Programas como Bolsa Família reduzem casos de hanseníase, aponta estudo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Um estudo publicado em novembro de 2014 na revista PLoS Neglected Tropical Disease por um grupo de cientistas brasileiros apresenta evidências de que a redução da ocorrência da hanseníase está relacionado à melhoria das condições de vida da população proporcionada por programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Uma das condicionantes do programa criado em 2003, ainda no governo Lula, é a obrigatoriedade de a família beneficiária frequentar unidades básicas de saúde e assistência social. Além disso, o uso da verba federal para consumir alimentos melhores também tem colaborado com a redução da doença.

Segundo o estudo, quanto maior a cobertura do programa federal nos municípios, menor é a incidência da hanseníase. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a pesquisa foi realizada em 1.358 municípios com as maiores incidências da doença e que reúnem mais de 50% de todos os novos casos diagnosticados anualmente no país. Nessas cidades, o número de casos novos de hanseníase passou de 30 mil novos casos, em 2004, para 19 mil casos, em 2011.

“É fato que o número de novos casos da hanseníase no Brasil vem diminuindo ao longo dos anos devido à melhoria das condições socioeconômicas da população, segundo atesta a pesquisa, ao longo de oito anos estudados (2004-2011)”, afirma o Ministéiro.

Segundo o estudo, a Estratégia de Saúde da Família contribuiu para aumentar a identificação de novos casos de hanseníase. Já o Bolsa Família, direcionado às pessoas mais pobres do país, foi associado pelos pesquisadores à redução de novos casos, uma vez que a transferência de renda pode aumentar o consumo de alimentos e reduzir a insegurança alimentar e a fome, fatores que contribuem para a ocorrência da doença.

De acordo com a pesquisadora Joilda Nery, doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e uma das autoras do estudo, “são claras as evidências de que os dois programas contribuem para reduzir a incidência da hanseníase no país e quanto mais consolidados nos municípios melhores são os resultados, mas não é possível dizer que somente os dois programas sejam os responsáveis pela diminuição da doença no Brasil”. 

Por ser uma doença associada à pobreza, os fatores de risco para sua expansão são: ambientes com muitas pessoas, baixa escolaridade, falta de higiene, desigualdade social, escassez de alimentos e desnutrição.

Os pesquisadores concluíram que os programas voltados para a melhoria das condições socioeconômicas e de saúde da população, em longo prazo, podem ter impactos no controle da transmissão e ocorrência da hanseníase e outras doenças ligadas à pobreza. A literatura científica para respaldar o vínculo entre programas de melhoria social e a redução da doença é escassa. Sabe-se, no entanto, que, em países como Noruega, Espanha e Japão, o recuo da doença está associado ao aumento das condições socioeconômicas da população.

A pesquisa levou em conta alguns indicadores associados com a incidência de novos casos da doença, como urbanização, pobreza, analfabetismo, desemprego, número de pessoas na família e de jovens com menos de 15 anos de idade, além do índice de Gini – medida internacional de desigualdade socioeconômica. Quanto menor o índice de Gini, mais próximo o país está da distribuição mais igualitária de sua riqueza.

Ao final de oito anos de estudo, todos os índices apresentam melhorias nos municípios estudados: urbanização (61,3%, em 2011); percentual da população pobre (de 43,8 para 29,8%), analfabetismo (de 23,1 para 19,6%); desemprego (9,0 para 6,9%), número de pessoas na família (3,9 para 3,5), proporção de jovens com menos de 15 anos (34,7 para 28,3%) e índice de Gini (de 0,56 para 0,53).

O estudo “Efeitos dos programas brasileiros de transferência de renda condicional e atenção primária à saúde no coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase” é assinado pelos pesquisadores Joilda Silva Nery, Susan Martins Pereira, Davide Rasella, Maria Lúcia Fernandes Penna, Rosana Aquino, Laura Cunha Rodrigues, Maurício Lima Barreto e Gerson Oliveira Penna. 

O Brasil tem o mais alto índice de hanseníase no continente americano. O país contribuiu com 16% de todos os casos novos detectados mundialmente, sendo que a doença se concentra nas regiões mais pobres do país, especialmente no Nordeste, onde há a maior número de beneficiários do Bolsa Família, além das regiões Norte e Centro-Oeste.

Em 2012, o Brasil registrou 1,5 caso para 10 mil habitantes, ou o equivalente a 29.311 pessoas em tratamento. No mesmo ano, foram detectados 17,2 novos casos para 100 mil habitantes, ou seja, 33.303 novos casos de hanseníase.

Com informações do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome

Sugestão de Alfeu

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. BF

    Amigos, o governo tem que ampliar o BF pois ele atua na melhora da saúde e na melhora da educação, já que indiretamente reduz os custos da previdência social!

  2. Lepra é contagiosa?
      Não no

    Lepra é contagiosa?

      Não no filme Ben-Hur.

        O filho abraçando a mãe leprosa  numa catacumba é comovente.

  3. Que mundo é esse???

    Meu Deus do Céu!

    Não sei se alguém teve a mesma sensação que eu ao ler essa matéria.

    Fiquei pensando: Bolsa Família? Melhora de Condições de Vida? Programa de Transferência de Renda? Tudo isso tá tãããããão longe… Faz taaaaanto tempo que me parece que essa realidade, a realidade que existe(?) existia(?) no nosso país e que me fez votar em Lula e Dilma duas vezes é quase nostalgia de um tempo que não volta mais!

    Até este momento me considerava uma pessoa bem informada, que acessa blogs, vê TV, acompanha jornalões pela internet (sempre é bom ver o “outro lado”) e vejo que de tão mergulhado nas intrigas entre STF X Congresso X Planalto, Petrobrás, João Vaccari Neto, direita raivosa, FMI, inflação, Joaquim Levi, esqueci TOTALMENTE do porquê que discuto com os amigos sempre que ouço pataquada sobre o PT, Dilma, redução da maioridade, problemas no FIES, e do porquê me fico pasmo com as bobagens ditas pelo Aécio, C. Sampaio, A. Dias, A. Maia, P. da Força, o PIG em geral e com o complacência e até benevolência do Governo com essa gente que deita e rola!

    Sem querer ser melhor que ninguém, mas se “eu que sou informado” já me “esqueci” dessas coisas o que pensar daqueles que só se lembram do que é martelado todo dia e que já esqueceu quem ganhou o futebol da semana passada?

  4. Parece que nosso país começou

    Parece que nosso país começou em 2003, parece que o desenvolvimento civilizatório não é um processo continuo.

     O Brasil tinha um compromisso de eliminar a  hanseníase ate 2005, passou para 2012, depois 2015 agora não fala em prazos.

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