Eleições municipais e o Ideb

Do Jornal da Ciência

O Ideb e as eleições municipais

de Luciano Mendes de Faria Filho 

Luciano Mendes de Faria Filho é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022. Artigo publicado no Estado de Minas de hoje (29).

O Ministério da Educação (MEC) divulgou em 14 de agosto o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) das escolas de todo o País. Para chegar ao índice de cada escola de um município, de um estado ou do País, o MEC conjuga as notas obtidas pelos alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio em avaliações nacionais com informações do censo escolar sobre a aprovação/reprovação dos alunos das escolas brasileiras. Como todo índice, ele é insuficiente para dar conta do conjunto de indicadores de qualidade da escola, mas é, certamente, um instrumento fundamental para o estabelecimento de políticas e ações visando à melhoria da escola básica.

E o que revela o Ideb? Revela que, de um modo geral, a qualidade da escola pública brasileira está muito aquém do que nossas crianças e adolescentes têm direito e merecem. Mostra, ainda, que as crianças que frequentam os anos iniciais do ensino fundamental (Ideb médio de 5,0) estão aprendendo muito melhor e mais rápido do que os adolescentes do ensino médio, cujo Ideb médio do País não passou de 3,7.

Percebe-se, pois, que há a necessidade de um enorme esforço por parte dos poderes públicos, dos professores, dos alunos e suas famílias para que possamos elevar a qualidade da escola básica como um todo. Mas, por outro lado, chama atenção a discrepância entre os resultados do ensino médio e dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º anos). O que explicaria esta diferença?

Entre os especialistas sobre o tema há certo consenso de que há um conjunto de fatores que formam, por assim dizer, um círculo virtuoso que favorece a melhor qualidade dos anos iniciais do ensino fundamental. Nessa etapa da escolarização, os alunos são acompanhados, de um modo geral, por um número reduzido de professores; boa parte dos professores tem formação específica para trabalhar com crianças dessa idade; as famílias tendem a acompanhar mais esse momento inicial da escolarização, entre outros fatores.

Além desses, há um outro aspecto muito relevante a impactar o aprendizado dos alunos dos anos iniciais: o aumento, mesmo que tímido, da cobertura da educação infantil em todo o País.

Considerando que, de um modo geral, a educação infantil e os anos da escolarização são de responsabilidade dos municípios, é de se esperar que os novos dirigentes municipais que assumirão as cadeiras no Executivo e no Legislativo no início do ano que vem, tomem consciência desses fatores – e de outros – que contribuem para a melhoria da qualidade do ensino fundamental e incrementem políticas de municipais de educação que os levem em conta.

Considerando, ainda, que os próximos dirigentes municipais deverão criar condições para expansão da obrigatoriedade da educação infantil para as crianças de quatro a cinco anos, é fundamental que a população escolha prefeitos e vereadores que apresentem claramente propostas para uma efetiva melhoria da qualidade da educação sob responsabilidade de seus municípios.

O que não podemos é continuar a ter políticas municipais de educação que, feitas de forma amadora e descontínua, não levam em conta as experiências passadas e os estudos científicos sobre a questão e teimam em repetir os erros já cometidos. Depois, diante dos resultados pífios das escolas, jogam para cima dos professores, das crianças e suas famílias a responsabilidade pelo fracasso da escola.

 

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

Luis Nassif

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