Ascensão social no Brasil: quanto mais cidadania, menos cidadania?, por Sérgio Reis

Ascensão social no Brasil: quanto mais cidadania, menos cidadania? Desafios para o projeto transformador

Uma pergunta fundamental que tem sido feita, constantemente, no debate público nacional, é: por que parte da sociedade que melhorou de vida nos últimos anos não apoia o governo que tem administrado o país enquanto esse processo tem ocorrido? Essa questão, por sinal, é parte de dúvidas mais amplas: por que tantos contingentes que ascenderam socialmente manifestam opiniões tão conservadoras sobre a política, a moral e os direitos de cidadania? Por que esta parece se situar como um desígnio ainda tão distante apesar dos avanços e progressos visíveis? E em que medida essa realidade se torna um freio para a transformação social?

O fenômeno da mobilidade social é parte intrinsecamente integrante das sociedades de classes (acredite-se, ou não, que a meritocracia seja a sua causa fundamental). Mundo afora, essas alterações na composição das classes ou estratos são um elemento comum às experiências de modernização capitalista, aos processos de transição do campo para a cidade e aos contextos em que governos socialdemocratas são eficazes na implementação de políticas mitigadoras da desigualdade. No Brasil, essa experiência de mobilidade tem ocorrido graças ao desenvolvimento de políticas públicas, de alcance nacional, que privilegiaram a inclusão social, o emprego e o incremento do consumo.

Em linhas gerais, pode-se argumentar no sentido de que o projeto implementado pelo Partido dos Trabalhadores, em sentido formal e material, impactou tremendamente a constituição da sociedade brasileira, sendo responsável, em várias searas, por uma espécie de “ingresso do Brasil na modernidade”: a dignificação de um expressivo contingente populacional a partir de políticas de segurança alimentar, o reforço do respeito ao patrimônio público a partir de ações sistêmicas de combate à corrupção, o desenvolvimento de iniciativas de equalização real de direitos e oportunidades entre todos (inclusive segmentos oprimidos e não reconhecidos) a partir de ações afirmativas e anticíclicas, etc. Ingressamos na modernidade a partir da circunstância de que a mobilidade social se tornou mais um feito viável do que um discurso e a senzala se aproximou e se integrou espacialmente com a casa grande (ainda que essas categorias ainda não tenham desaparecido), de forma inclusive a desconstituir, de certa maneira, as narrativas do “equilíbrio de antagonismos” e da “democracia racial”, que contaram, com alguma propriedade, parte da história do Brasil. Incômodos e adversidades decorrem desses processos, ao ponto de obstaculizar os próximos avanços necessários. O que é que estaria acontecendo?

Um componente peculiar à realidade brasileira, que dá a momentos históricos como esse um caráter particularmente tenso, é a existência, no discurso e nas práticas das classes estabelecidas, de um ethos carregado de valores compreendidos historicamente pela literatura como conservadores, os quais expressam variadas formas de negação da cidadania como um ativo necessário à constituição do país. A implicação prática disso, conforme adiante, é a ampliação significativa das dificuldades contidas na continuidade do projeto transformador vigente.

Se em tantos outros países que passaram por esse contexto de transformação de forma, também, não pacífica, no Brasil há conjuntos de elementos que tornam essa passagem mais dolorosa, em especial a partir da força de um discurso e de uma prática anti-Estado nas classes intermediárias e superiores (ainda que a dependência dele para o sucesso delas, na prática, tenha sido historicamente elevado, dada a centralidade do patrimonialismo e do rentismo para a constituição das riquezas desses segmentos), e de uma associação dessas rejeições ao PT. O tão comentado antipetismo contém nuances e caracterizações que precisam ser desveladas, caracterizadas e qualificadas.

Como parte necessária desse processo de integração dos segmentos ascendentes às novas posições no tecido social (que contém outros espaços, outros costumes, outras sensibilidades e outros lugares comuns quando comparado ao ambiente de exclusão ou precarização do qual saíram) está, como estratégia de aceitação ou de sobrevivência no novo meio, a incorporação dessas constituições que conformam os discursos e práticas das classes “receptoras”. Se os valores que compõem os padrões de civilidade dos segmentos estabelecidos não são pautados pelo apreço à cidadania, os novos ascendentes, ao mesmo tempo, não efetuaram esse trânsito rumo a novas posições de poder, prestígio e dignidade socioeconômica assessorados por um suporte formativo por parte do Estado para desenvolverem uma apropriação daquilo que seria um “afeto republicano”.

