Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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As mariposa, a lâmpida e o desânimo – Parte 3: Um capitalismo de esquerda?, por Rui Daher

Por Rui Daher

Parte 3 – Um capitalismo de esquerda?

 “As mariposa quando chega o frio/Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá”

Nos dois capítulos anteriores, sem qualquer pretensão de profundidade acadêmica, propus discutir aspectos dos auge e declínio dos ciclos capitalistas, a partir da Segunda Guerra.

Parti do que li em Bourdieu (1930-2002), Hobsbawm (1917-2012), Lasch (1932-1994) e, mais recentemente, em Mariana Mazzucato, Thomas Piketty, Larry Summers, Martin Wolf, Dani Rodrik, e alguns poucos economistas brasileiros que não dependem de salários pagos por banqueiros.

Não terminei de ler, mas já gostei, “17 Contradições e o Fim do Capitalismo”, do geógrafo David Harvey (Editora Boitempo, 2016). Reconheço aí, no entanto, uma bibliografia manca. Faltaram os pensamentos de Roberto Justus, Ronaldo Caiado e um certo Kim, jovem oriental que escreve na Folha de São Paulo.

Tudo me fez pensar não ser a esquerda a precisar de autocrítica. Suas propostas sempre foram, em essência, críticas à desigualdade social e suas decorrências. Fariam crescer ao extremo as mazelas no planeta. Sem emprego e distribuição de renda não há demanda, sem consumo não há produção, investimento, emprego e renda, formando um ciclo perverso, que duas vezes no século passado foi resolvido com Guerras Mundiais.

Os medíocres negam tal possibilidade. Pensam suas panças empanturradas incólumes e insistem em modelos com prazos de validade já vencidos. Desde o pós-crise, o que a partir de 2014 prejudicou enormemente o Brasil, baixaram os juros esperando investimentos e consumo que pouco vieram. Tentavam formar demanda para ter lucro e reinvestir.

Exceção à Federação de Corporações, onde se faz o contrário. Juros estratosféricos para controlar inflação em economia recessiva.

Nos EUA, os empregos fabris caíram de 20 milhões para 12,3 milhões, entre 1980 e 2015. Influíram, os movimentos de outsourcing, o avanço da tecnologia, e a crise 2007/09, atingindo os trabalhadores menos qualificados. Mesmo a recuperação nos últimos anos da década atual não trouxe de volta 20% dos postos de trabalho perdidos. Colocando os imigrantes na parada do rancor, Donald Trump foi eleito presidente.

O mais recente tapa na cara de um modelo que não reconhece seu estado terminal veio simultâneo ao convescote suíço, em Davos. A Oxfam International, organização voltada a combater a pobreza, bateu o pênalti, goleiro num canto, bola no outro, e gol!

Oito homens são proprietários de riqueza igual à de 3,6 bilhões de pessoas, metade da população mundial. Se incluir o trio MSN, do Barcelona, forma um time imbatível no quesito “temos talento, trabalhamos, e muito herdamos”.

Mais? Sete entre cada 10 pessoas vivem em países que, nos últimos 30 anos, viram crescer a desigualdade; mantida a tendência atual de diferença de pagamento entre homens e mulheres, estas precisarão de 170 anos para se equiparar; a evasão fiscal nas grandes corporações em países pobres excede os 100 bilhões de dólares, equivalentes a dar educação para os 124 milhões de crianças que não estão na escola ou diminuir a mortalidade infantil através de serviços de saúde.

Embora apenas confirme o que muitos já vêm dizendo e escrevendo há décadas, o estudo completo, citando as fontes e métodos usados, pode ser obtido no site da Oxfam International.

De 2010 a 2015, segundo o Crédit Suisse, passou de 68,4% para 71,0% a população mundial que ganha até US$ 10 mil/ano. Caso é: o consumo dos mais ricos é limitado pela satisfação; o dos mais pobres é acelerado pela necessidade.

Há que baixar o espírito das esquerdas no capitalismo para que ele não passe a respirar com a ajuda de aparelhos, que mais desgraças trarão ao planeta.

