Unasul cria ‘think tank’ de Defesa da América do Sul

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Mcn

A criação da Escola Sul Americana de Defesa foi um dos importantes resultados da último encontro da Unasul em Quito, na semana passada. Há outros, mas a grande mídia fez que não viu.

Do Blog Difrente Pero no Mucho

Por que um evento que reúne chefes de Estado de toda a América do Sul e discute integração regional não é notícia?

Enquanto a TeleSUR transmitia ininterruptamente as falas e o ato cultural que marcou a inauguração da sede da Unasul na tarde desta sexta-feira (05/12), a GloboNews transmitia entrevista com a ex-candidata à presidência pelo Psol Luciana Genro e o principal telejornal do país, o Nacional, da mesma Rede Globo, ignorou solenemente a reunião realizada no Equador e que reuniu mandatário e representantes dos 12 países sul-americanos.

Por Vanessa Martina Silva

Neste sábado (07/12), a capa dos jornais destacam o suposto esquema de corrupção da Petrobras e não há, com exceção do Estadão, nenhuma menção à Cúpula da Unasul.

Ouça o programa América Canta da Rádio Maíz: Ouvidos Abertos aos Sons da América Latina:

O jornal paulista traz apenas a seguinte menção:  “Petróleo cai e Venezuela pede ajuda à Unasul”. Texto semelhante foi veiculado sobre Dilma: “Em Quito, Dilma continua culpando a ‘crise internacional’ pelos problemas no Brasil”, como veicularam o site da revista Veja e o Estadão online. Também na internet, outros portais deram matérias isoladas com declarações de um ou outro presidenciável, de forma descontextualizada e sem enfoque nas medidas ou questões que estavam em pauta no encontro. Por quê?

Uma reunião com presidentes de todo o continente não é importante? Se estivesse presente o mandatário dos Estados Unidos, da Alemanha ou França a cobertura seria diferente? Quando a discussão foi na Europa e foi aprovada a cidadania europeia a apatia foi semelhante? E quando foi criada a sede da ONU?

 Divulgação/ Twitter

Néstor Kirchner foi o primeiro secretário-geral da entidade e um dos impulsionadores da integração sul-americana| Foto: Divulgação/ Twitter

O processo que permitirá aos cidadãos sul-americanos estudar e trabalhar em qualquer país da região ainda não tem data para ser definido, mas a sinalização do estabelecimento da livre mobilidade para os cerca de 400 milhões de habitantes que vivem nos 12 países que compõem o bloco e a adoção da chamada “cidadania sul-americana” é suficientemente importante para merecer algumas análises e destaques por parte de nossa imprensa.

De acordo com o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, o passaporte sul-americano seria similar ao Schengen da União Europeia. A partir dele, os sul-americanos poderão estudar, trabalhar e homologar títulos profissionais na região.

Por que então a apatia?

Além da cidadania sul-americana, os presidentes do bloco também aprovaram a criação de uma escola técnica de coordenação eleitoral e da Escola Sul-Americana de Defesa.

 Agência Andes

Edifício Néstor Kirchner tem 1.500 metros quadrados e empregou mais de 700 pessoas durante a construção| Foto: Agência Andes

A unidade técnica de coordenação eleitoral visa fortalecer o papel da Unasul nas missões de acompanhamento de eleições no subcontinente e profissionalizá-las, estabelecendo um padrão de observação e reconhecendo o papel fundamental que o organismo tem na defesa da democracia na região.

Já a Escola Sul-Americana de Defesa é uma antiga demanda e tem como objetivo fazer frente àEscola das Américas, criada pelos Estados Unidos e que formou muitos dos militares que participaram, nos anos 1960-1980, das ditaduras militares que foram implementadas na região. Ela ainda está em atuação.

A escola regional, no entanto, será um centro de altos estudos responsável pela articulação das diversas iniciativas dos países-membros do Conselho de Defesa da União de Nações Sul-Americanas (CDS/Unasul) de capacitação de civis e militares na área de defesa e segurança regional, com cursos compartilhados e troca de experiências de defesa, como explicou a presidenta brasileira, Dilma Rousseff, em entrevista a jornalistas após a Reunião de Cúpula da Unasul.

