Municípios tem dificuldade em manter equipes médicas

Do O Globo

Doentes padecem à espera de atendimento no interior do Piauí

São Pedro do Piauí (PI) Aos 81 anos, Maria do Nazaré Batista só descobriu que precisa passar por uma histerectomia depois de peregrinar por duas cidades. Moradora de São Pedro do Piauí, no interior do estado, Maria não conseguiu atendimento médico por lá. Vivendo com fortes dores, foi levada até Água Branca, distante 120km de Teresina, onde finalmente teve um diagnóstico. Agora, está há dois meses na lista de espera por uma cirurgia.

– Faz tempo que eu queria saber qual era a minha doença. Sinto dores na barriga há dois anos. Durmo e acordo com dor, não posso andar. Tive que ir à Água Branca para uma consulta e acabei em Teresina. A ginecologista pediu os exames e agora é esperar marcar a cirurgia conta Maria, que ainda não conseguiu ser atendida por um neurologista para tratar dos sintomas de Alzheimer.

São Pedro do Piauí é um dos 701 municípios que não foram escolhidos pelos médicos brasileiros do Programa Mais Médicos. A cidade de 3.200 habitantes tem taxa de mortalidade de 36,36 para cada mil nascidos vivos, segundo a Fundação Centro de Pesquisas Econômicas do Piauí (Cepro). Coordenador de Atenção Básica da prefeitura, David Williames conta que foram solicitados três médicos ao Mais Médicos, e lembra que seis esquipes do Programa Saúde da Família (PSF) foram desfeitas.

Formar as equipes é fácil. Mantê-las é que é difícil. Os médicos vêm, ficam um ou dois meses e pedem demissão. Aqui, a prefeitura paga R$ 8 mil por mês. No Maranhão, chegam a pagar R$ 15 mil, R$ 20 mil. Os médicos, então, rompem os contratos conta Williames, que espera receber médicos cubanos para trabalhar na cidade: Somos a favor da contratação. Cuba é referência em saúde pública, principalmente na atenção básica. Eles vão trazer experiência nesse trabalho com as comunidades.

Maria também aguarda com esperança a chegada dos cubanos:

– O importante é que tenha médico e não seja preciso ir para Teresina. Vai ser muito bom vir médico de Cuba para tratar da gente.

Também morador de São Pedro do Piauí, Lucas da Silva Oliveira, de 24 anos, não consegue trabalhar nem estudar desde que pegou neurocisticercose, conhecida como doença do verme do porco. Sem ter como consultar um médico em sua cidade, ele tem que viajar para Teresina. Lá, paga R$ 300 pela consulta e já chegou a gastar R$ 700 com ressonância magnética e R$ 300 com tomografia.

– Meu pai é um lavrador que precisa ficar juntando dinheiro o ano todo para bancar minha ida ao médico. Muitas vezes, eu vou apenas para alterar o número de vezes que devo tomar o remédio. Se os cubanos vierem cuidar da gente, eles serão recebidos de braços abertos, adianta Lucas Oliveira.

Luis Nassif

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