As bolsas de mestrado para professores do ensino médio

(Atualizado em 22 de março, às 14h30)

Segunda-feira, 21 de março de 2011 às 18:02  

Professores do ensino básico público terão bolsas de mestrado pela Capes

O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira (21/3) a criação de bolsas de mestrado à distância para professores da educação básica por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A condição para aquisição do benefício será a permanência de, no mínimo, cinco anos na rede pública de ensino. O anúncio foi feito na cerimônia de outorga da Ordem Nacional do Mérito a 11 educadoras brasileiras, no Palácio do Planalto.

O ministro informou que os cursos deverão ser nas áreas de disciplinas aplicadas na educação, como matemática e biologia, por exemplo, e que além de garantir a melhoria da educação por meio do aperfeiçoamento dos professores, a medida visa incentivar o aumento da oferta dos cursos de mestrado para educadores. Haddad disse que a intenção é que as universidades reajam à provocação feita pelo MEC e ofereçam mais cursos.

“Queremos garantir o prosseguimento do estudo do professor, agora com mais que uma especialização. Seguindo a experiência dos países desenvolvidos do ponto de vista educacional, nós vamos estender as bolsas de mestrado para os profissionais da escola pública que tenham interesse neste diploma ”, explicou o ministro.

 

A cada mês de março, o benefício será liberado e terá vigência máxima de 24 meses. Existe, também, a possibilidade de concessão de bolsas para mestrados presenciais, desde que em cursos aprovados pela Capes e consideradas algumas situações de interesse específico do Estado. O não cumprimento do compromisso de cinco anos de exercício em escola pública, após o curso de mestrado a distância, implicará a devolução dos recursos.

Fernando Haddad frisou, ainda, que será permitido aos professores acumular o salário e o valor da bolsa, uma vez que o mestrado não exigirá dedicação exclusiva. A medida faz parte de um conjunto de ações para elevar a qualidade da educação básica, definida pelo MEC como “área excepcionalmente priorizada”. A portaria que normatiza a concessão dessas bolsas será publicado no Diário Oficial da União de amanhã (22/3).

Obama no Brasil – Durante entrevista coletiva, o ministro da Educação afirmou que, em conversa com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que esteve em Brasília no último sábado (19/3), surgiu a proposta de ampliar o intercâmbio de estudantes e docentes entre Brasil e EUA. A meta “para ser alcançada em alguns anos”, informou Haddad, é atingir a marca de 100 mil intercambistas.

“Foi uma visita muito bem recebida tanto lá [nos Estados Unidos] quanto cá [no Brasil]. No que diz respeito à área da educação, eu tive a oportunidade de conversar com o presidente Obama, no Palácio da Alvorada, e ele reiterou o interesse dele ampliar em o intercâmbio de estudantes e docentes entre os dois países”, informou.

http://blog.planalto.gov.br/

Por Jotavê

A realização de um mestrado ou de um doutorado – mesmo à distância – irá melhorar o desempenho de um professor de segundo grau? Em alguma medida, sim. Esse professor terá (em princípio, pelo menos) contato com uma literatura mais sofisticada, aprenderá a desenvolver uma pesquisa, escrever um texto de fôlego, sustentar argumentos, e assim por diante. Irá sofisticar-se intelectualmente, e isso é bom.

Essa sofisticação deverá refletir-se no seu desempenho em sala de aula, e eventualmente abrirá a ele(a) a porta de ingresso para lecionar numa faculdade. O problema é que tudo isso pressupõe uma condição básica que dificilmente será satisfeita: que o mestrado seja bem feito. O problema não é de maneira alguma o fato de ser feito à distância. Orientação por e-mail e (por que não?) por MSN (e congêneres) pode ser tão eficiente quanto uma orientação “presencial”.

Quando um professor passa um período no exterior, não para de orientar seus alunos. Orienta à distância. E o rendimento não cai. Em muitos casos, até melhora, pois induz um contato mais qualificado, por escrito, em que as coisas são mais bem pensadas, ditas e digeridas. Nada contra o ensino à distância, portanto. O problema é de TEMPO e de PESSOAL qualificado.

Vejamos.

(1) Ninguém tem condições de fazer um mestrado se não puder dedicar quatro horas por dia à pesquisa. Um professor de segundo grau tem esse tempo? O ministro diz que não irá “exigir” dedicação exclusiva. Não seria o caso de exigir que o professor diminua drasticamente seu ritmo de trabalho durante o mestrado? A bolsa, afinal de contas, supre parte do salário que ele deixará de receber.

(2) Ninguém tem condições de orientar mais do que dez trabalhos de pós-graduação simultaneamente. Ainda mais em nível de mestrado, onde o acompanhamento tem que ser constante. Dez já é muito. Seis, sete seria o número ideal. Temos um número suficientes de doutores no Brasil para atender a essa demanda? Ou a ideia é despejar os professores de segundo grau em nossos departamentos, e ficar olhando apenas para os indicadores numéricos – quantos se titularam em quanto tempo, etc.?

Em síntese, eu duvido que a condição (1) possa ser cumprida sem prejuízo da educação no ensino das crianças (contratação de substitutos não-qualificados, e por aí vai), e duvido também que a condição (2) possa ser cumprida, dado o volume de professores que irão se candidatar à bolsa. Para variar, estamos começando a fazer o bolo pela cereja. Olhamos para os países desenvolvidos, vemos que eles têm um grande números de professores do ensino básico com mestrado e doutorado, e candidamente pensamos – “ora, pois, vamos fazer isso aqui…”.

Minha previsão é que gastaremos uma FORTUNA com isso, com resultados pífios. Precisamos de cursos de reciclagem FOCADOS NA DISCIPLINA MINISTRADA (e não, como temos hoje, focados em generalidades pedagógicas) e de um sistema de avaliação por mérito, que premie quem obtém os melhores resultados (considerados, é óbvio, os pontos de partida de cada um). No final das contas, a ideia do ministro parece ser fazer algo “semelhante” a isso, mas de maneira sindicalmente mais palatável. O mestrado faria as vezes de um curso de reciclagem (não fará: o mestrado tem outros objetivos), e premiraria por mérito, já que os que buscassem a especialização receberiam dinheiro extra (só que, mantendo seus rendimentos de professor, para acumulá-los com os da bolsa, o professor fará um mestrado de mentirinha, que só irá treiná-lo nas artes do fingimento).

Luis Nassif

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