Nota: sugiro ler as três partes. Espero comentários, como sempre, enriquecedores e a todos responderei. Problema: não sei como avisar que esses textos existem e custaram muito esforço.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

23 Comentários

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  1. Perfeitamente possível dependendo de qual esquerda

    Entrevista com Proudhon:

    – Você quer um governo de esquerda?
    – Ainda menos. A esquerda, direita, centro ou as extremas, são somente a esquerda e a direita do Estado/capital.
    – Mas então o que é que você é?
    – Sou anarquista, ou melhor, partidário da anarquia.
    – Percebo: goza com tudo; pretende derrubar o governo.
    – Não exactamente. Viso a demolição da forma social, económica e cultural existente. A Ordem na sociedade é aquela que apraz aos governantes impor aos governados. Viso a desordem da Ordem. A ausência de patrão, de soberano. A anarquia!
     

    1. Xará,

      como é bom vê-lo por aqui. 

      Proudhon, que viveu no século 19, entre 1809 e 1865, um século e meio atrás, não imaginava a que ponto chegaria “a forma social, econômica e cultural existente”. Enquanto o alemão Marx procurava meios de construir uma sociedade mais justa, o francês dava outro nome à mesma procura – que três não existem – até mesmo propondo criar um banco operário. Tudo bem, mas de onde sairiam os depósitos se não da mais valia do trabalho? Das benesses sociais dos patrões é que não.

      Abração 

  2. Não vai baixar. Isto não ecxiste!

    A social-democracia foi excessão à regra. Foi um pós-guerra de escombros e havia a URSS como ameaçã real (militar e simbólica).

    Não vai baixar espírito de esquerda no capital, de jeito maneira. O capitalismo tende a aprofundar suas contradições ou, por outras palavras, seu sucesso em entrar em cada poro da vida humna irá resultar em seu fim, como previra Marx desde o início.

    O problema é que depois do capitalismo não virá automaticamente o sociialismo. Não há evolução lógica na sociedade. Pode emergir, no lugar do capitalismo, uma tirania oligopolista das corporações/máfias financeiro-industriais, que é o que se desenha.

    o novo normal
    é a crise
    a nova paz
    é a guerra
    a nova política
    é o porrete
    a nova economia
    é o 1%
    a nova grande notícia
    é a mentira da grande mídia

     

    1. Porra, Wilton

      no fígado! Mas você pode ter toda a razão. Por isso mesmo não tenho mais me aventurado a análises como as aqui postadas em 3 partes. Logo voltarei à galhofa, um pouco dentro do espírito do que você expõe. Mas pergunto: e aí? nos conformamos? 

      Abração

  3. Pierre Dardot e Cristian Laval. A Nova Razão do Mundo.

    Em meio a tanta leitura, sugiro ainda o recente livro desses franceses, “A nova razão do mundo.”

    Ali eles demonstram que, com o avanço do capitalismo de oligopólios, a infraestrutura passa a prescindir das democracias burguesas tão necessárias aos estágios anteriores do capitalismo concorrencial.

    Nesse contexto Obamacares, Donald Trump ou líderes sindicais presidentes seriam o subproduto crítico de uma democracia burguesa que se desmancha no ar.

    Estamos diante de um ponto de ruptura, e as Corporações promovem o que originariamente chamávamos de burguesia gestora ao postos decisórios da sociedade, tanto no Estado quanto nas Corporações.

    A nova infraestrutura contraditoriamente depende ainda mais de um estado quieto, mas forte, que a socorre naquilo que não é interessante a produção corporativa. O que, como bem argumentou, só agrava a crise de distribuição de renda.

    Nesse contexto, bolsa família, obamacare, minha casa minha vida talvez sejam uma necessidade dessa nova razão mundial. Na medida em que a infraestrutura não quer abacaxi fora de seu corebusiness para descascar.

    Meu querido Rui, como propõem os livros de Chico Xavier e Emmanuel, atingimos um novo patamar tecnológico da sociedade, nossa dividida agora é moral.

    Já precisamos trabalhar menos para produzir mais, porque estamos mesmo nos matando com a pobreza e com o consumismo? E aí estou contigo, ao menos em parte, as esquerdas tem que puxar a fila dessa evolução Moral.

    1. Carlos, meu caro,

      como gostaria de ter que trabalhar menos para as corporações e assim ter tempo para ler Dardot e Laval. Mas não pense que não irei atrás. 

