Quando chega a noite… a solidão e o sentimento de desamparo num estado social destruído, por Sergio Medeiros

Quando chega a noite… a solidão e o sentimento de desamparo num estado social destruído

por Sergio Medeiros

“Apresenta o novo personagem desta ordem – o homem empresa – aquele que vende a si mesmo e seu portfólio pessoal, ao qual está intrinsecamente ligado.

Ele traz consigo a sua qualificação acadêmica – sua previdência privada – seu capital pessoal para se mover em busca de oportunidades e, além disso, precisa ter um capital patrimonial próprio – ter onde morar, o que vestir,  como se deslocar

Viverá num mundo sem direitos – no qual o Estado (???) oferecerá serviços a quem conseguir preencher os requisitos monetários para obtê-los (Marilena Chauí)”

Para os demais, restará a exclusão, pura e simples…

A solidão que se vislumbra neste horizonte é tamanha que o indivíduo comum se sente completamente nu e desamparado, frente a forças titânicas contra as quais nada pode opor.

E, é justamente aí, em sua face atual, o local em que se instala a barbárie, ou seja, no lugar em que se instala a miséria e o desespero e onde não existem alternativas para enfrenta-las e as pessoas agem conforme seus instintos para tentarem sobreviver, e nestes movimentos de pretensa proteção ou omissão indesculpável, perdem a pouca humanidade que lhes restou.”

Este é o cenário pós golpe, em que se esta consolidando a nova ordem econômica ultra liberal.

Este é o quadro social, um quadro extremamente degradado e prestes a sofrer uma explosão social sem precedentes, que poderá resultar numa crise humanitária com poder de destruir as bases mínimas de coexistência social.

De certa forma, para nos situarmos nesse contexto, inicialmente precisamos voltar a uma velha e esquecida lição de resistência.

Quando a luta que se trava é em torno de um modelo de sociedade, a primeira coisa que temos que fazer é, de plano discutir a sociedade que queremos, o estado que queremos.

Mas discutir em termos em que todos se reconheçam e todos reconheçam suas necessidades e urgências passíveis de serem nela resolvidas.

E, é da comparação com o que tínhamos no modelo anterior que devera emergir esta nova forma de sociedade e estado, bem como da luta que será necessária para torna-la real.

Portanto, é centrado no que vamos perder e em nome do que vamos perder e, no que isto atinge a nós todos, nesta reestruturação global, que vamos nos organizar.

Uma sociedade que exclui as pessoas como meros objetos descartáveis é inconcebível, pois o oposto de seu conceito.

Como compactuar com a atual a situação de miserabilidade e descaso, dos cidadãos em geral, dos trabalhadores, dos idosos,  deficientes, crianças, em suma, de pessoas comuns que necessitam da proteção do Estado.

A temática a ser abordada tem que ser sobre o Estado e sua função social – exercida até então – e agora justificada na face sofrida de um imenso contingente de pessoas fragilizadas.

É o que nos espera, a um e a todos, quando ele – Estado – deixa de servir de proteção a toda uma camada social – majoritária em número de componentes – que automaticamente passa, em termos exatos, a ser excluída da sociedade.

Nesse ponto, apelo aos cristãos e aos nem tanto,  mirem-se em exemplos, Jesus Cristo dirigia-se a todos pobres, crianças, desamparados e mais, se dirigia aos então excluídos por excelência, aos leprosos, e até a estes procurava integrá-los, pois, entendia impossível a convivência plena e fraterna onde existisse, ainda que mínima, exclusão social.

….

Marilena Chauí mostrava em vídeo a miséria e a SOLIDÃO que, num cenário a se consolidar, esperava o brasileiro no pós golpe e na pós consolidação da nova ordem econômica ultra liberal (https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/475162479274301/?pnref=story).

Apresenta o novo personagem desta ordem – o homem empresa – aquele que vende a si mesmo e seu portfólio pessoal, ao qual está intrinsecamente ligado.

Ele traz consigo a sua qualificação acadêmica – sua previdência privada – seu capital pessoal para se mover em busca de oportunidades e, além disso, precisa ter um capital patrimonial próprio – ter onde morar, o que vestir,  como se deslocar.

Viverá num mundo sem direitos – no qual o Estado (???) oferecerá serviços a quem conseguir preencher os requisitos monetários para obtê-los.

Para os demais, restará a exclusão, pura e simples.

A solidão que se vislumbra neste horizonte é tamanha que o indivíduo comum se sente completamente nu e desamparado frente a forças titânicas contra as quais nada pode opor.

E, é justamente este o local da barbárie mais visível em sua face atual, ou seja, é o lugar em que se instala a miséria e o desespero,  onde não existem alternativas para enfrenta-las e as pessoas, sem pensar, agem conforme seus instintos para tentar sobreviver, e nestes movimentos, de pretensa proteção ou omissão indesculpável, perdem a pouca humanidade que lhes restou.

