Os pagamentos do crime organizado aos policiais de SP

Para Alcmin, “existe muita lenda sobre as organizações criminosas em SP”, enquanto que para o Secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto “a influência do PCC é exagerada pela mídia”. “Não é questão de minimizar o PCC. O que eles têm são 30, 40 pessoas que controlam o tráfico em larga escala.”

Da Folha

Livro-caixa de facção registra pagamentos a policiais de SP

Os arquivos da facção criminosa PCC, apreendidos pela polícia, registram que a organização faz pagamentos sistemáticos para policiais civis, além de supostos acordos feitos com PMs para atuarem juntos em assaltos.

Identificadas como “percas”, as informações constam de parte dos 400 documentos que já estão com a polícia e o Ministério Público, conforme revelou ontem a Folha. Uma espécie de livro-caixa do crime, os arquivos mostram que a facção atua em 123 das 645 cidades do Estado e tem nas ruas 1.343 bandidos.

Essa documentação já embasou ao menos duas denúncias judiciais de promotores e norteiam a atuação da polícia contra o crime organizado.

Nas planilhas, não há nome de policiais. Só são citadas a cidade ou a delegacia em que eles atuam e a situação em que a extorsão ocorreu.

As informações também aparecem quando a organização lista os devedores do mês. Em um dos registros, de 2011, um dos criminosos, identificado como Tucano, aparece com uma dívida de R$ 615 mil. O motivo: perdeu o valor para a polícia. Essa é a expressão usada pelos criminosos para dinheiro gasto em extorsão.

R$ 10 MIL POR SEMANA

Em um dos documentos, de 9 de agosto, apreendido na Baixada Santista, os criminosos afirmam que policiais de Mauá (Grande São Paulo), que já recebiam cerca de R$ 10 mil por semana, foram para Santo André e, se passando por policiais do Denarc (narcóticos), pediram mais dinheiro para não impedir o tráfico no local.

Nesse arquivo, os bandidos também relatam que outros policiais, dessa vez da 4ª delegacia do Patrimônio do Deic, prenderam, em 8 de agosto, uma traficante e exigiram R$ 100 mil para liberá-la.

Em negociação com os advogados, o valor caiu para R$ 10 mil em dinheiro, mais a droga apreendida e o carro.

Pelo relatório, o acerto caminhava para não ser fechado porque os policiais queriam ainda manter o flagrante da mulher, embora com o registro de uma quantidade menor de droga. O documento, porém, não revela o desfecho do caso.

“Resumindo: os policiais ficaram com o carro, com as drogas, com dinheiro do acerto se nós pagássemos e a menina ficaria presa do mesmo jeito. Olha as ideias desses policiais. Estão é tirando e subestimando a nossa inteligência”, diz trecho.

Os papéis revelam ainda um caso, de junho de 2011, de um criminoso identificado como Maguegui que diz ter pago R$ 150 mil para ser libertado por policiais do Deic.

“Eles falaram ainda que nós estávamos no lucro porque estava na mão deles. Porque se fosse a Rota nos matariam”, diz trecho do relatório.

Um arquivo de agosto do ano passado diz que os bandidos precisam levantar informações junto a policiais que roubam com eles, “principalmente PM”.

Os promotores responsáveis pelo caso dizem que somente uma investigação aprofundada poderá concluir se houve, de fato, propina. Mas não descartam a possibilidade de algum criminoso ter inventado a propina nos relatórios para justificar desvio de dinheiro da própria facção criminosa.


Luis Nassif

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