Recordações do jornalismo, por Antonio Machado

Por Antonio Machado

Comentário ao post “Os empresários e a OBAN

Meu amigo, mas que memória prodigiosa a sua. Tivemos nossos grandes momentos naquela época, quando os bichos falavam e os bem-postos na vida colaboravam com a omissão a dificultar a vida dos que julgavam ameaça-los. Fizemos nosso trabalho e tivemos o reconhecimento, que, tristemente, não acompanhou as nossas antigas tribunas. Mas o país melhorou, o empresariado (assunto deste post) evoluiu, os problemas são outros, e menores, olhando-se para trás.

O importante é a perspectiva histórica. Antes, a denúncia do falso progresso, dos tamboretes que viviam da inflação e dos empresários insustentáveis sem os favores oficiais, provavelmente os que temiam o ambiente democrático mais que a revolta dos jovens contestadores – álibi para a repressão e a conservação do status quo.

Tudo isso você acompanhou muito bem, e desvendou sempre que teve o apoio para ferver a sua veia de repórter. Não é por menos que você continua prestigiado e tantos se perderam na poeira. Às vezes tento entender o que levou jornais que foram grandes, quando teria sido mais fácil aceitar a ordem vigente – como alguns aceitaram –, se tornarem grandes jornais pequenos. Mas isso fica para outro dia.

Deixo minhas saudades dos sambões de fundo de quintal e da falta de jeito no pandeiro, acompanhando-o no cavaquinho em sessões etílicas do Alemão. Numa delas você me deixou com o Cartola ébrio, sem saber aonde ir, dia nascendo. Levei-o para casa. Acordou à tarde, indagou onde estava, pediu-me para chamar um taxi até Congonhas e dedicou-me e a minha mulher um verso, pensado na hora, que o tempo apagou.

Do Atalla também tive minhas histórias, quando estava no Estadão e me cabia reportar a sua ascensão e queda com crédito oficial e mão de ferro no comando da Copersucar. Tentou-me aliciar e depois, sem sucesso, a ameaçar. Outra figura deplorável daqueles tristes tempos.

Continue com o seu entusiasmo. É o que nos move e revigora.

Abs. do amigo. Machado

Luis Nassif

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