      Concordo que a dívida agora é moral, e nossa. Creio que, assim como você, eu faço a minha parte. Tenho pouca coragem para injustiças. Covardia? Talvez. Nem preciso saber, desde que não as faça. Continuo expondo minhas ideias para ouvir as suas. E sempre nos daremos bem. 

      O corebusiness que está aí nos ocupa ou nos exclui.

      Abração

      1. Eu tenho certeza.

        Eu tenho certeza que você faz sua parte!

        E sou muito grato!!! Já há muitos anos, desde o terra magazine…

        Meu jeito talvez seja prepotente e eu tenha transparecido crítica?

        Pois é o contrário!

        Abraço.

  4. as….

    Caro sr. Rui, fora se sustentar nas benesses do Poder e nas vantagens que o capitalismo-socialismo público-privado do Estado brasileiro proporciona a suas elites, não é possível compreender nossa esquerdopatia tupiniquim. Bezerro Cevado nas tetas deste Estado. O Socialismo soviético durou quase 1 século a base de muita repressão e aniquilamento (de todas formas possíveis). A China, que nunca se misturou, projetou o  “pular fora” 40 anos antes. Comunistas buscando no capitalismo a prosperidade que nunca tiveram. Fidel já dizia: receber como um capitalista e gastar como um socialista. A revolução a partir do campo como prega os Movimentos Sem Terra não é aquela da Agricultura Familiar, da cebola, do tomate, das plantações de abacaxi, do cinturão verde em voltra de São Paulo, das estufas, do melão ou da banan do Vale do Ribeira. Onde está a maravilhosa revolução social que 30 anos de Constituição Cidadã não produziram? Agora, a maravilhosa revolução capitalista nos bolsos socialistas dos nossos anti-capitalistas foi um espetáculo nestes últimos 30 anos. abs.    

    1. Zé Sérgio,

      você tem obrigação de saber que a revolução a partir do campo está sendo feita na agricultura familiar, independente do Estado. Mas como pedi um mês de licença na CartaCapital sobre o tema, voltarei ao assunto em fevereiro. Há que se pensar, reformular, abandonar conceitos ultrapassados, como o da esquerdopatia. Abraços

    2. Engraçado como liberais e até

      Engraçado como liberais e até gente da esquerda adoram malhar a URSS sem nenhum conhecimento de história. Em que pese o enorme custo humano do regime soviético (mas também lembrando que a transição do socialismo para o capitalismo resultou em 3-7 milhões de mortes na ex-URSS), a URSS atingiu níveis consideráveis de progresso em condições extremamente adversas. Uma guerra civil extremamente destrutiva levu a economia a níveis próximos da índia. Somente em 1930 a economia voltou aos níveis de 1913. A industrialização teve um custo terrível, mas deixou o país preparado para derrotar a Alemanha nazista, ao custo de 30.000.000 de mortos, boa parte deles jovens do sexo masculino. Por razões óbvias o trauma pela agressão militar e quase extermínio levou a uma preocupação excessiva com a defesa. A URSS manteve um nível de gastos militares suficiente para quebrar qualquer país do mundo e mesmo assim o padrão de vida melhorou e muito. Sempre houve problemas para a aquisição de tecnologia estrangeira, o que levou à dependência excessiva de projetos desenvolvidos localmente. Lembrem-se que as sanções ocidentais que causaram sérios danos à Rússia de Putin eram o normal na época da URSS. É claro que o modelo político, extremamente centralizado, e sem nenhuma transparência contribuiu para o colapso da URSS, é verdade também que não havia tecnologia de informática disponível para o planejamento detalhado que era exigido (sobre a questão da informática no planejamento, e das falhas do do sistema soviético sugiro a leitura de “Towards a new socialism” de Paul Cockshott, assim como outros trabalhos do mesmo autor). Longe de demonstrar a inviabilidade do socialismo, a experiência soviética aponta para o potencial do mesmo, se forem corrigidas as falhas fundamentais do modelo soviético. Por fim, é importante observar que não foi o socialismo que entrou em colaspo na URSS. O sistema de planejamento (que, é verdade, não vinha funcionando bem, mas esse mal funcionamento resultava em estagnação e não retrocesso) foi desmantelado por Gorbatchev e seus asseclas em 1987, e aí sim ocorreu o colapso. Também como leitura desse processo vale a pena “The destruction of Soviet System ” por Michael Ellman e Vladimir Kontorovich.

      Abraços esquerdopatas.

