A ida de médicos para os rincões fortalece o SUS

Por LUCIANO MENDONCA

Comentário ao post “Desistências comprovam necessidade do programa Mais Médicos

A educação tem um orçamento definido e baseado no público alvo. O alunado é dimensionado ano a ano. Cada escola tem um número de alunos para atender no ano letivo, com isso a necessidade de professores, livros didáticos, ônibus escolares, merenda escolar pode ser dimensionada com razoável precisão. Pode-se definir a quantidade de vagas em creches e a necessidade de creches de acordo com os nascimentos. Mas e a saúde, com a população ficando idosa? Quantos atendimentos são necessários por especialidade? E a necessidade de leitos? Como dimensionar isso com vistas a preservação da saúde da população e não ao tratamento de doenças ocasionadas pela falta de prevenção?

Isso passa por uma mudança de filosofia. A medicina, hoje, no Brasil é negócio. E o Governo Federal pensa diferente.

A ida de médicos pros rincões é um dos passos do fortalecimento do SUS. Esses casos que se revelam de médicos que não cumprem jornada nos postos de saúde e nos hospitais é apenas uma de parte das mazelas da saúde, da conivência entre administradores públicos e médicos para prejudicar a população carente.

Os administradores muitas vezes alegam a redução de jornada com a manutenção do salário para 40h semanais por não haver outros médicos dispostos atuar no serviço público. Em muitos hospitais não há especialistas trabalhando (e nem se justificaria isso), pois só comparecem para assistir pacientes no início do dia, e se for o caso dar alta médica, o liberar pra ir para casa. Isso dura alguns minutos, mas recebem de forma integral a jornada do dia.

Creio que a chegada dos médicos estrangeiros, especialmente os cubanos, podem dar a atenção necessária à população mais carente, atuando na prevenção, situação que reduzirá a necessidade de novos leitos. A ação preventiva na saúde é menos onerosa para o Estado e muito mais benéfica, que a corretiva, para o cidadão. A Ministério da Saúde, como política de Estado, vai valorizar as horas dedicadas ao trabalho com o pagamento delas, em vez de pagar por procedimento, que é mais caro em termos de despesa, e em termos de manutenção da saúde. Manter a saúde é melhor que tratar a doença, do ponto de vista humano.

Os novos cursos de medicina a em vias de implantação no interior do Brasil, com a mudança do currículo, focada em um atendimento básico, com a obrigatoriedade de residência médica no SUS pode suprir a carência atual nos rincões do Brasil, e substituir esses médicos. E mais, uma nova elite médica deve ser formada, com o acesso de alunos cotistas para os cursos de medicina, a fim de oxigenar o pensamento da classe.

Esses médicos (emergencialmente, os cubanos), com dedicação exclusiva de 40h, estarão coordenando (e chefiando) equipes de saúde da família. Essas equipes são compostas de enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes de saúde, inclusive de higiene bucal, e com unidade do SAMU. Essa equipe irá alimentar o prontuário eletrônico dos cidadãos assistidos. Com essa ação, estaria definido o campo de atuação de cada equipe médica voltada para a saúde da família. Com essa ação, estaria determinado o público de cada equipe médica, situação que possibilita um controle da atividade. Como cada cidadão deve ter um número no SUS, vinculado ao endereço, está definida a clientela de cada equipe. Cada atendimento médico deve ser inserido no sistema do prontuário eletrônico com o Código Internacional de Doença (CID) – inclusive em tablets fornecidos – assim como cada visita da equipe de agentes da saúde, nas rondas que fazem nas residências. Dessa forma, começa-se a dimensionar a necessidade de atendimentos, inclusive de especialistas, potencializando uma demanda puxada pelas necessidades da clientela (público do SUS), em especial para o atendimento ambulatorial, criando uma previsibilidade no atendimento do SUS. O atendimento em emergência (urgência) é voltado em casos imprevistos, é custoso, e basicamente é atendido pelo serviço público, sem a ação da rede privada, que entra secundariamente após o primeiro atendimento efetuado pelo SAMU e pelo Hospital Público local.