Ouça a íntegra da entrevista concedida por Dilma a jornalistas:

inauguração da nova sede da Unasul, considerda histórica por Samper, marca também o novo papel e o novo momento da organização a partir da nomeação do ex-presidente da Colômbia ao cargo.

Após um breve período de protagonismo regional durante a gestão de do ex-mandatário da Argentina e primeiro secretário-geral do bloco Néstor Kirchner, que ao lado do líder venezuelano Hugo Chávez e brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais impulsionadores da integração regional, a iniciativa caiu em um período de inércia devido ao fato de que o secretário-geral Alí Rodríguez Araque que ficou à frente do organismo regional de 2012 a 2014 ficou gravemente doente e, portanto, impedido de levar o processo adiante.

 Unasul

Para Samper, a cúpula deve marcar a consolidação da Unasul como liderança regional| Foto: Unasul

Samper, no entanto, tem se empenhado para retomar a importância da Unasul. Durante o encontro, propôs uma agenda com diversos pontos para serem avaliados pelos mandatários do bloco e considera que é fundamental dar sequência aos projetos considerados prioritários pelo Cosiplan (Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento).

Entre esses projetos estão: a instauração de um banco de preços de medicamentos, viabilizando a melhor compra possível pelos países do bloco; a criação de um fundo para bolsas de estudo entre os países do bloco, tendo a ciência e tecnologia como questão fundamental; o estabelecimento de cooperação na gestão de riscos de desastres naturais, a exemplo do Cemaden no Brasil; e discussão sobre a possibilidade de abertura do espaço aéreo dentro da Unasul.

Nada disso foi considerado importante pela imprensa tradicional do país.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. esse cds é importante

    esse cds é importante justamente para implantar uma nova

    mentalidade na área de segurança para a região….

    é claro que a grande mídia representante dos entulhos autoritários cala-se

    diante de uma novidade como essa.

  2. Não é noticia porque foi

    Não é noticia porque foi fundado e transformado em um clubinho de fracassados ressentidos com a desvantagem tecnoligica ante o primeiro mundo e mesmo a paises que são de esquerda ( China ) ja foram ( Russia ) mas nao tinha´palhaços no governo que só sabem falar falar e falar.

    Só isso.

    Essas naçoes juntas do ponto de vista militar em scala de importancia é quase igual a zero.

    Se falarmos em capacidade tecnica para desenvolvimento de tecnologia ( exceto o Brasil que tem potencial para desenvolver algo assim ) a coisa fica pior ainda.

    Enfim o que esses caras fazem nao passa de acordos de cumadre sem valor alguma que nao seja o da retorica.

    Ate poderia sair algo decente ou digno de nota disso tudo, mas para isso é necessario desarmar o picadeiro feito pelos bolivarianos…

  3. Tem explicação o silêncio

    Tem explicação esse silêncio. Deve-se ao fato de quando qualquer dessas medidas (importantíssimas) serem implantadas dar-se-á como uma tentativa de golpe bolivariano que pega a todos de surpresa. Mais uma bomba midiática. simples assim.

    Quanto ao Leônidas, me parece um pouco míope a visão dele. Como se o que está menor não possa ficar maior justamente por usar da união entre esses povos. Não me consta que a Rússia, China, Japão e EUA dentre outras nações tenham nascido com o desenvolvimento tecnológico que possuem hoje. Estamos construindo uma América latina maior e melhor e com isso um mundo melhor também. Estamos no começo e o Leônidas com o pessimismo dos preguiçosos.

    1. A UNASUL é uma ideia dos

      A UNASUL é uma ideia dos paises anti-americanos da America do Sul, a patota que a dirige é bolivariana, ao Brasil cabe um papel de coadjuvante incrivelmente demonstrado pela não indicação de NENHUM brasileiro para cargo de direção, entre NOVE que lá passaram, sendo um palanque e não uma entidade para realizar programas, de lá nada sairá a não ser HOMENAGENS com e sem placa, MEDALHAS, TROFEUS, PREMIOS, DISCURSOS CONTRA O IMPERIALISMO, agora com a

      volta de Cuba à orbita americana devem estar desorientados, Cuba é o Vaticano dos bolivarianos, é como se o Papa virasse mussulmano.