      1. Alexandre,

        sem dúvida, seus argumentos destravam várias acusações imerecidas dos governos soviéticos. Penso que o papel representado pela URSS, no período da Guerra Fria, teve o mérito de refrear o ímpeto imperialista norte-americano, mas com alto custo econômico e político.

        Da mesma forma, houve um inchaço de uma burocracia, gananciosa e corrupta, que ficou perceptível à população, já então passando por codições de escassez material e financeira. Em tais condições, a falta de liberdade fica mais visível e revoltante para a população, o que passou a diminuir as conquistas anteriores dos governos até Kruschev e isso se generalizou, indevidamente a meu ver, a todas as nações que lutavam contra o Ocidente hegemônico para construir o socialismo.

        Virou dominó (e não de Botequim …). Talvez, o mesmo que está acontecebdo com o capitalismo, como exploro nesses textos.

        Abraços esquerdopatas. 

  5. A realidade é para pessimismo

    Concordo com a previsão do Wilton Cardoso Moreira. É o mais provável. Os oligopólios já se consolidaram há muito tempo. . A demoracria, aos poucos, está se tornando uma mera fachada. O que falta às corporações é assumirem diretamente o poder do Estado. Evidente que os eventos podem levar a cenários inimagináveis, dada a complexidade e diversidade do mundo. Por exemplo, de que forma o Estado chinês influenciará ou será influenciado por esses desdobramentos?  Uma crise econômica aguda pode levar a outra guerra mundial, com efeitos devastadores. É difícil acreditar que os detentores da riqueza/poder de repente vão se sensibilizar com o sofrimento de milhões de miseráveis. A realidade é para pessimismo. 

    1. Também estou mais para esse desenlace, WG

      Existe um fenômeno, no entanto, ainda pouco estudado e mensurado sobre o desenvolvimento que pequenos empreendedores, expulsos pelo desemprego, tanto nos países ricos como emergentes, e que papel poderão desempenhar em um novo ciclo econômico. É um processo que pode se acelerar na China como, acredito, está acontecendo no Brasil. A ver. Abraços 

  6. Caro Rui: primeiro parabéns

    Caro Rui: primeiro parabéns pelos três artigos, um panorama prá lá de bem traçado e sucinto do que acabou desembocando nessa zorra que vemos hoje. E à terceira parte, em especial, palmas! “Capitalismo de esquerda”, é mole? rs…

    Segundo, umas observações improvisadas, “composição à vista de uma gravura”, como se dizia no ginásio: a vida humana individual é efêmera. Já a coletiva tende à eternidade. Ou pelo menos, garantido que vai bem mais longe que a individual.

    A mim parece que o quanto antes desistirmos dessa bobagem de capitalismo, o quanto antes largarmos o osso – que, de mais a mais, já não tem carne nenhuma grudada mesmo – menos retardaremos a chegada do novo.

    O FMI de Lagarde e Edward Freeman (quem? Aqui, ó: https://jornalggn.com.br/noticia/para-edward-freeman-capitalismo-e-um-sistema-de-cooperacao-social ) ainda tentam salvar o moribundo. Ou para ser mais exato, reviver o morto, criar um monstro de Frankenstein, uma capitalismo mas que não se baseie no acúmulo privado, é mole?

    – “Olhaquí, sr. empreendedor, o sr. de agora em diante só pode acumular depois de que todos à sua volta estiverem providos pelo produto de seus trabalhos através de sua firma. O prazo para retorno do que o sr. investir não foi só esticado mas ficou sem previsão. Agora depende do tempo em que toda a cadeia produtiva, incluídos aí a sociedade como um todo, levará para ser suprida. Agora a moda é assim, tá bom?”

    – “Tá. Investirei pelo desejo imenso que tenho de ver o mundo melhorar antes de eu mesmo ficar rico.”

    Ou o FMI de Lagarde é muito cínico ou é muito inocente. Já Edward Freeman, tá na cara que criou um produto – ele mesmo e sua teoria – e que está vendendo bem esse produto a um cliente que pode pagar bem: a turma do conservadorismo. Gozado, a propósito, esse produto… me lembra de quando Dilma começou a mostrar sua tenacidade, reapareceu peloaí aquela foto dela no tribunal da ditadura, a firma “Globo” tratou logo de reagir:

    – “Ei! Também temos a nossa guerrilheira heróica!”