Sob variadas formas, então, a combinação entre a ascensão social (via consumo), o contato com valores das classes superiores e o desamparo do Estado no desenvolvimento de políticas públicas que ou tenham essa vocação formativa como diretriz – ou expressem, como forma, outros valores que não os da integração ao mercado – contribui para uma evidente despolitização (ou melhor, uma antipolitização) de parte desses novos segmentos. Mas o que seriam esses discursos e práticas das classes estabelecidas que precisam ser apreendidas em nome da sobrevivência social e que não prezam pelo reforço à cidadania?

Por aqui, um dos ingredientes da nossa condição parece ser uma espécie de “pedagogia da opressão”, que realiza uma versão mais escrachada do liberalismo. A força, a ética ou a dignidade individual estão, em um sentido, em uma aparente negação do Estado: tem mérito quem sobe na vida ou quem se mantém em patamares sociais elevados sem o empurrão do governo (como se tantas e tantas escolhas tributárias, fiscais e de política pública, de modo geral, não beneficiassem continuamente os segmentos já privilegiados).

Em outro sentido, tem respeito e amparo quem ascende e enuncia a rejeição do conjunto de identidades que, em tese, comporiam o sentimento do campo social do qual, antes, o indivíduo fazia parte: se é negro, é mais íntegro se nega a existência do racismo ou é contra a política de cotas; se era pobre, é mais valoroso se se volta contra a concessão de auxílios pelo Estado, defende a meritocracia ou rejeita a desigualdade como um problema; se é mulher, tem mais legitimidade se “reconhece” a desigualdade de gêneros como um dado da realidade. E daí por diante. São simbolismos exarados naturalmente, p.ex., nos meios de comunicação e nas obras de ficção e que produzem fortes implicações na geração de padrões de sociabilidade intra e extraclasses – e que, é claro, possui um viés de rejeição condicionada à política e de pacificação e docilização dos agentes.

Evidentemente, esse mecanismo de opressão societal é poderoso porque não é eminentemente simbólico: ele produz realidades de segregação mesmo para quem tem dinheiro para bancar a ocupação daqueles espaços até então frequentados pelos setores já instalados. A aceitação dos novos chegados depende do abandono das identidades de classe, dos sentimentos de exclusão e dos valores comunitários – é preciso abandonar para ser lembrado. E, por suposto, a emulação desses novos códigos sociais por parte de quem passa a fazer parte desses meios é fundamental para que, inclusive, possam prosseguir no processo de ascensão social. Ou seja, existe uma retroalimentação, a partir de certo ponto, entre o capital econômico propriamente dito e o capital simbólico como motores do alpinismo social, notadamente em sociedades marcadamente desiguais.

Por uma dessas inversões fenomenais que compõem, como validade ética, os padrões de interação social no Brasil, atinge-se a “cidadania” quando o agente, que finalmente ascende economicamente, a rejeita. Quando, finalmente, se tem condições mínimas de sobrevivência e dignidade material, vige, para que ocorra a integração societal, o afastamento do Estado e das identidades originárias, de ex-subalternos e de ex-excluídos, as quais possuem, na verdade, vários elementos que estão mais próximos de uma conexão ideológica com o conceito e o fazer típicos do Estado Republicano, inclusive a aceitação básica de seu papel (o que é, como já dito, um acinte para os “de cima” e os setores intermediários da sociedade). É um mecanismo incrivelmente perverso para a consolidação da transformação social em sentido sistêmico, já que os valores do mercado, por definição, jamais poderão substituir os da solidariedade, de verve comunitária, ou a sua conversão republicana, trazida a partir da ideia de espaço público propugnada pelo Estado. Sem uma intervenção nessa lógica, a República será, sempre, um projeto interrompido e incompleto, não importando quantos e quantos ascendam, quão menor pareça ser, estatisticamente, a desigualdade. A cidadania, nesse modelo liberal-conservador do Brasil, será, no limite, o seu negativo.

