Alagoas registra queda no número de homicídios

Do O Globo

Cardozo compara redução da violência em Alagoas a dados suíços

No estado mais violento, ministro da Justiça comparou queda do número de assassinatos a taxas do país europeu

Odilon Reis

MACEIÓ – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, comparou o estado mais violento do Brasil – Alagoas – com a Suíça, ao falar nesta sexta-feira da redução na quantidade de assassinatos, registrada após a implantação do programa Brasil Mais Seguro, que é um piloto para outros estados brasileiros.

Pelos dados da Secretaria de Defesa Social, em seis meses de plano, Alagoas registrava 6,6 assassinatos por dia em 2011; em 2012, 5,4. Segundo o ministro, uma queda de 13,3% em Alagoas e 20%, em Maceió. Ano passado, foram 2.427 homicídios; 1.997, no levantamento da secretaria, em 2012 (não incluídos os dados de dezembro, ainda em fechamento.

— São números suíços, governador — disse a Teotonio Vilela Filho (PSDB), em discurso no Palácio República dos Palmares, a sede do Governo alagoano, logo após receber o título de cidadão honorário, ao lado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, deputados federais e autoridades.

Ainda de acordo com o ministro, a cada dez assassinatos em Alagoas, oito são solucionados, com autoria definida.

Logo em seguida, para imprensa, falou do programa com entusiasmo:

— Alagoas se apresentava como o estado mais violento do Brasil. Por isso, fizemos um projeto piloto. São seis meses de projeto. Temos medidas de curto, médio e longo prazo. Apresentamos, até agora, as medidas de curto prazo. Vou dizer com franqueza que não esperava resultados tão bons em tão curto espaço de tempo. Conseguir interromper a escalada era um avanço. Não só conseguimos interromper, como ela caiu. É claro que nesse processo há dificuldades a serem superadas. Mas, a superação tem contado com o esforço do Governo Estadual, do Governo Federal. A sensação de segurança já aumenta no Estado de Alagoas — concluiu.

Declarações do ministro causam mal-estar

Pelos dados do Instituto Sangari, que anualmente produz o Mapa da Violência, entre 2000 e 2010, a violência alagoana cresceu 187,8%. Levando em conta os números da ONG Seguridad, Justicia Y Paz, do México, Maceió – terceira cidade mais violenta do mundo – são 135,26 assassinatos por 100 mil habitantes. Os números são de 2011. A ONG usa dados do Sangari.

Comparando com a Suíça, são 0,7 homicídios por 100 mil habitantes. Este estudo é da Declaração de Genebra sobre Violência Armada e Desenvolvimento, de 2012.

As declarações do ministro causaram mal-estar em entidades alagoanas e foram criticadas pelos sindicatos dos Médicos e Policiais Civis.

— Esse plano não funciona e nem vai funcionar. Nunca nos enganou. É simples: não chamaram os policiais militares, os civis, peritos, os agentes penitenciários, os bombeiros para se discutir. Tudo foi feito atrás do bureau, com ar-condicionado —, disse o presidente do Sindipol, Josimar Melo.

— Não há valorização profissional. Um policial da Força Nacional ganha R$ 9 mil em diárias. Isso desmotiva os policiais daqui. Foi um plano empurrado goela abaixo.

Melo leva em conta a situação das delegacias e do Instituto Médico Legal Estácio de Lima, no bairro do Prado, em Maceió. Há dois anos, o Ministério Público Estadual recomendou que o prédio fosse interditado por jogar a água que lavava os corpos no meio da rua.

— Eles têm os números que a gente não confia porque, para nós, números confiáveis são os do Ministério da Saúde, baseados no Serviço de Verificação de Óbito. Nós temos o dia a dia das ruas. Pergunta para qualquer alagoano se ele se sente seguro. Esse é o plano “Brasil Inseguro —disse o sindicalista.

Presidente do Sindicato dos Médicos, Wellington Galvão, diz que os médicos legistas não têm condições de trabalho e os laudos periciais só ficam prontos em Alagoas porque os peritos lutam contra “o descaso”:

— O nosso IML funciona no improviso. Foi prometida uma reforma que até o dia 25 de outubro estaria pronta em um prédio anexo ao instituto, até que o local definitivo fosse inaugurado. E nada. O Brasil Mais Seguro só existe na propaganda, que é muito bonita por sinal —, afirma.

Governador evitou comparação

O governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) evitou comparar Alagoas com a Suíça. E falou que o plano ainda precisava de mais ações – apesar de mostrar, também, entusiasmo com os números.

— Na medida em que se prendem mais pessoas, precisa-se ter mais estrutura nos presídios, mais leitos. Na medida em que se apreende explosivos, como estamos fazendo agora, desbaratando muitas quadrilhas, aí aumenta o número de explosivos. As demandas são muito grandes. Preciso de mais policiais, de equipamentos mais sofisticados, de comunicação, de videomonitoramento. Então, agora, estamos encorpando isso — disse.

— Há muito a corrigir e muito a acrescentar. Por exemplo, o IML está em petição de miséria. Estamos construindo um novo IML. Assim como também estamos (construindo) um novo Instituto de Criminalística. As delegacias de homicídios, montamos uma em Maceió e agora em Arapiraca (cidade do agreste alagoano) também são outras ferramentas.

Luis Nassif

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