TV GGN 20h: A última aposta de Bolsonaro no golpe e o caso Walter Delgatti

Nassif conversa com Joaquim de Carvalho, o jornalista que fez a entrevista com o hacker Walter Delgatti. "Ele (Delgatti) está no terceiro ano de Direito e é um cara inteligente, sem dúvida nenhuma", diz Carvalho.

O programa começa apresentando os dados de covid-19 no Brasil: a média de óbitos chegou a 1.034, com crescimento em oito Estados, estabilidade em 16 Estados e queda em três Estados. Acre e Rio Grande do Norte apresentou pico de casos no dia 15/02, enquanto o pico de óbitos foi apurado em Roraima e Rondônia no dia 16 de fevereiro.

Sobre o caso Delgatti, Nassif diz que a entrevista “foi um marco, e abriu um campo que estava contido pela maneira muito criteriosa de exposição dos dados (…) “Hoje, tem advogados em Brasília que estão entrando com vários pedidos de jornalistas solicitando ao Supremo a abertura por conta de interesse nacional”.

Nassif conversa com Joaquim de Carvalho, o jornalista que fez a entrevista com o hacker Walter Delgatti. “Ele (Delgatti) está no terceiro ano de Direito e é um cara inteligente, sem dúvida nenhuma”, diz Carvalho.

“Desde o primeiro contato que tive com ele, achei uma pessoa muito inteligente. Também verifiquei que, de fato, ele está vivendo com a avó (…) Se ele tivesse feito isso por algum outro interesse, ele teria uma vida mais confortável e, efetivamente, ele não tem”, explica Carvalho.

“Quando eu fiz aquela conversa preparatória para a entrevista, vi que é uma pessoa que responde qualquer pergunta e me parece que, de fato, ele é movido por uma vaidade”, diz Carvalho. “Ele sabe que ele, sendo um cidadão do interior de São Paulo, não imaginava que hoje fizesse parte da história, e ele me parece muito satisfeito com isso”, afirma o jornalista.

Sobre as conversas registradas entre Deltan Dallagnol e o ministro Luis Roberto Barroso, Carvalho diz: “Ele (Delgatti) fala: são conversas impróprias para um procurador e um ministro da Suprema Corte. E ele (Delgatti) diz que ele (Barroso) realmente usava, era um orientador. E isso era um problema grave – isso é a mesma coisa que o Moro fazia”, diz Carvalho.

“Os casos que estavam sob apuração em Curitiba bateriam no Supremo, certamente, e a gente sabe que isso é vedado. O juiz não pode orientar nenhuma das partes, não pode dar essa consultoria. Isso torna o ministro suspeito. A partir dessa revelação, o Barroso tem que se declarar suspeito nos casos da Lava-Jato”, diz Carvalho. “A rigor, ele deveria fazer isso”

“Quando ele (Delgatti) fala das conversas impróprias, ele não avança – ele fala do conteúdo, mas não entra em detalhes. Ele fala que são conversas impróprias, mas não entra em detalhes”, diz Joaquim de Carvalho.

“Hoje, eu entendo que essa relação que existe entre o Barroso e o Deltan Dallagnol precisa ser esclarecida (…) Se há alguma motivação pessoal, ele se torna um juiz que não pode atuar no caso. E, se efetivamente ele prestou essa consultoria, isso o impede de analisar qualquer caso da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal”, diz o jornalista.

Sobre o comportamento da Polícia Federal, Nassif que dois movimentos chamaram a atenção: “primeiro, vazamentos tentando comprometer o Glenn Greenwald e, depois, uma posição do delegado em que ele convoca a imprensa e diz que não houve pagamento pelos dados”

De acordo com Carvalho, “o advogado (de Delgatti) intimou o Moro, ele teve que prestar depoimento como testemunha no processo, justamente porque o advogado tem certeza de que o Moro interferiu na investigação. Isso ele tem certeza”

“Com relação ao Zampronha (Luiz Flávio Zampronha, delegado da PF que convocou a imprensa), ele também foi intimado a depor como testemunha no processo que está tramitando na 10ª Vara Federal de Brasília”, diz Carvalho.

“O Zampronha negou que tivesse tido contato com o Moro, e o Moro disse que possivelmente teve contato com ele, pois ele falava com diversos delegados. O que diz o Delgatti: quando ele foi prestar depoimento, ele via que o delegado Zampronha conversava com alguém, e ele suspeita que seja o próprio Moro”, explica o jornalista.

“Então, se você ligar isso ao que disse o advogado, você tem mais um indício de que esse processo, essa própria investigação deveria ser anulada”, afirma Joaquim de Carvalho. “O Moro é supostamente uma vítima. Então, ele não poderia nunca ter conduzido ou, mesmo como ministro da Justiça, interferido na investigação”.

“O advogado (de Delgatti) toca muito nesse ponto: o Moro declarou – tem um ministro do STJ que falou ‘o Moro me ligou e disse que viu as mensagens e que elas vão ser destruídas’. Então, significa que o Moro teve acesso a essa investigação. Então, essa investigação é nula pois uma vítima não pode conduzir uma investigação, e ela é autoridade como ministro da Justiça (…)”, pontua Carvalho.

“E outra coisa: o que fica muito claro (na conversa com Delgatti e o advogado) é que ele tem plena consciência e que, de fato, você percebe que os hackers, o Delgatti, está sendo alvo de uma ação do Estado para intimidá-lo”, afirma o jornalista.

Joaquim de Carvalho diz que, tanto na visão de Delgatti quanto de seu advogado, foi tudo conduzido por Sergio Moro. “O Delgatti, ele acha que foi descoberto depois da viagem do Moro para os EUA, e que ia visitar a CIA. Depois que ele (Moro) foi para os Estados Unidos e demorou para voltar, ele falou: ‘eu mesmo pensei, eles vão me prender'”, diz.

Sobre o grampo encontrado na cela de Delgatti, Carvalho diz que foi ele mesmo que pegou. “Ele pegou, foi ele mesmo que pegou (…) O advogado disse: não há ordem judicial, não encontrou em processo (…) “Ainda que houvesse, há uma discussão se pode colocar ou não escuta ambiental dentro da cela, que seria a própria residência do preso (…) E aí remete ao que aconteceu no início da Lava-Jato com o Youssef”

“Você não vai melhorar o país com métodos ilegais, muito pelo contrário”, diz Carvalho. “Você vai gerar núcleos extremamente poderosos, que vão poder fazer qualquer coisa. Então, não pode ser admitido nenhum tipo de ação ilegal dentro de um processo”.

“O que aconteceu com o Delgatti que, na minha opinião, é o mesmo modus operandi da Lava-Jato, tem que ser absolutamente afastado, rejeitado, rechaçado por toda a sociedade”, diz o jornalista.

“O Moro tinha dois projetos, mas os dois que, de fato se combinam – e ele colocou um pé em cada projeto: um dos projetos era se fortalecer junto a bancas de advocacia do Brasil e de fora do Brasil”, diz Carvalho, ressaltando a existência de “vantagens de delação, muitas vantagens para advogados”.

“E nós sabemos que um dos advogados que mais fez delação, que é Antonio Figueiredo Basto, foi denunciado porque recebeu dinheiro para oferecer proteção dentro das investigações decorrentes do Banestado durante cinco anos”, explica o jornalista.

“Eu diria que a Lava-Jato queria grandes casos. O caso começou em 2006, lá atrás eles estavam atrás de grandes réus, vamos chamar assim, de réus poderosos. Fossem doleiros, fossem empresários. Eles estavam procurando tudo, e depois ‘vamos bater na Petrobras’. Eles queriam esses grandes casos, que interessam muito a grandes bancas de advogados – isso tem que ser apurado, não estou fazendo nenhuma acusação aqui, mas isso tem que ser apurado porque interessa a grandes escritórios”, afirma o jornalista.

“O segundo movimento, eu acho que decorreu da ambição política do Moro, que é um projeto de poder efetivamente. Ele já tinha feito isso no âmbito do Paraná, tinha se chocado com alguns grupos políticos lá, adquirido musculatura política, e depois vai fazer isso no nível federal (…) Eu acho que aí é o segundo braço da Lava-Jato. Um, que tem que ser investigado, é a questão dos escritórios de advocacia, que são empresas milionárias aqui e no Brasil. A indústria do compliance. O outro é o projeto político”

Segundo Joaquim de Carvalho, “o Moro colocou o pé no projeto político quando virou ministro, e tinha lá um projeto de ser da Suprema Corte. Talvez até como passagem, pois penso que ele sempre esteve de olho na Presidência da República”.

“A Lava-Jato entrou em um grande esquema político, mas ela, na verdade, nasceu desde 2006 para pegar, eu diria, alvos que pudessem de alguma maneira interessar a grandes escritórios de advocacia”, ressalta o jornalista.

Redação

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