A explosão das drogas sintéticas na Europa

Da BBC Brasil

Rapidez no aparecimento de drogas sintéticas desafia autoridades na Europa

Apreensão de cocaína | Foto: Reuters

Dados indicam que União Europeia viu surgir, em 2011, um novo tipo de droga por semana

O desenvolvimento de novos tipo de drogas e sua rápida distribuição no mercado desafia as autoridades da Europa no combate ao consumo de entorpecentes no continente.

Segundo dados da União Europeia, o continente viu surgir em 2011, em média, um novo tipo de droga a cada semana. No total foram identificados 49 novos compostos, todos feitos em laboratório – um crescimento de 20% em relação às 41 novas drogas de 2010.

Em Portugal, onde o consumo é descriminalizado (mas não a produção e a venda), a polícia se diz impotente. Além do rápido desenvolvimento e distribuição, as autoridades levam muito tempo para identificar o seu perigo e listá-las como substâncias proibidas.

“Para nós é complicado, porque estamos realmente impotentes para atuar. Só podemos atuar após a colocação na lista de substâncias sob controle”, afirma o superintendente da Polícia Judiciária portuguesa, Joaquim Pereira.

“Demora cerca de dois anos (para que sejam incluídas na lista de substâncias ilícitas). E como são drogas criadas em laboratório – elas têm uma pequena modificação na fórmula química, o que mantém os efeitos apesar de ser uma substância diferente -, ainda não foram proibidas. Trata-se de um verdadeiro jogo de gato e rato”.

Os países europeus usam como referência a lista de drogas proibidas da União Europeia (UE) e da ONU. Mas fica a cargo de cada país introduzir ou não as proibições na suas legislações.

A última substância que entrou na lista das drogas proibidas da UE e da ONU foi a mefedrona – vendida com o nome de miau-miau –, há dois anos. Ela foi considerada responsável por mortes no Grã-Bretanha e na Polônia. Mesmo assim, só foi proibida em Portugal em março deste ano.

Fertilizante

A quantidade de novas substâncias usadas fez com que a União Europeia criasse um sistema para monitorar o aparecimento de novas drogas no mercado.

“Cada vez que se detecta uma droga em qualquer país da União Europeia, a informação é passada para o sistema de alerta rápido”, explica Ana Gallegos, pesquisadora do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência.

Segundo Ana, após a identificação da nova droga – através de equipamentos de espectrografia de massas e ressonância magnética nuclear – é feita uma análise de risco sobre os impactos na saúde. Atualmente, mais de 200 substâncias narcóticas estão listadas pela ONU.

Os produtores de narcóticos, no entanto, lançam mão de estratagemas para driblar a fiscalização.

“As substâncias são comercializadas com embalagens em que está escrito que contêm produtos não aptos para consumo humano. Desta forma evitam a vigilância sanitária e as autoridades que verificam produtos de consumo”, diz Gallegos.

Muitas das novas drogas são vendidas em smart shops, lojas que comercializam assessórios que podem ser ligados ao consumo de drogas (cachimbos especiais, papéis de cigarro, “moedores”), cogumelos alucinógenos (que são liberados em vários países) e produtos em geral apresentados como não aptos ao consumo humano.

Gallegos conta que a mefedrona – um estimulante com efeitos semelhantes à cocaína e ao ecstasy – apresentava na embalagem a indicação de que era um fertilizante, não indicado para ser ingerido por seres humanos.

Tratamento

Em Portugal, as novas drogas não chegam a tirar o mercado das tradicionais, como haxixe, cocaína ou heroína. O número de dependentes desses novos narcóticos também é menor.

“Até agora, o número é de menos de 1% do total das pessoas (dependentes) que nos pedem ajuda”, conta João Goulão, presidente do Instituto Português da Droga e da Toxicodependência, responsável por uma rede nacional de centros de tratamento de viciados.

Goulão relata a diferença entre as novas substâncias e as tradicionais: “São drogas de efeito imediato. É nos serviços de urgência dos hospitais que se veem mais as consequências dessas drogas. Aparecem pessoas com ataques de pânico, surtos psicóticos, crises de taquicardia”.

Segundo Goulão, o fato de as novas drogas serem vendidas em lojas de porta aberta cria mais um problema: “Dá uma falsa sensação de segurança para o consumidor”.

Luis Nassif

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