Descriminalização do consumo de drogas entra para debate da ONU

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Gunter Zibell

ONU sugere pela primeira vez a descriminalização do consumo de drogas

De Uol

Por Luis Lidón

A ONU admite em um documento elaborado para uma reunião na próxima semana em Viena que os objetivos na luta mundial contra as drogas não foram cumpridos até agora e sugere pela primeira vez a descriminalização do consumo de entorpecentes.

“A descriminalização do consumo de drogas pode ser uma forma eficaz de ‘descongestionar’ as prisões, redistribuir recursos para atribuí-los ao tratamento e facilitar a reabilitação”, afirma um relatório de 22 páginas do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), ao qual a Agência Efe teve acesso.

A UNODC não quis fazer comentários à Efe sobre o conteúdo do documento, mas várias fontes diplomáticas especializadas em política de drogas concordaram que é a primeira vez que o organismo menciona a descriminalização de forma aberta.

A descriminalização do consumo pessoal, já aplicado em alguns caso no Brasil e vários países europeus, supõe que o uso de drogas seja passível de sanções alternativas ao encarceramento, como multas ou tratamentos.

No caso específico do Uruguai foi legalizada a compra e venda e o cultivo de maconha, e estabelecida a criação de um ente estatal regulador da droga.

Em qualquer caso, a descriminalização não representa uma legalização nem o acesso liberado à droga, que segundo os tratados só pode ser usada para fins médicos e científicos, mas não recreativos. Portanto, o consumo seguiria sendo sancionável (com multas ou tratamentos obrigatórios), mas deixaria de ser um delito penal.

A UNODC assegura no relatório que “os tratados encorajam o recurso a alternativas à prisão” e ressalta que se deve considerar os consumidores de entorpecentes como “pacientes em tratamento” e não como “delinquentes”.

Na próxima quinta-feira (13) em Viena, a comunidade internacional avaliará na Comissão de Entorpecentes da ONU a situação do problema das drogas e se foram cumpridos os objetivos pactuados em 2009 em um roteiro para uma década, quando em 2014 já se percorreu a metade do caminho.

Em 2009, os Estados da Comissão adotaram uma Declaração Política que previa que se “elimine ou reduza consideravelmente” a oferta e a demanda de drogas até o ano 2019, um ambicioso objetivo que por enquanto está longe de ser cumprido.

Para o debate deste ano, a UNODC elaborou este relatório, assinado por seu diretor executivo, o russo Yury Fedotov, no qual avalia a situação atual da luta contra as drogas.

ENTENDA O FUNCIONAMENTO DO TRÁFICO MUNDIAL DE DROGAS

O relatório aponta progressos “desiguais”, mas reconhece que “a magnitude geral da demanda de drogas não mudou substancialmente em nível mundial”, o que contrasta com os objetivos fixados em 2009.

Apesar de a UNODC ressaltar que o mercado da cocaína e o do cannabis se reduziram, reconhece que o aumento dos estimulantes sintéticos, mais difíceis de detectar, e a recente aparição de centenas de novos entorpecentes de última geração enfraquecem esses avanços.

A prevalência mundial do consumo de drogas continua assim “estável” em torno de 5% da população adulta, e as mortes anuais causadas por seu consumo se situam em 210 mil pessoas.

A UNODC admite as dificuldades para precisar as tendências globais das drogas pela carência de dados fidedignos sobre o narcotráfico, o dinheiro lavado dos entorpecentes e a fabricação de substâncias sintéticas, entre outros aspectos.

A queda do consumo de drogas nos países ricos se viu compensada com um aumento nos países em desenvolvimento, que não estão tão preparados nem têm recursos suficientes, lamenta a UNODC.

Também se indica que “o tráfico de drogas desencadeou uma onda de violência” na América Latina e que em “alguns países da América Central se registraram os índices de homicídio mais elevados do mundo, frequentemente com números de mortos superiores aos de alguns países afetados por conflitos armados”.

Em seguida, se destaca que alguns líderes latino-americanos chamaram atenção para os enormes recursos que movimentam os narcotraficantes e solicitaram, segundo a UNODC, que “se examinem os enfoques atuais do problema mundial da droga”.

O relatório assinala que “é importante reafirmar o espírito original dos tratados, que se centra na saúde. O propósito dos tratados não é travar uma ‘guerra contra as drogas’, mas proteger a ‘saúde física e moral da humanidade'”.

O documento insiste que a legislação internacional sobre drogas é flexível o bastante para aplicar outras políticas, mais centradas na saúde pública e menos na repressão.

No entanto, a UNODC adverte que menosprezar as leis internacionais contra as drogas piorará a situação, já que “um acesso não controlado às drogas” ajuda “o risco de um aumento considerável do consumo nocivo de entorpecentes”.

Além disso, salienta a importância da prevenção e do tratamento, e ressalta que os direitos humanos devem ser respeitados sempre na hora de combater as drogas e critica a aplicação da pena de morte por delitos de tráfico ou consumo de entorpecentes.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Isso. Tem que liberar tudo e

    Isso. Tem que liberar tudo e qualquer tipo de droga. A proibição não inibe o consumo nem dominui o numero de viciados. Trazendo para a luz do dia este comercio e o consumo há como os governos, pelo menos, tentarem controlar a quantidade de consumo, pela orientação, aos individuos.

    Por que permitir a matança de tantas pessoas para que marginais possam manter seu vicio e os mega traficantes aumentarem seus lucros? Onde está a logica disso? Só porque é pecado consumir drogas? E matar e roubar não são tambem?

  2. O CONSUMO DE DROGAS SE COMBATE COM EDUCAÇÃO

    Somente com abrangentes e massivos programas de combate ao fumo, álcool e demais drogas, mostrando as complicações para a saúde dos usuários e, indiretamente, os males que causam aos seus familiares diretos e à toda a sociedade como um todo é que estaremos fazendo alguma coisa para conter os vícios. É de pequenino que se torce o pepino. Esses programas teriam como público-alvo crianças em idade escolar, adolescentes e, também, adultos drogados ou não. A cada dia que passa sem atitudes fortes contra as drogas é mais um dia perdido no futuro para a sociedade. Dizer que a sociedade perdeu a guerra para a criminalidade. Isso  é aceitar passivamente a drogatização geral da população, com todos os malefícios daí advindos. É pura e tão somente covardia e falta de vontade política para fazê-lo. Alô, alô politicalha brasileira: é para hoje mesmo! 

  3. Santa ingenuidade……

    Defender a liberação das drogas, com o argumento de que irá acabar com a criminalidade e lucros dos traficantes, é o mesmo que enxugar gelo!!!

    Na minha visão, liberar nada mais vai que criar um mercado paralelo de tráfico, onde os viciados, ou como gostam, os usuários, continuarão sendo escravos, só que mudarão de donos!

    Além do mais, estarão, estes contingentes, aumentados em muito, e proporcionarão um exército de alienados, que afinal é o sonho de todos os governantes!

    Zumbis já somos, alguns até se rebelam, mas a maioria irá certamente se sentir muito felizes!!!

    Viajarem indefinidamente!!!! Êta escravos……..

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