..

Sem o Estado, sem a proteção do Estadoo trabalhador desempregado fica sem amparo algum, o trabalhador de meia idade, com a perspectiva de não ter emprego, vê a si próprio no avançar da idade e com ela a decadência do seu vigor físico e mental e, de antemão, começa a sofrer de forma intensa temendo pelo seu porvir.

Passa a ver no seu horizonte próximo, a ausência de futuro, a urgência da velhice que se acerca a passos largos e um imenso vazio a sua frente.

Olhando ao seu redor – começa a ter a terrível  visão do amanhã, a miséria extrema a que vão estar relegados todos os idosos, os deficientes, as crianças, e, intuitivamente começa a se sentir quase como se já fizesse parte deste grupo.

Fecham-se os olhos e nada de sonhos, a realidade dura não mais lhe permite nem mesmo um resto de esperança.

Foi retirada toda a proteção social, e a miséria que espreitava o desemprego, se torna presente.

Este é o retrato de um novo mundo, brutalmente  insensível, selvagem,  um cenário apocalíptico pós reformas liberais – da previdência – trabalhista – do congelamento dos gastos públicos.

Este é o retrato de um caldo social em que, quase inevitavelmente, eclodirá uma imensa e irrefletida revolta, puro instinto – pura reação, sem controle.

No Brasil, em que não existem conflitos étnicos consideráveis, não há espaço para uma guerra civil, por fundamentos discriminatórios, religiosos ou de origem.

Entretanto, tal estado de coisas conduzirá ao surgimento de uma alta e generalizada criminalidade, grupamentos marginais e marginalizados, dispersos – situado em meio a grandes estruturas do crime organizado. 

Como nos situamos frente a tal conjuntura ou fatos.

Como combater e evitar que se chegue a esta situação.

Hoje a luta – nos grandes movimentos organizados – esta centrada pontualmente na Reforma da Previdência e na democracia formal – e neste campo é dada ênfase a aposentadoria e as eleições.

Ainda, de forma menos incisiva, num momento de desemprego maciço, outros setores centraram sua prioridade na tentativa de barrar a Reforma Trabalhista, e foram derrotados.

Entretanto, mesmo neste cenário caótico, pode-se verificar que a parcela social mais atingida não é nenhuma das acima consideradas, nem a que busca colocação no mercado de trabalho,  nem o setor politizado que busca os meios formais de decisão e poder estatais,  ou mesmo a que se apresenta como titular de pretenso direito ao descanso previdenciário, uma vez que todas se encontram diluídas na esperança de um futuro incerto.

O setor mais atingido é o que agrega a atual assistência social, e ampara idosos, deficientes e crianças, ou seja, pessoas vulneráveis e em situação de miséria extrema, a serem atingidos neste momento concreto e não num espaço tempo em alguns casos ainda distante.

Não existem partes isoladas numa sociedade, somos um conjunto único, humano por conceito e natureza.

O setor vinculado ao trabalho – público e privado (que ainda se mantém) – aí incluído o trabalho informal ou em pequenas empresas, não é o setor que se via diretamente  atingido em sua essência, ou melhor, ainda neste  momento ainda não se sente como objeto primeiro a ser atingido por estas reformas (o que considero um erro essencial, pois trata-se de parte integrante deste microssistema social mais básico).

Mas logo – já esta ocorrendo – este campo, orgulhosamente autointitulado de empresários/empreendedores,  inicialmente poupado (em termos) -, logo após concretizada  a primeira exclusão extrema dos dependentes da assistência social, dos programas sociais básicos, passará a conviver com o medo de, também eles, serem jogados neste contingente de excluídos, e, até mesmo este medo, vai ser usado contra eles.

Para estes, aos quais foi vendida a ilusão de que suas habilidades seriam úteis, a realidade também já esta começando a cobrar seu preço, e, aos poucos estão  descobrindo que eles e seus negócios e potenciais somente vicejam numa sociedade plural e forte, visto que, mesmo que não vejam a si próprios, nesta condição, eles são parte de uma estrutura interdependente, e sem os outros, sem este contingente, ora marginalizado, eles também não são nada.  

Faço um parêntesis.

Parem, olhem atentamente a realidade, e vejam, não sem assombro, que a maior parte do horror acima narrado já esta ocorrendo.

Que isso sirva de aviso, mas, ainda mais importante que a mera constatação da tragédia, que a perplexidade e o medo se transforme na matéria com a qual vai ser construída a reação a barbárie.

Que todas as forças se dirijam a entender o porquê do caos e da miséria que está a se instalar em todos os cantos deste país.