Um complicador para esse já adverso cenário é a circunstância de a faceta moral do conservadorismo já ser, em parte, um componente integrante da gramática relacional do Brasil “de baixo” – que não é, por suposto, uma folha em branco, e conviveu historicamente com o conjunto de emanações opressoras dos de cima com poucas oportunidades de experienciarem a alteridade. Sendo a hierarquia – o coronelismo, o machismo, o racismo – a ordem do dia, difícil é conceber a produção de um negativo disso quando não estão à disposição discursos e práticas distintos em outros setores da sociedade. Pior ainda, quando notamos que a alternativa a isso foi a tentativa de conversão, em política pública, de formas de realização do freyreano “equilíbrio de antagonismos” – capaz de destensionar a opressão ao ponto de mitigar, eventualmente, a supressão da vida dos inferiores como costume institucional, sem jamais, é claro, viabilizar noções mínimas de justiça social, dignidade, democracia e solidariedade.

De todo modo, é preciso reconhecer que o eventual conservadorismo do oprimido brasileiro é distinto daquele expresso pelas classes intermediárias das quais poderão vir a fazer parte, visto que a diferença na posição ocupada na estrutura social gera apropriações e experiências peculiares desse ethos conservador. O problema fundamental se insere no fato de que a ascensão social cria novas modalidades de opressão para o (ex-) excluído, que agora crê na existência de uma expansão colossal de direitos a partir de sua dignificação pelo consumo sem que a nova posição, na verdade, lhe dê acesso a uma compreensão mais hermenêutica e mais favorável com relação ao Estado. Pelo contrário, a possível proximidade de outrora se torna afastamento, inclusive como sinal de status herdado das classes médias estabelecidas (que em geral não nutriram essa proximidade com os serviços e domínios públicos).

A eventual colisão que vem a existir entre estabelecidos e ascendentes produz para os primeiros o incômodo da nova concorrência (que gera o esvaziamento do “direito à desigualdade”, da excepcionalidade do status), e para os segundos, uma espécie de sentimento de desterro. A tensão pode produzir repercussões políticas, mas não a politização da sociedade, já que nem as classes estabelecidas, nem as ascendentes enfrentaram processos de formação. Mas o resultado disso, é claro, não é a neutralidade ideológica, mas sim a formatação de uma identidade de classe, numericamente alargada pelos novos contingentes que ingressam, mas eminentemente conservadora a partir dos valores do segmento receptor, diante do silêncio do Estado.

Cria-se, de toda essa combinação, uma bomba-relógio anti-cidadania e antirrepública: quanto mais a ascensão se consolida e menos o Estado tensiona a conformação de outros valores nesses setores, mais a cooptação ideológica de classe tem efeito, e mais o desapego à cidadania se acentua. Na verdade, então, tende-se a se desfazer a tensão política a respeito da necessidade de mais ou menos Estado para uma frágil polarização entre formas de atuação negativa dessa institucionalidade: defesa da preservação ambiental sincronizada à aliança com o capital financeiro, expansão de equipamentos educacionais e de saúde a partir de parcerias com o setor privado, demandas por redução da tributação, etc. Nesse meio de transição, corre-se o risco de se enfraquecer o ativismo republicano e os projetos partidários que com ele se conectam.

Obviamente, há um rebatimento desse casamento entre a consolidação dessas classes intermediárias e a incorporação de um ethos conservador, voltado a despir origens, e os processos político-eleitorais. Parte desse mecanismo de legitimação da recepção de classe reverbera na assunção e na enunciação de candidaturas que expressem os mitos conservadores-liberais, como a meritocracia (e a não interferência do Estado) e os valores de mercado. Quando esses processos de inclusão social contidos em projetos modernizadores não possuem como núcleo a formação de sujeitos para a vida ativa (para o fazer político, para a realização consciente da cidadania – com base na consolidação, como projeto republicano, dos valores de solidariedade que marcaram, inclusive, a experiência prévia da exclusão social por eles vivida), é possível que os próprios projetos socialdemocratas que viabilizaram as transformações nas estruturas de classe de um país venham a ser refreados.