    – “Hein? Quem?”

    – “Ora, ‘quem?’…e ainda por cima tambem é economista! Pegou?”

    – “Para com isso, diz logo!”

    – “A Miriam, oras. A Miriam foi judiada pela ditadura, lembra? É economista e é nossa!”

    – “Humm… fale mais!”

    – “Pois é, é a imagem perfeita, o produto acabado! Um produto que nosso freguês vai adorar comprar: a nossa guerrilheira!”

    – “Humm… já falou com ela? Olha que ela de fato sofreu horrores, hein?”

    – “Já sondei. Isso ela já superou. E parece que está é ansiosa por um up em sua carreira de star, em sua imagem!”

    – “Perfeito. Pode tocar.”

    No fim o produto nem fez tanto sucesso assim, o argumento de venda, “sofreu na ditadura”, até que tava bom mas faltou um tanto de “tenacidade” no produto. Sem dizer que faltou verossimilhança.

    Já o sósia – ou paródia- de Karl Marx, o barbudo “deles” parece que ainda faz algum sucesso em Quixeramobim. De qualquer forma, se o FMI é cínico (ou, com o benefício da dúvida, inocente) e Edward, um maladrão (ou, com o benefício da dúvida, apenas um cara dando um malho com seu produto), o fato é que nenhuma solução coerente, harmoniosa ou, pelo menos, com um nível de contradição e incoerência aceitável, é possível. Não dá prá remendar: quebrou, tá quebrado.

    Um abraço!

    1. Começo pelo abraço, Renato,

      aliás abração. Difícil não reconhecer o quanto você enriqueceu minha análise. Não modesta, confesso, mas sincera em relação ao que verão filhos, netos e gerações futuras.

      Lagarde tenta amenizar Davos, afinal ela é a dona do FMI, mora “nas Europa”, e como mariposa deve enxergar o que está a um palmo de seu nariz. Quanto à sua indicação, obrigado. Não conhecia. Vou atrás. Quebrou tá quebrado. É isso.

  7. Caro Rui

    Eu também andava meio alheio até ao GGN, querendo visitar só aquelas páginas bonitas. Mas  numa recaída, num dia após a posse de Trump eu vi o seu nome e o titulo sugestivo . As mariposas 1,2, e 3.

    Foi uma certa coincidência, pois depois de ouvir o discurso de Trump na posse, ( tudo bem, até parecia  o script de um reality show). e seu discurso da CIA, eu percebi que a América havia se superado depois de Bush. O problema é realmente sério,  pois sentado em cima de milhares de ogivas, milhões de mísseis e milhões de deserdados do sonho americano, tem-se agora um completo ignorante com tamanho poder. Que promete aos Americanos o retorno ao capitalsmo dos anos 50.Tudo que disse sobre o mundo e sobre o seu país, mostra que ou não compreendeu o que é o seu proprio país, e nem se diga sobre a sua ignorância sobre o mundo. Alguns ainda vão dizer que ele é um milionário e portanto inteligentíssimo. E o mais curioso é que como você disse depois de tudo  o que temos, e depois de Davos  a proposta é  o retorno. E isto é para  a perplexidade dos que continuam querendo ir em frente, os walking deads. Apenas sorrio quando me lembro de Willian Waack , ( com relação a queda de Dilma e Kirchner ) anunciando  que o populismo havia acabado.  Parece que os patrões de Waack tem alguns problemas na matriz. 

     Mas lendo sobre  mariposas, eu me lembrei de uma  história, sobre o bicho da seda. Alguém, lá no fundo de minha memória, disse que o bicho da seda tem o pior olfato do mundo. Segundo ele,  a pequena lagarta  não discerne quase nenhum cheiro, mas consegue perceber a presença da fêmea a quase um quilõmetro de distância. Isto é o suficiente para se reproduzir.  Quando criança esta historia me lembrou o dono de uma quitanda que conheci. Homem bruto,  que na minha mente de criança, parecia saber apenas abrir e fechar a caixa registradora. Talvez por isto tenha ficado  rico, mas condenou seus filhos  à mais completa vida vegetativa.  Se fosse hoje em  dia viraria palestrante admirado ou quem sabe presidente.