A previsibilidade de atendimentos leva ao dimensionamento da rede ambulatorial, inclusive no que diz respeito a implantação de equipamentos para exames, determinação da formação de especialistas em determinadas áreas da medicina, fornecimento de medicamentos. Isso tudo determina o orçamento da saúde, com um controle mais rígido sobre os gastos.

Hoje há o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES) do DATASUS em que se pode ver o que o estabelecimento oferece em termos de recursos humanos (inclusive esse cadastro “dedurou” alguns desses médicos que se cadastraram e fizeram “forfait” tinham jornadas elevadas, incompatíveis para atuar no programa MAIS MÉDICOS) e materiais. Quais os profissionais que atendem nesses estabelecimentos e quais os equipamentos instalados. Em suma, um diagnóstico daquilo que é oferecido para a clientela. Mas qual é a clientela, e como anda a saúde dela?

O Governo Federal, em atuação conjunta com os Governos dos Estados, está inserindo todos os dados dos pacientes num PROTUÁRIO MEDICO ELETRÔNICO, e essa será a base para os Governos, em parceria, considerando as peculiaridades locais, dimensionar a necessidade presentes e futuras. Esses médicos cubanos vão atender a população carente, bem como inserir os dados para dimensionar a necessidade futura de programas de saúde locais. E a ANVISA determinou que o PROTUÁRIO MEDICO ELETRÔNICO deve ser alimentado também pela rede privada. A chave é o seu número do cartão SUS – todos devemos ter um.

Lembro-me de uma declaração da Presidenta Dilma no início do mandato dela, que quando questionada a respeito da criação de um tributo para a saúde ela disse que só deveria ser criado se houvesse necessidade. Antes de criar o tributo, deve-se saber controlar o uso do dinheiro e saber o custo. Só com ferramentas desenvolvidas e a criação de “malhas finas” é que se pode verificar por quais ralos se escoam os recursos. E quais os recursos que são razoavelmente necessários para a saúde. Garanto que tem gente que sabe disso não gosta muito disso.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Mais Médicos no fim do mundo

    Nassif: para de sonhar. Você acha que esses filhihos de papai, de que se constitui a grande maioria da classe, deixarão as baladas e outros prazeres mundanos para ir ao fim do mundo cuidar de gente necessitada? Essa de cuidar de velho, que não seja Scot 25 anos legítimo, não dá. De criança remelente, nem falar. Sair da Capital, seja qual for, mesmo para ganhar rios de dinheiro, não cola. Ficar longe do almoço domingueiro com a família em nome de juramentos e ideais alienígenas, nada disto. E também que não venham os de fora, de Cuba ou de qualquer lugar do mundo. Vão inflacionar o mercado. Onde já se viu, atender essa gentinha chinfrim. Que sofram. Quem mandou nascer pobre. Eles sim, médicos brasileiros, doutrores, especialistas nisto e naquilo, desde unha encravada, eles são os bons. E não vão deixar o conforto da metropole, mesmo com alto risco de violência, para ir cuidar de quem quer que seja. Nem em sonho. E ai, acordou?

  2. ….  quem reclama ou se opoe

    ….  quem reclama ou se opoe ao Mais Medicos, reparem, sao os brasileiros bem de vida.

    os q estao nos confins do Brasil, os q tem tem de ir em lombo de burro ou de canoa procurar um medico sofre na pele as diferenças administrativas da politica no país.

    entao nada mais justo q tenham medicos mais proximos de si, ao invez dos q se formam e abrem consultorio na avenida paulista ou copabacana .

    e outro assunto correlato q passa ao largo eh sobre hospitais.  moro numa cidade IDH seis, com 450 mil habitantes e ha exatos quarenta anos nao se controe um hospital sequer.  a iniciativa privada  -mesmo com juro quase negativo no BNDES, nao constroe alegando pouco lucro !!!!!

     

  3. A oposição está fazendo

    A oposição está fazendo ridículo em suas críticas ao Mais Médicos.

    Alguns Dirigentes Sindicalistas estão ridículos ao exigir o revalida e questionados sobre a necessidade das área carentes. Eles não d ão respostas convincentes quando levados a posicionar sobre o simples QUÊ FAZER.

    As federações e Confederação estam portando como indiferentes aos seus deveres de DEFENDER A SOCIEDADE!

    estam mais preocupados em justificar as ANUIDADES .

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