De certa forma, esse é um risco latente vivido pela sociedade brasileira, em especial diante da persistência de fenômenos como a persistência do controle dos meios de comunicação por oligopólios, dos níveis ainda modestos de políticas públicas de educação, da vigência, nesse e em outros meios, de valores privatistas, e da resiliência de marcas mais amplas da tradição brasileira, como as gramáticas do patrimonialismo e do “direito à desigualdade”, mesmo após a redemocratização e a consolidação de políticas de transferência de renda.

Não há como não se pensar, de uma perspectiva progressista, em um novo ciclo de transformações sociais que deixe de reconhecer a necessidade de enfrentar, com planejamento e vigor, esses obstáculos mais duros, sob a pena de, após todos esses anos, termos feito avanços fundamentais para a constituição de uma República, sem, contudo, penetrarmos nos meandros que impedem a conformação de um país solidamente assentado na igualdade e na solidariedade – componentes essenciais para uma refundação emancipatória do Brasil.

Se não tivermos claramente o diagnóstico sobre quais os problemas que devemos enfrentar, quais os desafios contidos nessa luta, quais os caminhos e passos a percorrer para vencê-la e quais os nossos objetivos reais, poderemos não realizar o projeto, caro à esquerda, da realização de uma profunda e duradoura transformação social, mesmo que a candidatura que mais esteja em condições de realizá-la neste cenário específico (a de Dilma Rousseff, obviamente) venha a sagrar-se vencedora das eleições de Domingo.

Por isso, é fundamental que as forças progressistas consigam se aglutinar agora e depois, para que, com sabedoria e senso de realidade, seja possível aprofundar as reformas em curso, tendo-se em vista que, sem sombra de dúvidas, chegamos a um momento nevrálgico do processo de modernização do país levado a cabo pelo PT – e, portanto, nos situamos num ponto em que as resistências serão cada vez maiores, e os desafios para a consolidação da mudança, igualmente mais significativos. Novos passos precisarão ser delineados e percorridos, novos choques simbólicos e fáticos com o status quo deverão ocorrer. De outra forma, o projeto transformador, certamente, chegará em 2018 sem avanços e combalido, já que as estruturas que resistem são, por evidente, poderosas – especialmente diante da lacuna formativa existente no bem sucedido, mas incompleto projeto de inclusão social.

Em sentido prático, isso significa, por exemplo, saber atacar o rentismo historicamente vigente na política econômica; as manifestações patrimoniais e tributárias da desigualdade; o elitismo e o corporativismo contido nas práticas políticas institucionais (e o isolacionismo aristocrático do Judiciário); o autoritarismo venal e inimputável dos meios de comunicação; a ausência de solidariedade nas práticas médicas; a persistência de valores que aproximam educação, mercado e formação para o trabalho e que afastam o primeiro termo da formação para a cidadania, entre tantas e tantas outras lutas. Há, por baixo das disputas pela constituição das políticas públicas, lutas pela definição do papel do Estado, da sua importância para o tecido social, e dos valores que devem informar toda a sua atuação.

O ponto é que nos aproximamos, em diferentes áreas de política pública, da consagração de esforços de universalização (que expressam, em boa medida, o que estou chamando de “ingresso à modernidade”), o que nos força a modificação do patamar dos feitos do Estado para esforços de qualificação – que incomodarão de forma ainda muito mais significativa os interesses dos setores conservadores, já vilipendiados pelo incômodo sofrido diante dos ataques ocorridos nessa década ao seu “direito à desigualdade”. Claro que não há trade off entre ambos (e há muito o que fazer, p.ex., em políticas de infraestrutura do ponto de vista da universalização), mas parece ficar cada vez mais evidente que é preciso encarar o projeto da transformação social a partir da outra frente mencionada.

