formatura na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) após criticar os ataques de Jair Bolsonaro a jornalistas e à liberdade de imprensa.

Boff era justamente paraninfo da turma de formandos em comunicação, e teve o apoio de alunos de jornalismo e professores que participavam da cerimônia. A escolta foi proposta pela organização do evento, depois que dezenas de convidados começaram a vaiar o discurso contra o governo.

No vídeo, Boff aparece dizendo que a mensagem que deveria ser destacada naquela noite é que “quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem –estes que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece”, completou o professor aos presentes.”

Bolsonarista, o homem que fez a gravação do vídeo mostrou sua contrariedade: “Professor metendo o pau no presidente, estragando a formatura dos formandos. Que vergonha, olha o que esse cara está fazendo!”

Assista:

Redação

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  1. Leia a íntegra do discurso do professor Felipe Boff

    “A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem – mesmo aqueles que não acompanham as notícias – quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas – como se vê, estamos bem acompanhados.

    No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias.

    Querem exemplos? “É só você fazer cocô dia sim, dia não.” “Você está falando da tua mãe?” “Você tem uma cara de homossexual terrível.” “Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai.” É dessa forma chula e rasteira que o presidente da República, a maior autoridade do país, costuma responder aos jornalistas. Seus xingamentos tentam desviar a atenção das respostas que ele ainda deve à sociedade. Nos casos citados, explicações sobre o retrocesso da preservação ambiental no país, sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da hoje primeira-dama, sobre o esquema da “rachadinha” de salários no gabinete do filho hoje senador, sobre o envolvimento da família presidencial com milicianos.

    O presidente das fake news, que bate na imprensa cada vez que ela informa um fato negativo sobre ele e seu governo, é o mesmo que deu 608 declarações falsas ou distorcidas – quase duas por dia – ao longo de 2019. O levantamento é da agência de checagem Aos Fatos. Querem exemplos? “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo.” “Leonardo Di Caprio tá dando dinheiro pra tacar fogo na Amazônia.” “O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.” “Nunca teve ditadura no Brasil.”

    Em 2020, depois de completar um ano de mandato com resultados pífios na economia e desastrosos na educação, na cultura, na saúde e na assistência social, o presidente não serenou. Redobrou os ataques à imprensa. Aplicou o duplo sentido mais tosco à expressão jornalística “furo” para caluniar a repórter que denunciou a manipulação massiva do WhatsApp na campanha eleitoral. Atacou outra jornalista, mentindo descaradamente, para negar a revelação de que compartilhou vídeos insuflando manifestações contra o Congresso e o STF.

    E segue promovendo o boicote à imprensa, com exceção daqueles que aproveitam o negócio de ocasião para vender subserviência e silêncios estratégicos. Aos veículos que não se dobram ao seu despotismo, o presidente da República impinge pessoalmente retaliações financeiras diretas, pressão sobre anunciantes e difamação de seus profissionais. Pratica, enfim, toda sorte de manobras sórdidas para tentar asfixiar o jornalismo e alienar a população dos fatos. E já nem se preocupa em disfarçar suas intenções. Querem um último exemplo? Declaração de 6 de janeiro deste ano, dita pelo presidente aos jornalistas “Vocês são uma raça em extinção”.

    Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: “Não existe democracia sem jornalismo”.

    Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem – estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.

    Para encerrar, gostaria de citar o exemplo e as palavras do grande escritor e jornalista argentino Rodolfo Walsh. Precursor da reportagem literária e investigativa e destemida voz contra o autoritarismo e o terrorismo de Estado, Walsh pregava que “Ou o jornalismo é livre, ou é uma farsa, sem meios-termos”. Dizia também que “um intelectual que não compreende o que acontece no seu tempo e no seu país é uma contradição ambulante; e aquele que compreende e não age, terá lugar na antologia do pranto, não na história viva de sua terra”.

    Rodolfo Walsh foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina em 25 de março de 1977. Na véspera, publicara corajosamente uma “carta aberta à junta militar”, denunciando os crimes do sanguinário regime, que então completava apenas seu primeiro ano. Estas foram as últimas palavras que Walsh escreveu: “Sem esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido, mas fiel ao compromisso que assumi, há muito tempo, de dar testemunho em momentos difíceis”.

    Jornalistas, este é o nosso compromisso. Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez.”

