A discussão sobre os fitoterápicos

Por Reynaldo L

Nassif, caso julgue conveniente sugiro um debate usando como “gancho” a entrevista do Drauzio Varella à Revista Época, (clique aqui ) na qual ele adianta uma série de reportagens a serem exibidas na globo, sobre a utilização de fitoterápicos, inclusive no SUS, com respaldo do Ministério da Saúde. Cheguei à reportagem através de comentários do seu blog. Li a entrevista, e dela pude concluir:

1) Ele defende que sejam feitos estudos sobre os fitoterápicos, buscando descobrir o que (e se) funciona, para o que , quando, quanto, e como. Em suma, pesquisar, excluir o que não funciona, incorporar o que funciona. Fazer Ciência. Destaco o trecho: “Nosso objetivo é mostrar que esses fitoterápicos têm de ser estudados. Têm de ser submetidos ao mesmo escrutínio ao qual os remédios comuns são submetidos.”

2) Ele defende que não sejam utilizados discriminadamente produtos sem comprovação científica. Destaco o trecho “Essas coisas são jogadas para o público sem passar por estudo nenhum”.

3) Ele critica o respaldo oficial através da ANVISA e do MS a produtos não testados, ou testados inadequadamente. Destaco o trecho: “Hoje vemos órgãos públicos distribuindo esses chás e fazendo o que chamam de Farmácias Vivas. Estivemos em várias delas. Em Belém, Imperatriz (no Maranhão) e em Goiânia. Essas Farmácias Vivas não são nada mais do que hortas. As plantas são cultivadas ali e distribuídas para a população sem o menor critério”

4) Ele critica a prescrição destes princípios ativos sem diagnóstico de cada caso, sem acompanhamento médico: Destaco o trecho: “Em Belém, estivemos na sede da Embrapa. Encontramos lá um engenheiro agrônomo que dá consultas. Você diz que está tossindo, com febre e ele te dá um xarope de guaco. Isso é feito dentro de um órgão público, oficial. O paciente que vai lá é tratado por um engenheiro agrônomo. Isso é aceito como se fosse uma coisa normal.”

Sinceramente, não vi nessa entrevista dele uma panfletagem partidária (embora provavelmente vá ser usada assim, afinal, parece que a questão do uso indiscriminado de fitoterápicos em substituição a fármacos industrializados parece ser um programa de governo). Preocupa-me muito a “partidarização” deste tipo de questão, e como ela se encaixa em outro post do seu blog, o “sobre críticas ao governo”. O que me assusta são os comentários que li na revista época e alguns aqui: ao invés de serem questionados os argumentos do texto (irrepreensíveis, na minha modesta opinião) acusam-no de estar “a serviço da indústria farmacêutica”, de “José Serra”, da “direita”, dos “que exploram a nossa biodiversidade”. Muitas destas colocações esbanjam preconceito, desconhecimento e ingenuidade. É óbvio que o custo da Saúde é um problema, que laboratórios lucram muito, e que sua postura ética é freqüentemente condenável. A solução destes problemas passa por políticas complexas: a manutenção dos nossos cérebros, (tema de debates aqui do seu blog), o financiamento de pesquisas de qualidade, a valorização do pesquisador brasileiro, o combate à biopirataria, a limitação do direito de patente, a atração de cérebros estrangeiros, a preservação da nossa biodiversidade, o desenvolvimento de tecnologia e uma indústria farmacêutica própria, etc.

É lamentável quando vemos que, a ao contrário, pretende-se resolver tais problemas usando uma “medicina” de dois séculos atrás, baseada no achismo e na tradição e que historicamente não foi capaz de eliminar uma doença sequer, ou controlar uma única epidemia. É lamentável ver pessoas esclarecidas enxergando o mundo em preto-e-branco, abrindo mão do discurso científico, o empurrando para o colo da assim chamada “direita” (que não tenho dúvida, o receberá de bom grado). Enquanto isso, aprofunda-se o fosso entre uma camada do andar de baixo da população, sem atenção médica e sem direito de escolha, recorrendo aos fitoterápicos; e a outra, que frequentemente usa e defende práticas de saúde não convencionais, mas quando precisa de verdade, pode, a sua escolha, ter acesso a tudo de melhor que a medicina oferece ( e não tenho dúvida que o fazem). 

Luis Nassif

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