Que se tenha clareza, então, para escolher as lutas – já que, sabidamente, não será possível encará-las todas, simultaneamente – e para definir, planejar e organizar, com acurácia e sem mero voluntarismo, como serão enfrentadas, exatamente para que haja condições de vencê-las. Apenas com essa mentalidade – e com as forças de esquerda mais próximas entre si – é que haverá condições de se aproveitar esse momento crítico que estamos vivendo para se realizar os combates necessários capazes de evitar, no limite, que o projeto de desenvolvimento levado a cabo pelo PT não seja interrompido nem por fadiga de material, nem por esgotamento, nem por falta de sensibilidade estratégica e ideológica para compreender em que ponto das lutas nós estamos neste momento. Pois os próximos anos, sem o engajamento (político) dos segmentos que ascenderam socialmente ao longo da implementação do projeto (e, na verdade, com a sua oposição a ele), serão consideravelmente mais difíceis para a implementação de projetos progressistas e para as vitórias eleitorais, mesmo as da centro-esquerda.

Redação

15 Comentários

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  1. Há uma máquina de propaganda atuando todo-dia-o-dia-todo…

    … na defesa dos privilégios indecentes da casa-grande: PiG.

    O PiG é o sustentáculo do atraso econômico, social e político no Brasil.

     

    É preciso politizar o debate político e abrir o horizonte da massa que experimenta a ascensão social.

  2. O exemplo vem de cima

    Qual a dúvida? Desde quando riqueza é sinal de educação?

    As nossas zélites ignorantes que o digam!

    Quem chega lá ou quer chegar lá copia o modelito.

    O PT cuidou muito da economia e pouco da política.
     

  3. Relâmpago de lucidez

    Meus profundos agradecimentos ao autor,  por me trazer tão importanbte abordagem que vai certamente me ajudar no desafio diário e permanente de construção da cidadania. Foi como um relâmpago que mostrou-me a realidade que me cerca como brasileiro republicano e, penso, progressista. Agradecido também ao Luis Nassif pela importante valentia do espaço. Esta é uma agenda que vale a pena, emociona, inclui, civiliza, enfim: melhora a vida da nação brasileira. Desculpem o sentimento. 

  4. O Nassif diz “Desde o

    O Nassif diz “Desde o aparecimento de tecnologias de transmissão, especialmente após o advento da TV aberta, em todo mundo democrático os grupos de mídia tornaram-se os personagens mais influentes do mercado de opinião, mais do que as religiões, os sindicatos e os próprios partidos políticos.

    Como fazer o povo querer a regulaçãoda midia? Chaves teve mais sucesso neste sentido. O que me anima é morar na America Latina, onde outras nações já colocaram como prioridade amadureecendo para que o Brasil acompanhe.

    Dilma que foi republicanamente no aniversário da Folha agora precisa dar passos firmes na direção do equilibrio na informação. Publicidade estatal

    Quanto ao Judiciario indicar o De Sanctis………

  5. a união dos progressistas é

    a união dos progressistas é fundamental para

    avançarmos nas conquistas sociais.

    lembro do tempo da ditadura em que o regime cívico-militar

    de 64 retirou todos os direitos dos cidadãos,

    dos sindicatos, dos parttidos.

    etc e tal.

    para voltar a instituionalizar esses sgmenos foi uma  luta enorme.

    parece que esse tipo de luta não acaba nunca.

     

  6. Um excelente post!

    Um ponto que eu gostaria de ver abordado neste post, excelente e sem reparos, seria o autor abordar como esta classe ascendente serviria de massa de manobra, paisanos que são, nos digamos ajustes econômicos, a serem promovidos numa economia neoliberal, de modo mais claro, nas demissões dos novos “pseudo-ricos”, para fazer mais caixa para aplicações no mercado financeiro com taxas de juros estratosféricas do tipo 45% ao mês no desgoverno fhc?

     

  7. SS, ao invés de meritocracia, não caberia oportunidade ??

    O SS escreveu: “O fenômeno da mobilidade social é parte intrinsecamente integrante das sociedades de classes (acredite-se, ou não, que a meritocracia seja a sua causa fundamental)”.