O advento do atual modelo  – que se esta implementando, sem preocupação nenhuma com os setores mais fragilizados da sociedade – destrói a visão do Estado necessário como fundamento de proteção e amparo, e ao se fazer isso, se lhe retira seu fundamento de existência, e ele torna-se desnecessário, prescindível, apenas um peso a ser suportado por todos e, portanto, algo a ser descartado.

Assim, que a reação seja uma contra reforma, cujo fundamento principal será a denúncia do modelo anti-social que se esta implantando, a quem esta mudança atinge e esta destruindo e quem se beneficia de seu sofrimento e miséria.

Que, mais que direitos, o que esta se tirando são vidas, vidas frágeis, desprotegidas, vidas ansiando por viver,  nas quais a parte mais humana mais visível  são as lagrimas e a dor, a fome e a miséria.

Saibamos que tudo isso é feito, em nome de um chamado Estado mínimo, neoliberal, e assim, saibamos contra o que lutamos, contra esta desumanização que esta ideia traz consigo.

O modelo de estado que buscamos é outro, privilegia a vida e busca o bem estar de todos, sem exceção, e é nesse contexto que vamos centrar nossas forças e nossa luta.

..

Vários segmentos da sociedade foram cooptados, iludidos, enganados, como o enorme contingente de chamados microempresários – que estão sendo e serão um dos maiores atingidos – que são  justamente a parcela que foi  atraída pelo canto da sereia.

Outro segmento que foi  inebriado por esta perversa cantilena, foi o dos servidores públicos.

Este setor, que inegavelmente foi um dos grandes responsáveis pelo anterior formatação de um incipiente Estado de bem estar social, nesta atual conjuntura, ao se ver fortalecido e empoderado, passou a agir contra a sociedade a qual deveria proteger e servir, e, assim agindo, contribuiu e ainda contribui grandemente para sua total destruição.

Por outro lado, por paradoxal que seja, em razão de sua missão institucional, é justamente deste setor que pode emergir novamente uma reação.

Mas, de antemão se impõe a condição essencial,

Pois tal tarefa somente terá êxito se for esclarecida a questão acerca da função do estado – e a partir dai, qual estado queremos construir -, todos devem saber os significados sociais das duas formas de estado, hoje contrapostas, e sua importância em sua própria vida e trabalho realizados e seus reflexos na coletividade.

Saber da sua essência de servidores, servidores públicos, sujeitos e objeto,  responsáveis e ao mesmo tempo destinatários da consecução das políticas deste estado.

Deve-se adentrar na discussão acerca do papel do estado – e da função por eles desempenhada, a sua valorização e a nossa valorização enquanto povo.

Estas são algumas alternativas, mas isso somente será possível, se todos os setores, os que lutam pela democracia, os que resistem a destruição do atual sistema de previdência e assistência, os que buscam retomar as normas protetivas aos trabalhadores, e os trabalhadores do setor público, Realmente comprometido com o bem estar da sociedade, a qual, por diversas formas, se dedicam, em seu dia a dia a proteger e servir, se unirem em prol de um projeto de Estado, livre, democrático e social.  

 

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Difícil, muito difícil. A

    Difícil, muito difícil. A lavagem cerebral que a direita fez na juventude foi tão bem feita que existem jovens que atualmente acreditam em coisas absurdas como “Anarco-capitalismo”.

    Anarco-capitalismo… É de chorar.

    Estamos a caminho da barbárie. E não foi por falta de aviso. Antes de instaurarmos o comunismo, teremos que reinstaurar a civilização.

  2. Está aí descrito o estado de

    Está aí descrito o estado de espírito, meu e de milhões de outros desempregados.

    A pior solidão, estou descobrindo nesses últimos dois anos, não é só a solidão individual, que leva ao desespero e ao suicídio; mas é também aquela solidão domesticamente vivida, em que você não contribui com um centavo para o sustento da casa, enquanto as pessoas com quem você convive o fazem – mesmo a solidariedade familiar natural, a partir de um determinado momento (precisamente o momento que estou vivendo, agora) também começa a ser carcomida por essa situação depressiva, estéril, uma verdadeira desagregação em câmera lenta.

    O cidadão, ainda que não esteja sendo segregado, se sente apartado, se vê como uma espécie de leproso nos tempos bíblicos.

    Não estou exagerando.

    É como me sinto, em momentos de abatimento mais intenso.

  3. Vota direito pô, NOVO 30
    Temos que pôr candidatos como o Reguffe, que não torra dinheiro público e sabe que não cai do céu…. Candidatos assim são os chamados liberais clássicos, como o João Amoêdo, do Partido Novo 30, (com os mesmos ideais, honestidade é dever, não um ato heroico) que continuará com o bolsa família e programas sociais para os pobres (dando apoio com vouchers qndo reduzir o Estado) e fará a reduçào do Estado, aos poucos, respeitando os costumes da populaçao…. (#LegalizaTudo) Fará uma verdadeira reforma política #VamosRenovarTudo

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador