Quem é e o que pensa a primeira brasileira eleita para o Parlamento da Espanha

Militante dos direitos humanos, Maria Dantas é advogada e se define como "antirracista, antifascista e antimachista", do Brasil de Fato

Brasil de Fato

Por André Costa Branco | Barcelona (Catalunha)

Eleita no último domingo (28), Maria Dantas é a primeira brasileira a ocupar um cargo no Parlamento da Espanha. Representante da Esquerda Republicana da Catalunha, após mais de 20 anos de ativismo em movimentos populares, ela atua como defensora dos direitos humanos e tem como pauta prioritária o combate às ideias de extrema direita.

Durante a comemoração da vitória eleitoral, a parlamentar vestia uma blusa estampada com o rosto de Marielle Franco (PSOL), vereadora assassinada em 2018 no Rio de Janeiro (RJ). “As pautas de Marielle são universais e estarão no Congresso da Espanha. Não só na Espanha, mas em toda a Europa”, declarou a deputada, que se diz contrária ao governo Jair Bolsonaro (PSL): “Eu, brasileira, antirracista, antifascista, antimachista, anti-islamofobia, anti-LGBTfobia, nordestina, cabra da peste, vou colocar minha peixeira no meio dos dentes e repercutir as atrocidades que esse governo neofascista está cometendo no Brasil, com o povo preto, pobre e subalternizado”.

Natural de Aracaju (SE), Dantas é advogada e chegou a Barcelona há 25 anos para realizar estudos em Direito Ambiental, Filosofia Jurídica, Moral e Política, além de Finanças, sua área de trabalho atual. Ela sentiu na pele as dificuldades da vida de imigrante na Europa, o que estimulou ainda mais sua militância política.

Integrante da Unidade Contra o Fascismo e o Racismo (UCFR), plataforma que congrega mais de 600 coletivos de incidência política, a deputada eleita participa de organizações como Stop Mare Mortum, Emergência Fronteira Sul, Coletivo Tras la Manta, Plataforma Brasileiras contra o Fascismo de Barcelona, Conselho de Cidadania do Brasil em Barcelona, entre outras.

“Nesses 20 anos, com todas as minhas companheiras e companheiros, o trabalho que fizemos foi o de ‘empurrar’ as instituições”, conta Dantas, que entra na política institucional após ter recusado cinco convites do partido. “Agora é o momento, principalmente porque a extrema direita está entrando no Congresso espanhol pela primeira vez desde a redemocratização, como aconteceu no Brasil”, explica.

Entre as propostas que pretende defender no Parlamento, estão o fim da Ley de Extranjería, que regula a entrada de estrangeiros em território espanhol, bem como o fechamento dos centros de internamento de imigrantes. “Estas pessoas nunca cometeram nenhum tipo de crime e são presas pela sua condição de imigrante”, relata. “Vamos lutar pela adoção de vias seguras para que as pessoas saiam dos seus países e possam legalmente entrar na Europa, que se diz pró-direitos humanos, mas deixa pessoas mortas no Mar Mediterrâneo. Migrar é um direito que tem que ser respeitado”, defende a deputada.

O atual presidente Pedro Sánchez (PSOE), foi considerado o maior vencedor das eleições legislativas na Espanha, embora ainda tenha desafios para formar o governo. Ele obteve mais que o dobro de cadeiras que o conservador Partido Popular, que sofreu uma derrota histórica. Na Catalunha, o partido mais votado foi a Esquerda Republicana, de Maria Dantas, fortalecendo o bloco pró-plebiscito pela independência da Catalunha no poder.

O embate, que deverá esquentar nos próximos meses, é apenas mais um na trajetória da deputada recém-eleita, que recorda as palavras de Marielle: “Nas instituições, nos parlamentos, tem que ter mulher, preto, pobre, indígena, sapatão, o diabo a quatro! Temos que tomar conta das instituições para ver se de uma vez por todas as políticas públicas sejam de caráter social”, finaliza.

Edição: Daniel Giovanaz

Redação

2 Comentários

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  1. Enquanto brasileiros emigrados estão nos parlamentos nacionais de Itália e Espanha, a imprensa brasileira dá importância a uma brasileira direitista que foi eleita representante em um condado na Flórida.

  2. Já imaginaram, se possível, uma generala assim por aqui? Esse país seria respeitado no mundo, mas…., Essa sim é cabra macha, sô!!

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