    Por isto lendo a monotonia de pensamento de vários que até visitam o GGN, eu imagino que para muitos o que escreveu não faça o menor sentido.  Mas não se apoquente,  é uma questão de ser lagarta ou mariposa.  Mas é preciso avisar algumas mariposas que voam mais à esquerda que  tanta autoflagelação, pode fazê-las  colocar a culpa na luz,  

    1. Frederico,

      ao ler seu comentário, virei mariposa e me aqueci na lâmpada que aqui ainda está acesa. A troca de ideias, mesmo as menos inteligentes, que não é o seu caso, ainda é a razão de termos algum motivo para vivermos independentes da materialização de bens. É isso! Adiantará culpar a luz? Agora, além dos bons argumentos, vamos à galhoga que você me proporciona: mesmo aos 71 anos, casado há 45, consigo perceber a presença da fêmea. Abração. 

  8. Caro Rui,
    Eu fujo dos rótulos

    Caro Rui,

    Eu fujo dos rótulos como o diabo foge da cruz. E, a cada dia, tenho crescente dificuldade para saber o que é esquerda ou direita. Entender quais a ideias e propostas que melhor atendem ao interesse das pessoas, do cidadão e da democracia, tem sido uma tarefa impossível. Às vezes, quando penso sobre a sociedade atual, sobre o Brasil, sobre pessoas que se apresentam como nossos líderes e sobre as alternativas que nos oferecem, deparo-me, frequentemente, em duas circunstâncias. Frustro-me com as pessoas que pretendem nos liderar e me desiludo das ideias que se nos apresentam. Não tenho dúvidas que o neoliberalismo é mortal para o interesse dos povos e está destruindo a democracia, ao menos, em relação a isto, ainda estou convicto. Quanto ao demais, além de carregar o fardo da sensação de uma crescente ignorância sobre tudo isso, sinto-me como uma biruta de aeroporto ou qual o burro olhando para a montanha.

    Por outro lado, como contraponto ao modelo atual, também, não creio numa virada radical à esquerda, destruindo o capitalismo e instaurando um modelo marxista-socialista, no design oriundo de Lenin e Trotsky. Acredito que uma sociedade sem classes, sem castas de privilegiados e onde as pessoas vivam harmoniosamente, com liberdade e capaz de permitir que se extraia e seja exercido o potencial máximo do ser humano e de sua “humanidade” é a sociedade ideal. Se eu fosse positivista e acreditasse que o amor e a ordem levassem ao progresso ou, mesmo, que Rousseau estivesse certo quando preconizava que o homem é essencialmente bom e que a liberdade é seu mais valioso “bem”, eu creria na inexorável e inevitável vitória do bem contra o mal e na marcha permanente da humanidade em direção ao homo sublimis. Sem dúvida, defenderia que, em um dado futuro, o socialismo prevaleceria. Contudo, não é o que a realidade nos informa e negar o empírico em nome de uma teoria é o que têm feito os economistas neoliberais.

    A Política e, também, a Economia são a arte do possível. Temos que lidar com o aqui e agora e contando com os recursos que dispomos. Pensar, sonhar e idealizar futuros melhores e, inclusive, utópicos é o livre exercício do nosso intelecto em prol do nosso próprio desenvolvimento. Os ideais revolucionários mudaram a face do mundo e trouxeram a humanidade onde nos ora nos achamos, para o bem e para o mal. Então, negar possibilidade a novas ideias, em síntese, é combater a si mesmo.

    Entretanto, temos que focar no que desejamos, no que precisamos e no que podemos obter enquanto, seguindo o que Trotsky propôs em sua Teoria da Revolução Permanente, continuamos a lutar pelo ideal de longo prazo – no meu caso – uma sociedade justa. Milton Friedman, no outro extremo do pensamento econômico, preconizou:

    “[…] apenas uma crise real ou percebida produz a oportunidade real de mudança. Quando a crise ocorre, as ações tomadas dependem das ideias que estão postas em volta. Isso, creio eu, é a nossa função básica: desenvolver alternativas às políticas existentes, para mantê-las vivas e disponíveis até o politicamente impossível torna-se politicamente inevitável […]”. 

    Acho que isto marca uma grande diferença entre as ações da esquerda e da direita, em todos os ramos, quando, essencialmente, a primeira está idealizando o futuro, enquanto a segunda está pronta para implementar suas ideias na primeira oportunidade.