  2. O fascismo é exatamente isso: usa a Democracia e a Liberdade para disseminar o ódio visando destruir a Democracia e a Liberdade. Os que pensam diversamente dos fascistas são eliminados pela violência.
    Será possível que as pessoas esqueceram o que houve na II Guerra Mundial ?

    1. Não há como esquecer o que não se viveu.
      Se o mal persiste no mundo com grande fascínio sobre os incautos é justamente porque os que ainda não o viveram não acreditam nele.

  3. Formandos organizam manifestação de apoio a professor vaiado em cerimônia de formatura de Jornalismo

    Em evento na Unisinos, paraninfo foi hostilizado por parte da plateia ao discursar sobre ataques à imprensa feitos pelo presidente Jair Bolsonaro

    09/03/2020 – 20h41min
    Atualizada em 09/03/2020 – 22h03min
    WILLIAM MANSQUE
    KARINE DALLA VALLE

    Com o objetivo de apoiar o paraninfo vaiado em discurso de formatura da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), realizada no último sábado (7), os graduados do curso de Jornalismo naquela cerimônia preparam para esta segunda-feira (9) uma manifestação em apoio ao professor hostilizado. Eles planejam publicar nas redes sociais, a partir das 21h, fotos individuais vestindo a camiseta de formatura da turma, que contém os dizeres “não existe democracia sem jornalismo”, além das hashtags #SomosTodosBoff e #NãoExisteDemocraciaSemJornalismo nas legendas.

    O apoio dos jornalistas recém-formados é para o professor Felipe Boff, que durante seu discurso foi vaiado e xingado. Ele foi escoltado por um segurança quando foi conduzir os formandos para fora do palco.

    Tudo ocorreu no Anfiteatro Padre Werner do campus São Leopoldo, na noite do último sábado, onde foi realizada a formatura conjunta de três cursos de Comunicação da Unisinos: Jornalismo, Fotografia e Comunicação Digital. Eleito padrinho dos 21 jornalistas formandos – turma mais numerosa da cerimônia –, Felipe Boff assumiu o microfone no fim da cerimônia. Em sua fala, ele criticou os ataques à imprensa proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro, citando falas do governante, além de mencionar a propagação de informações falsas nas redes sociais. O discurso, no entanto, desagradou parte dos convidados.

    – Logo no início do meu discurso, comecei a ser apupado por uma parte da audiência. No momento em que falei do levantamento da Fenaj (“No ano passado, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias”), comecei a sofrer ataques da plateia. Mandaram eu calar a boca e gritaram para encerrar o discurso – conta Boff. – Foram manifestações virulentas e antidemocráticas, ainda mais em uma formatura de Jornalismo. Não souberam escutar uma defesa dos graduandos.

    Um dos 21 formandos em jornalismo, João Rosa, 29 anos, assistiu sentado ao lado dos outros formandos ao discurso do paraninfo e ao momento em que o professor foi hostilizado. A cerimônia de colação de grau já havia ocorrido – ele já estava com seu diploma e o barrete na cabeça.

    — Começamos a ouvir frases do tipo “não estou aqui para isso”, “não paguei faculdade do meu filho para ouvir isso na formatura”. Começaram a ofender gratuitamente o professor, com comentários os mais chulos possíveis — aponta João.

    A formanda Natália Collor, 23 anos, classificou a atitude da plateia como uma falta de respeito. A jornalista, que recebeu seu diploma naquela noite, crê que as falas do presidente citadas no discurso deixaram o público incomodado.

    — Acho que as pessoas ficaram mais indignadas ao ouvir uma frase do presidente atrás da outra, pois são falas muito fortes. Creio que pelo fardo, eu imagino, de ter eleito alguém que é difícil — avalia.

    De acordo com João Rosa, os insultos partiram de familiares e demais convidados dos formandos, muitos situados na área VIP do saguão, em frente ao palco.

    — Eram mais aplausos e apoio do que vaias, mas o clima estava muito hostil. Quando começaram as vaias, nós, todos os formandos de Jornalismo, nos levantamos e o apoiamos — relata.

    Boff relatou que foi interrompido por duas ou três vezes durante seu discurso por conta das vaias, tendo que erguer o tom de voz. Professores e coordenadores se levantaram e se posicionaram ao lado do paraninfo para que ele prosseguisse com sua fala.

    — Entendo que possa ter incomodado familiares e amigos dos formandos, mas era um discurso que precisava ser dito, principalmente, para mães e pais de formandos de Jornalismo — explica.

    A reportagem tentou o contato de diferentes formas com pessoas que discordaram do discurso e vaiaram, mas não houve retorno.

    Escolta
    Boff conta que, na saída, a organização da cerimônia orientou que um segurança o acompanhasse, pois ele circularia no meio do auditório na tradicional condução dos alunos do palco para do auditório. O paraninfo passaria pelo meio do público, o mesmo que o xingou.

    — Na hora, não achei necessário, mas entendi a parte da instituição — assente.

    Na área externa do auditório, onde os formandos costumam recepcionar amigos e familiares, havia três seguranças ao redor de Boff, praticamente o escoltando de forma velada. Ele conta que costuma ter um contato com os formandos nessa área, parabenizá-los, mas dessa vez optou por não ficar por ali por muito tempo.

    — Achei melhor ir embora, pois não queria causar nenhum transtorno ou gerar algum incômodo. Já estava satisfeito, meu recado já tava dado — diz o professor.

    Mensagem
    Para a formanda Natália Collor, era esperado que o discurso do paraninfo defendesse os direitos da profissão – até por conta da atuação acadêmica de Boff.

    — O público dizia coisas como “Fala dos teus afilhados, não queremos ouvir sobre a politica”, mas era justamente o que a gente esperava dele. Era o que aquelas pessoas precisavam ouvir. Era o que a minha mãe precisava ouvir, para saber onde eu estava entrando — destaca a jornalista.

    Boff relatou em seu perfil no Facebook o episódio, além de anexar seu discurso. O texto circulou pela web e repercutiu nacionalmente, recebendo apoio de jornalistas de diferentes cantos do país.

    Posicionamentos
    Em comunicado, a Unisinos ressaltou a independência de expressão dos paraninfos nas cerimônias. Leia a nota na íntegra:

    Como instituição suprapartidária e defensora dos princípios democráticos, a Unisinos, cumprindo seu papel de universidade, respeita as mais diversas posições, constituindo-se como um espaço em que se preserva e se estimula a pluralidade de ideias.

    Sendo assim, a Universidade esclarece que, nas cerimônias de colação de grau, os professores escolhidos pelos alunos para representá-los como paraninfos têm o direito de fazer uso da palavra e liberdade para se expressarem conforme suas convicções pessoais.

    O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) manifestaram em comunicado solidariedade ao paraninfo:

    “O Sindjors e a FENAJ repudiam toda e qualquer forma de ataque à liberdade de expressão e de pensamento, ainda mais dentro de uma instituição de ensino. A ação ocorrida na Unisinos representa uma intimidação à atividade profissional e é condenável”, diz a nota.

    No horário combinado, os formados tuitaram fotos e mensagens de apoio ao paraninfo:
    https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2020/03/formandos-organizam-manifestacao-de-apoio-a-professor-vaiado-em-cerimonia-de-formatura-de-jornalismo-ck7kze6qg02tl01oav9jf1704.html?fbclid=IwAR119uE42N3GG3EfGOvUeLtke2Zz9XxV9J2up3UF63yEHz_SScsmcfTkDd4

  4. O que mais impressiona é o nível de alienação destes convidados que vaiaram o professor que simplesmente expôs fatos reais ocorridos nos últimos meses, desde que o Cachorro Louco assumiu a presidência. É assustador como a imbecilidade e a idiotia tomaram conta de grande parte do povo deste país.

  5. Muito feliz em ver jovens jornalistas de pé e contra a obtusidade e estupidez de parte da plateia, em defesa da pertinente crítica-advertência do professor-paraninfo. O jornalismo atual está carcomido, mas desponta promissora geração de profissionais Brasil à fora.

  6. “Bolsonarista, o homem que fez a gravação do vídeo mostrou sua contrariedade: “Professor metendo o pau no presidente, estragando a formatura dos formandos. Que vergonha, olha o que esse cara está fazendo!””

    Quem estragou a festa dos formandos foram OS BURROS COMO VOCÊ, ESTÚPIDO IDIOTA.
    O professor estava certo no discurso, estava justamente defendendo a liberdade de expressão dos formandos em JORNALISMO e de todas os cidadãos.
    E os PROFISSIONAIS DO JORNALISMO, infelizmente, foram OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS pela DESGRAÇA QUE HOJE ASSOLA NOSSO PAÍS ao não saber avaliar as consequencias que adviriam do golpe parlamentar de 2016 e as mentiras que contam desde 2004.

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