Sobre “refundação” de partidos

Coluna Econômica

Governadores eleitos do PSDB reuniam-se com o senador mineiro Aécio Neves para discutir a chamada “refundação” do partido.

Alguns governadores sugeriram que o PSDB buscasse se aproximar do povo, formasse uma militância, perdesse a faceta elitista, se aproximasse dos sindicatos, definisse um programa social amplo, que pudesse ser sua marca. Aí ele passaria a se chamar PT, não mais PSDB.

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OgraO grande dilema do partido foi jamais ter definido adequadamente seus programas e sua ideologia. No começo, atraiu vastas fatias de classe média, de intelectuais, de novos políticos dispostos a combater a velha política – do clientelismo.

Nessa frente, cabia o pensamento desenvolvimentista herdado do velho ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), personificado principalmente no ex-Ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. Cabia também um desenvolvimentismo pragmático – representado pelos irmãos Mendonça de Barros. Cabia uma escola de pensadores políticos de centro-esquerda, como Bolívar Lamounier, Gianotti. A militância era impulsionada por um conjunto de senhoras de fibra – como Wilma Motta e Ruth Cardoso. E a “alma” do partido garantida por algumas figuras políticas referenciais, como Franco Montoro, Mário Covas e Sérgio Motta, todos formados na luta contra a ditadura.

Nas últimas eleições todo esse modelo havia se esfacelado. E a cara do partido virou José Serra – com um discurso errático, distante dos prefeitos e da militância.

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E daqui para frente?

O primeiro passo é não imitar o PT, senão, para quê votar no PSDB? Para tanto, terá que renovar seu estoque de lideranças e de intelectuais, atrair cientistas sociais e políticos com capacidade para antever as demandas populares não de agora – porque estão atendidas pelo PT -, mas daqui a quatro, oito anos.

Bolsa Família, novo salário mínimo, mudanças estruturais, geraram uma nova classe dos incluídos economicamente, extremamente gratos a Lula e ao PT. Daqui a quatro anos estarão com novas demandas. Haverá uma nova geração de pequenos empreendedores loucos para crescer, esbarrando em programas burocráticos, falta de ambiente econômico adequado.

Este será um dos campos de batalha – para o qual, aliás, o futuro governo Dilma está atento, com a proposta de criação de um Ministério da Pequena e Micro Empresa e de reformas na máquina do Estado.

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Quando presidia o partido, o deputado José Aníbal me convidou para a palestra de abertura em um encontro de prefeitos em Brasília. Pediu-me que falasse genericamente sobre como partidos poderiam se organizar utilizando as modernas ferramentas de Internet e de gestão. Minha sugestão na época (falando genericamente sobre partidos):

1. Montar uma rede pela Internet, com ligações com todos os municípios. 

2. Selecionar as melhores experiências de gestão nas prefeituras controladas pelo partido. 

3. Selecionadas, montar um “pacote de governança”. As experiências seriam certificadas, padronizadas. Seriam desenvolvidas ferramentas, multiplicadores, capazes de aplicar o pacote na maior parte das prefeituras. 

4. A partir daí, se desenvolveria um modo de governar que serviria de base para a reconstrução da imagem do partido. 

Luis Nassif

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