    Meu contraponto:

    Observadores e profissionais de RH já verificaram nos ambientes organizacionais que a meritocracia é um mecanismo eficiente quando equipe/performance são medianas ou abaixo da média, mas pouco eficiente quando a equipe/performance são de níveis médio a alto.  
    Em geral a meritocracia premia os “60% melhores” escalonadamente e tenta reciclar ou eliminar os “40% piores”, e o pior desse processo, algumas vezes é preciso “forçar esse ranking”, e os resultados são um esgarçamento no ambiente e relações humanas.
    Minha conclusão, já repararam que o Aécio bate incansavelmente na tecla da meritocracia ao passo que Dilma reforça o caráter da oportunidade ?, ou seja, mesmo nos critérios mais atuais de gestão os tucanos ficaram para trás !! 

  8. Lendo este artigo, tive uma

    Lendo este artigo, tive uma espécie de epifania. Consegui vislumbrar a chance de que uma eventual derrota de Dilma no segundo turno possa resultar em pelo menos algo de bom: o retorno do PT à oposição, onde teria (ao menos em tese) muito mais margem de manobra para interagir com movimentos sociais, produzir e difundir um discurso de esquerda.

    Concordo com o Sergio Reis: a despolitização e a diluição dos valores igualitários/progressistas estão atingindo uma escala alarmante na sociedade brasileira, enquanto a velha ideologia do “direito à desigualdade” parece cooptar parcelas crescentes até dos recém beneficiados pelas políticas de inclusão social dos governos Lula-Dilma. A eleição de um número cada vez maior de parlamentares de extrema direita (Bolsonaro, Feliciano, etc.) também aponta nesse sentido.

    Se Dilma ganhar esta eleição, terá de fazer o melhor governo possível. Ora, governar, até onde percebo, exige transigir, entrar numa lógica de compromisso. É preciso obter resultados, gerenciar o país, fazer diferença na vida das massas… Mas todo conflito de monta tende a atrapalhar o andamento dos projetos, sugar energia e recursos; reduz, no limite, o governo à inoperância. Se ganhar a Presidência, o PT tenderá necessariamente à conciliação, à “pacificação”; a maldita “governabilidade” exigirá um preço ainda mais alto em concessões e amaciamento de discurso. A correlação de forças após uma vitória apertada será desfavorável a embates difíceis – como o da necessária regulação da mídia, por exemplo. Com o Judiciário que temos?

    Por outro lado, a meu ver, um governo não pode assumir o papel de “educador” e “tutor” das massas sem produzir burocratização, aparelhamento e castração dos movimentos sociais. Estes só mantêm sua pujança na medida em que conservam a própria independência e extraem sua força do ímpeto reivindicatório dos seus integrantes. Só “pela base” é que os subalternos podem fomentar e difundir uma visão de mundo alternativa ao patrimonialismo hierárquico das camadas “senhoriais”, que se auto-legitimam pela ideologia meritocrática.

    Parênteses: A biografia de Aécio Neves é um “case” exemplar do ethos e modus operandi de nossas elites – que denomino, provisoriamente, “Meritocracia de nascimento”. Nomeação para cargo público aos 17 anos de idade pelo próprio pai, sem sequer precisar comparecer ao trabalho; nomeação para alto cargo de gerência aos 25 anos; nepotismo desbragado; desvio de dinheiro público em benefício da parentela (os Aecioportos!); financiamento de empresas familiares de comunicação através de verbas públicas; episódios de burla à lei; escândalos públicos; hábitos pouco ortodoxos, etc. – nada disso o impede de ser ungido o candidato de oposição conservadora, com um discurso moralista de “combate à corrupção”. Pelo contrário, as elites senhoriais reconhecem nele seu legítimo representante! As ilicitudes e imoralidades de Aécio talvez até contribuam para isso…. Meritocratas de nascimento não precisam obedecer a leis. Só os subalternos. E urge corrigir a “corrupção” dos que insistem em esquecer quem é que manda, por direito divino: quem deve ter acesso a universidades, quem tem direito a bons empregos, quem deve poder comprar itens “exclusivos” de consumo etc.