  4. UNASUL
    Lamentavelmente não estamos dando importância a essa Quadrilha Bolivariana.
    Estamos criando cobra venenosa ainda com 4 anos de mais de corrupção.
    Dilma, a “bruxa”, queremos vê-lá na Papuda.

  5. Até hoje  nâo sei qual  a

    Até hoje  nâo sei qual  a real função da TV BRASIL. Será que foi criada para dar emprego em vez de mostrar realmente o que o governo faz, principalmente com um  jornal televiso  com um minimo de 1 hora , no horário do JN ( ou não querem tirar audiência da grobo) mas com qualidade. Mostrar o que acontece nos quatro cantos do Brasil, com comentários – 

    1. Se voce nao sabe qual a

      Se voce nao sabe qual a função, entao talvez tenha sido feita pra mim, assisto sempre por vota de 5 da tarde, e 7 da noite, e muito mais nos fins de semana, é muito legal . . . . recomendo . . . .

  6. EXAME DA MÍDIA

    terça-feira, 4 de novembro de 2014

    Cortar publicidade governamental da Veja é um tiro no pé

    Foto da Plataforma “Muda Mais”, da campanha de Dilma Rousseff

    Segundo o blog Conversa Afiada, o Governo Federal cortou a publicidade dirigida à revista Veja, o que significa menos recursos para a principal revista da Editora Abril.

    A notícia ainda não foi confirmada por outras fontes e o texto publicado no blog de Paulo Henrique Amorim não deixa claro qual tipo de publicidade – a oficial, que serve para programas e campanhas sociais do Governo Federal, ou a estatal, que provém de empresas públicas como a Petrobrás ou a Caixa Econômica Federal – foi cortada, mas a informação já agradou setores da esquerda.

    Mesmo sem a confirmação da notícia, a lógica do Governo é simples: por que dar dinheiro público a quem faz oposição sistemática, constante e desleal?

    Os grandes conglomerados de mídia recebem milhões de reais em publicidade oficial – sendo as Organizações Globo a empresa mais beneficiada.

    Sendo assim, o senso comum – e razoavelmente egocêntrico – da esquerda diz que o ideal é “não ajudar quem não te ajuda”; o que torna compreensível a suspensão de publicidade da revista Veja, reconhecida por sua incondicional oposição a qualquer pauta progressista.

    Porém, politicamente, a decisão é um tiro no pé.

    O corte de publicidade tapa o sol com peneira e ainda atrapalha o avanço de reformas profundas no setor de mídia que são necessárias para o fortalecimento da Democracia brasileira.

    É aconselhável lembrar que a sociedade está completamente polarizada e metade dela continua indignada com o PT.

    A regularização econômica da imprensa poderia ser comprometida nesse ato que, caso confirmado, seria uma forte arma política para a oposição.

    Ao cortar a publicidade oficial da revista Veja depois da gritante oposição entre essas duas forças políticas do país, o governo de Dilma Rousseff deixa claro que atua por motivos políticos, pois não há dados ou razões econômicas que sirvam de argumento para a suspensão de publicidade.

    E ao atuar baseado em causas políticas, o Governo Federal dá tudo que a oposição precisa para sustentar a fantasiosa teoria de que o PT pouco a pouco implanta uma Ditadura Comunista no Brasil.

    A simples imaginação dessa ideia já gera indignação em muita gente. Com a notícia de que o PT cortou a publicidade da Veja, a oposição dará um chilique, pois já imagina que o Governo Federal só ajuda quem é “companheiro”.

    Com isso, o cidadão liberal, conservador ou direitista ficaria indignado ao saber que seu dinheiro foi recusado a certas empresas “honestas” para ser gasto com jornalistas ideologicamente simpáticos ao Governo.

    E a Grande Imprensa fará questão de induzir sua audiência a acreditar nessa ideia.

    Claro que a Direita ignora o fato de que os cofres da Editora Abril, do Grupo Folha e do Grupo Estado sejam mensalmente enchidos de dinheiro público do Governo do Estado de São Paulo, que recentemente renovou milhares de assinaturas de publicações dos conglomerados, dirigidas a escolas públicas do Estado.

    Porém, a questão seria minimizada justamente por quem se beneficia dessa ajuda econômica que, assim como essa medida do PT, provém de causas políticas.

    Portanto, cortar a publicidade da revista Veja na situação atual é um erro.

