Protestos apontariam para o amadurecimento político

Por Iron de Andrade

A emergência da “Classe C” e do ME nas ruas do Brasil

Por  , Do Brasilianas.org

Os movimentos sociais explosivos no Brasil dos últimos dias parecem revelar a emergência de atores sociais “novos” e com referência partidária incerta, abrem e pela porta da frente o processo de amadurecimento político de um segmento do proletariado que vem sendo denominado de “Classe C” acompanhado do seu velho aliado das ruas e das lutas, o movimento estudantil.

O que é surpreendente é que estes velhos atores batem à porta de um Brasil onde há uma “velha esquerda” (nem tão velha, 30 anos) que parece não reconhecê-los mais. Diria esta esquerda trintona -Quem são vocês? Surpreendentemente quem “criou” este novo interlocutor, ou melhor este velho interlocutor que nos chega sem avisar, foi esta própria esquerda que, com as suas políticas de ampliação de renda e de democratização do acesso à educação, trouxe da noite da miséria uma nova “classe média”, (na verdade emancipou um tanto mais o velho proletariado).

Dois fatos importantíssimos devem ser considerados:

O primeiro é que tais movimentos, que eclodiram Brasil à fora deflagrados pelo aumento dos transportes urbanos e que têm frágil referencial partidário, se alinham mais à nova dupla PSTU/PSOL do que à tradicional dupla PT/PC do B, polarizada, esta última pelo exercício do poder do Estado e por uma nova e importante responsabilidade gestora da coisa pública. Enxergamos assim, o que é alvissareiro para o processo democrático que se desenha no longo prazo, que está em plena efervescência uma nova germinação política de natureza popular e democrática decorrente de um processo de emancipação do proletariado que é criatura das ações políticas e econômicas consolidadas pela própria esquerda. Este novo velho interlocutor, entretanto, se encontra no enfrentamento das ruas com as práticas fascistas da velha direita brasileira. Engrossam, portanto, o campo do nosso lado e lidam com os velhos demônios enfrentados pela esquerda trintona, quarentona e cinquentona. Portanto temos que dar as boas vindas às novas fileiras que descem às ruas acompanhadas do velho Movimento Estudantil.

O segundo aspecto é que há necessidade de que, no arco longo, as forças que detém alguma representatividade política no seio deste movimento, (PSTU/PSOL + ME) e aquelas que detiveram representatividade nos movimentos das ruas que nos trouxeram até aqui (PT, PC do B e sindicatos), estabeleçam alguma agenda convergente para que este novo movimento possa ser mais um vetor de sustentabilidade do processo de democratização e de ampliação do Estado atualmente em curso, num momento em que sofre fogo cerrado da direita, como ilustra a ferocidade das ações da polícia comandada pelo PSDB paulista.

Me parece que a hora é de desfraldar nas ruas as bandeiras dos partidos da “nova” e da “velha” esquerda, é hora também das igrejas caminharem em defesa dos direitos humanos desrespeitados na via pública, é hora da CUT, dos sindicatos e da OAB acompanharem o movimento estudantil. Não se trata de um alinhamento ao movimento, mas ao direito à manifestação, conforme estabelece a Constituição.

Este movimento reivindicatório deve agregar às suas justas bandeiras econômicas, (desta feita o preço das passagens), à da reforma política, à da mídia democrática, à de uma polícia cidadã e à de um país mais justo. Quando isto ocorrer esta muito importante etapa iniciática terá sido vencida pela incorporação do novo movimento ao campo de batalha das velhas lutas. Ao mesmo tempo a velha esquerda deve entender que o povo nas ruas é prova de que precisa rejuvenescer-se, pois perdeu o contato com a realidade e corre o risco de tornar-se senil. 

A boa engrenagem é trazer a nova esquerda para as velhas lutas e trazer a velha esquerda para o que é fundamental, (conforme artigo André Borges Lopes). Estes dois movimentos são cruciais porque dado o frágil referencial partidário do movimento, está aberto pela direita um “leilão” (de potencial viés fascista) para definir qual será o seu uso na macropolítica. A direita, embora desmoralizada pelo manejo da repressão policial nos moldes da ditadura já tenta incorporar ao movimento as suas bandeiras. Alinhar o movimento aos seus próprios interesses estratégicos de maneira que o micro e o macro se acomodem e que o processo de democratização saia fortalecido é o que permitirá o fortalecimento da esquerda em sentido amplo, possivelmente com o crescimento do referencial político do PSOL e PSTU sobre quem repousa agora uma nova responsabilidade. 

Luis Nassif

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