    Lula, foi o líder que entendeu isso. Com todas as críticas possíveis ao seu pragmatismo (que testou ao máximo os limites da ética), foi o único líder da esquerda que levou à realidade um pouco do ideário socialista onde se preocupa com a eliminação da desigualdade social e, consequentemente, econômica ou vice-versa.

    Meu comentário não tem a intenção de refutar o seu artigo com o qual, em linhas gerais, concordo. Aliás, acompanho com afinco seus textos no blog porque sempre trazem luz às incertezas e lacunas dos meus próprios pensamentos e, quando não as resolvem, levam-me à reflexão. Muito menos propor soluções, não as tenho. A minha intenção foi trazer à discussão, procurarando, resposta a duas questões inerentes à constante luta que travamos contra o atraso e a favor de uma sociedade, digamos, civilizada.

    A primeira questão é, justamente, o que seria possível fazer no Brasil atual em termos concretos e imediatos para recuperar as condições que, dada vez, permitiram que “a esperança vencesse o medo”. Sequer me refiro a Lula como agente dessa mudança, refiro-me mais a um ambiente político onde, expulsos os postiços e assemelhados, aflorasse a possibilidade fática de voltarmos ao rumo da inclusão e da extensão dos direitos de cidadania a todos os brasileiros.

    A segundo, deriva do que sou, realista, com forte senso do prático e do útil, objetivo por profissão, mas, todavia, um idealista por natureza. Os idealistas precisam de cautela, de prudência e de uma certa dose de ceticismo para não repetirem a sina que nos acompanha, a de sermos inocentes úteis. Concluo com um trecho de uma poesia vinda dos pagos do Sul que ilustra, por um meio lúdico, tal tragédia, tão comum quanto injusta e desalentadora.

    […]

    Sabe moço

    Depois das revoluções

    Vi esbanjarem brasões

    Prá caudilhos coronéis

    Vi cintilarem anéis

    Assinatura em papéis

    Honrarias para heróis

     

    É duro, moço

    Olhar agora pra história

    E ver páginas de glórias

    E retratos de imortais

    Sabe, moço

    Fui guerreiro como tantos

    Que andaram nos quatro cantos

    Sempre seguindo um clarim

     

    E o que restou?

    Ah, sim

    No peito em vez de medalhas

    Cicatrizes de batalhas

    Foi o que sobrou pra mim

    […]

                   Sabe moço, de Francisco Alves

    1. Bem, Brasiliensis

      Diante de suas incertezas, quase as mesmas que as minhas, só tenho a dizer que seria muito bom se um dia o acaso nos colocasse na mesa de um botequim, para um café ou algo menos nobre, mas também estimulante, para seguir nesse dominó, que me parece tão bem jogado por você em seu comentário.

      Quanto aos rótulos, embora existam zonas cinzentas, muitas vezes para confundir nossos verdadeiros ideais, esquerda e direita ainda é a melhor forma de expressá-los. E todos nós sabemos muito bem qual a diferença. Até no momento do voto.

      Abração

      1. Caro Rui,
        Seria um prazer

        Caro Rui,

        Seria um prazer dividir uma mesa de bar com você.. Quem sabe, um dia,nossos caminhos nosos caminhos se cruzem. 

        Em uma outra hora, quando o tema e o espaço o permitirem poderemos olhar melhor para essa questão de rótulos e como eles confundem mais do esclarecem.

        Abraços

  9. A esquerda tem que desligar o aparelho que mantém o zumbi

    O capitalismo é um morto vivo que só ainda sobrevive às custas da socialização dos seus prejuízos, nada obstante seus lucros sejam privatizados.

    1. Para evitar a sangria pelo capital, temos que lhe dar sangue

      De acordo com o Marx, capital is dead labour, that, vampire-like, only lives by sucking living labour, and lives the more, the more labour it sucks. The time during which the labourer works, is the time during which the capitalist consumes the labour-power he has purchased of him.

      Para evitar carnificinas como a primeira e segunda guerras mundiais, devemos alimentar o vampiro com sangue indefinidamente. É isso o que você propõe, Xará?

      Romulus e Arkx, eis porque a mecanização completa da produção será o fim do capitalismo. Mas, claro, o fim do capitalismo não significa, necessariamente, o fim da exploração e da opressão.

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