    Politicamente, seria mais aproveitável diminuir os gastos com os conglomerados conservadores gradativamente enquanto se aumenta a publicidade dirigida à imprensa alternativa – postura que, aliás, começou com o Governo Lula.

    Essa conduta é menos explícita, fortalece o apoio à Democratização da Mídia e não oferece armamento político à oposição.

    Por outro lado, se realmente houver corte de publicidade dirigida à revista Veja, o Partido dos Trabalhadores perde credibilidade junto com os argumentos a favor da Democratização da Mídia, que é a mãe das reformas do setor.

    Como alguém vai acreditar em democratização da mídia se o Governo Federal não aceita a cobertura de uma revista que – para metade da população – é jornalística, crítica e independente?

    O PT definiu a regularização econômica da mídia como uma prioridade para 2015. Para fazer a prioridade virar realidade, é preciso planejamento, frieza e fortes argumentos.

    O corte da publicidade é um argumento, mas seria usado pela oposição.

    Mesmo que a informação não seja real, ainda é preciso cuidado para tratar o tema da Democratização da Mídia sem transmitir a sensação de conto do vigário, que é exatamente o que a Grande Mídia espera para poder falar de censura, bolivarianismo e Venezuela.

    Todo cuidado é pouco nesse tema.

    Postado por Rafa Wacked

    http://examedamidia.blogspot.com.br/2014/11/cortar-publicidade-governamental-da.html

  7. “Quiero agradecer este gesto,

    “Quiero agradecer este gesto, sus profundas convicciones de lo que debía ser el destino con él (Nestor Kirchner) que tuvo, tal vez, su acto más emblemático en la ciudad de Mar del Plata, en el año 2005, junto a Hugo Chávez, al Luiz Inácio Lula da Silva y a otros mandatarios, cuando decidimos que aquí, en la América del Sur, en la América del Sur,

    el ordenamiento político, económico y social lo decidimos aquí, quienes gobernamos por mandato de nuestros pueblos.Tal vez, sea esa alguna de las cosas que no nos perdonan, pero no importa, preferimos ser recordados por nuestros pueblos a que perdonados la vida desde algunas otras latitudes. Son nuestros pueblos los que nos van a recordar si es que merecemos figurar en su recuerdo.”

    Cristina Kirchner, em discurso na inauguração da “Sede Permanente da UNASUL” em Quito – 5/Dezembro/2014.

  8. Uma piada. Estamos aguardando

    Uma piada. Estamos aguardando um brasileiro como Secretario Geral, já foram 4 hispanos ou um brasileiro como Prsidente, já foram 5 hispanos, o Brasil não tem vez. Enquanto isso poderiam ter uma versão em português no seu micro website, um estudante pode fazer a tradução em meio dia mas como o Brasil e nada é a mesma coisa fica só a versão em espanho. O site da OEA sempre teve versão em português.

      1. O pior é chupar cabo de

        O pior é chupar cabo de vassoura e ahcar gostoso, estou citando um fato CONCRETO, em nove cargos de cupula da UNASUL, nunca foi indicado um brasileiro, o Brasil é o maior Pais do continente, vc acha normal?

  9. A mídia golpista não diz nada

    A mídia golpista não diz nada que interessa ao povo brasileiro. Nada. Quando houve a Copa do Mundo no Brasil, era só tentativa de diminuir o tamanho do evento. Quando houve o encontro dos BRICS aqui no Brasil, foi a mesma coisa, a mídia brasileira não deu a menor bola. Está passando da hora do governo federal tomar vergonha na cara, reconhecer que temos uma mídia inimiga do povo, cortar as verbas publicitárias e incentivar e financiar uma mídia independente, com rádios, TVs, jornais, blogs, enfim, uma grande rede independente, que tenha força para romper o cerco midiático golpista. Coisa que atualmente somente a Internet faz, com os blogs sujos e a militância nas redes sociais, com muito brilhantismo e sem praticamente nenhuma ajuda do governo federal. Para ficarmos sabendo de um acontecimento importante como o da Unasul temos que assistir a TELESUR pela Internet, porque não temos acesso em canais pagos ou TV aberta a este valoroso canal. O governo federal brasileiro deve ser o único caso no mundo que não tem uma mídia amiga, ou pelo menos mais honesta e independente para divulgar seus projetos e obras.

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