O esvaziamento do Fórum Social de Porto Alegre

Fórum Social de Porto Alegre começa com ausência de precursores

FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE, Folha de S.Paulo

O Fórum Social 2013, que começa neste sábado em Porto Alegre e espera reunir 40 mil pessoas, colocou em lados opostos precursores do evento.

O encontro de movimentos sociais, criado como contraponto ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, tem sua edição deste ano no Rio Grande do Sul marcada pelo polêmico envolvimento da prefeitura e pela saída de tradicionais frequentadores.

O ativista Chico Whitaker e o instituto Ibase, que ajudaram a promover as primeiras edições a partir de 2001, decidiram não aparecer agora. O evento também foi esvaziado por um racha entre centrais sindicais.

A CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT, já havia anunciado sua saída do Fórum 2013 em protesto contra a “institucionalização” do evento pela prefeitura e devido à influência da Força Sindical na organização. A Força é ligada ao PDT, do prefeito José Fortunati.

Whitaker, arquiteto e autor do livro “Desafio do Fórum Social”, diz que se criou uma “luta pelo poder” dentro do evento que pode afastar os participantes comuns.

Para ele, o Fórum de Porto Alegre se distanciou de sua “Carta de Princípios” ao manter uma relação com a prefeitura e perder a autonomia diante de partidos políticos. A carta diz que a organização deve ser feita “de baixo para cima”, sem imposições. “O Fórum Social Europeu passou por um processo equivalente a esse e morreu”, diz.

O ativista iria participar de um seminário nesta edição em Porto Alegre para discutir o Fórum Social Mundial da Tunísia, que acontece em março. Com os atritos com a organização, a reunião foi transferida para São Paulo.

O Fórum na capital gaúcha foi pensado como uma prévia do encontro mundial no país africano. A abertura oficial ocorre com uma marcha neste sábado à tarde em Porto Alegre. Serão mais de mil atividades, como debates e oficinas, durante seis dias.

AUTOGESTÃO

Um dos principais idealizadores do primeiro evento em 2001, o empresário Oded Grajew manteve sua participação neste ano e nega que exista uma influência desmedida do poder municipal sobre o encontro.

Para ele, a característica do Fórum de ter atividades autogeridas permanece. “Não tem ninguém que diz para falar sobre isso ou aquilo. É diferente de uma conferência.”

Para Grajew, as centrais sindicais precisam resolver o atrito entre elas. Questionado sobre a saída de antigos frequentadores, ele diz que não pode falar em nome de outros participantes.

Fórum Social no RS deve ser esvaziado por racha sindical

FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE, Folha de S.Paulo

Um racha entre centrais sindicais deve esvaziar a edição 2013 do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, que começa na semana que vem.

O evento no Rio Grande do Sul -neste ano uma prévia do encontro global que será feito em março na Tunísia- não terá a participação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), sua tradicional apoiadora, e de outros movimentos sociais.

Eles reclamam da “institucionalização” do fórum pela prefeitura e da influência da Força Sindical sobre a organização. A Força é ligada ao PDT, mesmo partido do prefeito José Fortunati.

A partir deste ano, o Fórum Social, criado como contraponto ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, será um evento fixo no calendário oficial de Porto Alegre a cada janeiro. O município é o principal financiador, com ao menos R$ 1,4 milhão investidos na edição deste ano.

O governador do Estado, Tarso Genro (PT) também deve dar apoio ao encontro.

Entre os motivos da desavença estão os temas escolhidos como prioritários nos debates. A questão ambiental novamente será um dos focos. A escolha contraria antigos participantes que entendem que o principal assunto do momento é a crise econômica internacional.

A CUT também questiona a aproximação dos organizadores com o setor turístico local, que vê nos visitantes do fórum uma chance de movimentar a economia no verão.

O presidente da central no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, diz que a situação indica que o “negócio” virou mais importante e que o encontro foi banalizado.

Além disso, a presença de um movimento ligado a uma maçonaria também virou alvo de críticas.

Grupos como a Marcha Mundial de Mulheres, movimentos sem-terra e a Associação Brasileira de ONGs também não vão participar.

Sem a CUT, o evento acaba se distanciando também do PT, que ajudou a criá-lo em 2001. O fórum foi uma das marcas da gestão de 16 anos do partido no município.

Enquanto em 2012 a presidente Dilma Rousseff deu prestígio ao evento ao ir a Porto Alegre e debater com ativistas, para este ano ainda não há presenças de peso confirmadas.

As primeiras edições do encontro tiveram participação de chefes de Estado, entre eles o venezuelano Hugo Chávez.

Após o sucesso daquela época, o evento foi para outras cidades, como Caracas, na Venezuela, e Belém (PA).

Porto Alegre, então, passou a abrigar encontros paralelos, chamados de descentralizados.

O presidente da Força Sindical do Rio Grande do Sul, Cláudio Janta, que também é vereador pelo PDT, diz que há sectarismo na atitude da CUT e que não se pode debater apenas “filosofia” no encontro.

“Tudo foi discutido. E chega aos 44 do segundo tempo e dizem: não brinco mais.”

O secretário municipal da Governança, Cezar Busatto, diz que a prefeitura não irá conduzir o fórum e não vai se envolver no atrito entre as centrais sindicais.

Para ele, a CUT anteriormente tinha uma “hegemonia” no evento e agora há “estresse” entre as entidades.

Luis Nassif

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