    Voltando ao argumento deste post: se Dilma vencer, talvez a única saída para o PT fugir à burocratização/despolitização seja buscar a parceria de movimentos sociais na elaboração, aplicação e controle de políticas públicas. A interlocução com esses atores e outros partidos de esquerda talvez ajudasse um partido no governo a fazer política, além de governar – mas nunca, repetimos, com a mesma margem de manobra com que contam oposições livres da responsabilidade pelo destino de milhões de pessoas, num país de tantas carências, problemas e misérias como o Brasil.

     

  9. Lendo este artigo, tive uma

    Lendo este artigo, tive uma espécie de epifania. Consegui vislumbrar a chance de que uma eventual derrota de Dilma no segundo turno possa resultar em pelo menos algo de bom: o retorno do PT à oposição, onde teria (ao menos em tese) muito mais margem de manobra para interagir com movimentos sociais, produzir e difundir um discurso de esquerda.

    Concordo com o Sergio Reis: a despolitização e a diluição dos valores igualitários/progressistas estão atingindo uma escala alarmante na sociedade brasileira, enquanto a velha ideologia do “direito à desigualdade” parece cooptar parcelas crescentes até dos recém beneficiados pelas políticas de inclusão social dos governos Lula-Dilma. A eleição de um número cada vez maior de parlamentares de extrema direita (Bolsonaro, Feliciano, etc.) também aponta nesse sentido.

    Se Dilma ganhar esta eleição, terá de fazer o melhor governo possível. Ora, governar, até onde percebo, exige transigir, entrar numa lógica de compromisso. É preciso obter resultados, gerenciar o país, fazer diferença na vida das massas… Mas todo conflito de monta tende a atrapalhar o andamento dos projetos, sugar energia e recursos; reduz, no limite, o governo à inoperância. Se ganhar a Presidência, o PT tenderá necessariamente à conciliação, à “pacificação”; a maldita “governabilidade” exigirá um preço ainda mais alto em concessões e amaciamento de discurso. A correlação de forças após uma vitória apertada será desfavorável a embates difíceis – como o da necessária regulação da mídia, por exemplo. Com o Judiciário que temos?

    Por outro lado, a meu ver, um governo não pode assumir o papel de “educador” e “tutor” das massas sem produzir burocratização, aparelhamento e castração dos movimentos sociais. Estes só mantêm sua pujança na medida em que conservam a própria independência e extraem sua força do ímpeto reivindicatório dos seus integrantes. Só “pela base” é que os subalternos podem fomentar e difundir uma visão de mundo alternativa ao patrimonialismo hierárquico das camadas “senhoriais”, que se auto-legitimam pela ideologia meritocrática.

    Parênteses: A biografia de Aécio Neves é um “case” exemplar do ethos e modus operandi de nossas elites – que denomino, provisoriamente, “Meritocracia de nascimento”. Nomeação para cargo público aos 17 anos de idade pelo próprio pai, sem sequer precisar comparecer ao trabalho; nomeação para alto cargo de gerência aos 25 anos; nepotismo desbragado; desvio de dinheiro público em benefício da parentela (os Aecioportos!); financiamento de empresas familiares de comunicação através de verbas públicas; episódios de burla à lei; escândalos públicos; hábitos pouco ortodoxos, etc. – nada disso o impede de ser ungido o candidato de oposição conservadora, com um discurso moralista de “combate à corrupção”. Pelo contrário, as elites senhoriais reconhecem nele seu legítimo representante! As ilicitudes e imoralidades de Aécio talvez até contribuam para isso…. Meritocratas de nascimento não precisam obedecer a leis. Só os subalternos. E urge corrigir a “corrupção” dos que insistem em esquecer quem é que manda, por direito divino: quem deve ter acesso a universidades, quem tem direito a bons empregos, quem deve poder comprar itens “exclusivos” de consumo etc.

    Voltando ao argumento deste post: se Dilma vencer, talvez a única saída para o PT fugir à burocratização/despolitização seja buscar a parceria de movimentos sociais na elaboração, aplicação e controle de políticas públicas. A interlocução com esses atores e outros partidos de esquerda talvez ajudasse um partido no governo a fazer política, além de governar – mas nunca, repetimos, com a mesma margem de manobra com que contam oposições livres da responsabilidade pelo destino de milhões de pessoas, num país de tantas carências, problemas e misérias como o Brasil.

     

  10. Esse texto é para ser lido e relido. Parabéns ao autor.

    Li com pressa agora. Por conta da ansiedade com a eleição. Mas voltarei aqui porque o tema me interessa. Intriga mesmo.

    Tanto que, na semana passada, a matéria sobre as eleições na Bolívia, na Carta Capital, chamou minha atenção ao apontar que a extrema polarização existente no país desapareceu e que, junto com o crescimento, a urbanização e a redução das desigaldades ocorrida nos últimos oito anos do governo Morales, houve um apagamento das identidades étnicas e culturais da população: “Não é irrelevante que apenas 42% dos bolivianos tenham se autoidentificado como indígenas no Censo de 2012, ante 62% em 2001”.

    Quer dizer, no caso deles, a identidade indígena, que representava a marginalidade e o embate com a domínio dos brancos, é algo que não deve fazer parte do novo ethos dos que ascenderam, em termos de renda e consumo, embora isso tenha ocorrido, justamente, em razão da política de inclusão social de Evo Morales.

    Enfim. Obrigada pelo texto, Sérgio.

     

  11. Isto é assim porque???

    O estado não está na classe média muito menos na alta.

    Quando falo estado é a parte de serviços desde a entrega de medicamentos até a fiscalização do pagamento de tributos.

    Por isto estas duas classes são as que mais sonegam. E reclamam do governo.

  12. Patrimonialismo, cultura do favor e do “apadrinhamento”

    “A força, a ética ou a dignidade individual estão, em um sentido, em uma aparente negação do Estado: tem mérito quem sobe na vida ou quem se mantém em patamares sociais elevados sem o empurrão do governo”

    Ao mesmo tempo que condenam o protagonismo estatal, os ditos “liberais” (que de liberais só ostentam o título) proprietários/rentistas/donos/homens de benz desejam ser os benfeitores a quem “os de baixo” devem eterna gratidão em uma relação de servilismo feudal, explico:

    Assistencialismo piedoso da bondade cristã e desapegada a troco de gratidão leal e sabujeira pode…

    Universalização de direitos como política de Estado que alcança a maioria (e não apenas os “apadrinhados” escolhidos pela docilidade) a troco de participação na urbe constituindo cidadania não pode…

    E la nave (feudal) va.

    Sérgio nos lembrando que a luta é diária, artigo lúcido e certeiro!

     

     

  13. Segmentos previlegiados

    Sérgio, você não abordou entre os “privilégios” o recolhimento obrigatório na fonte do imposto sobre salários . Eu e você sabemos que salário não é renda no Brasil, já que não podemos descontar os valores reais, como na educação por exemplo. 

  14. excelente artigo

    o artigo é excelente;

    mas gostaria de pontuar algumas coisas:

    – O PT precisa voltar a se comunicar com as bases; e isto é urgente!
    Menos reunião de gabinete e mais reunião com o povo.
    Isto pode ser feito com ou sem aprovação do projeto de lei que prevê regulação dos conselhos populares.
    Precisa dar mais espaço aos jovens, as novas lideranças.

    – Boa parte do ódio é propagado por programas sensacionalistas, cuja  ascenção se deu com o Ratinho. 
    A maioria deles passa a tarde e pregam o “fuzilamento” dos mais pobres, dos pequenos bandidos, a maioriadade penal e penas mais duras. Muitos destes programas trazem para tela um “povo bizarro”, “extereotipado”. Quando uma pessoa assiste estes programas fica horrorizada.  Fica com medo e quer a “volta do passado”.
    Tem de buscar formas de reduzir este tipo de programa; pois não produzem nada de bom e só ressaltam o lado ruim das pessoas; enfim, pregam e disseminam o ódio!

     

     

     

  15. Lembro da propaganda da primeira eleição do Lula

    onde um rapaz negro fala que o problema no Brasil era falta de oportunidade a todos; lembrei dessa propaganda lendo esse artigo porque hj realmente a população tem mais oportunidades, mais empregos, consegue fazer universidade; só precisa melhorar a educação de base, mas, leva tempo…

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