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Riscos da informação incompleta

Riscos da informação incompleta

Do Observatório da Imprensa

Por Roxana Tabakman em 3/8/2010

“Informação confiável faz toda a diferença.” A frase faz parte do anúncio da revista Saúde, da Editora Abril, que divulga na Veja o “Guia de primeiros socorros”, escrito por especialistas do Hospital Albert Einstein. A matéria de capa da newsmagazine líder do Brasil também oferece nesta semana dados confiáveis num assunto muito importante para a saúde: os riscos das lipoaspirações feitas sem os cuidados necessários, e como evitá-las. Informação confiável, sim, mais talvez insuficiente para fazer “toda a diferença”.

O problema está bem claro. Como escreve Laura Ming, a autora do texto, “a legislação frouxa e a completa falta de fiscalização permite que as cirurgias sejam conduzidas por profissionais incompetentes em locais sem nenhuma infraestrutura”. Escolher um médico é, porém, dificílimo. Todos conhecem o nome de algum cirurgião bom, badalado e, portanto, caríssimo. Em medicina, a luz ilumina os acertos e, infelizmente, a terra tapa os erros. Mas a missão do jornalismo médico não teria que ser por boa luz nos dois? E o que penso ao ler a matéria intitulada “As 10 regras da lipo segura”? O texto é, de maneira geral, muito bom, porém apresenta um problema já apontado outras vezes por este Observatório: falta de coragem.

Um exemplo. Os jornalistas acompanharam duas lipos – uma feita em condições ideais; a outra em um hospital sem especialização, com médicos negligentes que, em tempos de gripe global, nem cobriam o nariz com a máscara. Por que só oferecem o nome do primeiro hospital? Num dos boxes se apresenta o caso de uma paciente que está em estado vegetativo faz cinco anos: você, como leitor, não gostaria de saber o nome do médico e se ele foi condenado? Não vai saber lendo a matéria. E a ambulância que foi chamada para salvar essa vida, mas que tinha o respirador sem bateria? Qual era a empresa responsável? Será que ainda opera? Será a mesma que você chamaria se precisasse hoje?

“A imensa maioria das intercorrências acontece em clinicas ou hospitais sem infraestrutura adequada para casos de emergência”, alerta Veja. Seria assim se a mídia divulgasse os nomes delas?

Falta de adrenalina

Além da falta de coragem, há uma outra questão profunda. Não seria melhor considerar os pacientes apenas vítimas e não também culpados por não terem escolhido o melhor? O conhecimento que as pessoas têm do mundo médico é, na maioria das vezes, insuficiente. Nas recomendações aos potenciais pacientes, o “segundo mandamento” (pág. 118) reza: “Procure referências do trabalho do cirurgião plástico com outros pacientes. Em caso de dúvida, busque a opinião de um segundo especialista”. Um conselho de alcance, quanto muito, limitado. E que perde a validade nas páginas seguintes, quando uma vítima (pág.121), a dermatologista carioca Priscilla, reconhece ter escolhido um cirurgião de quem tinha poucas referências (quantas são necessárias?). E a indicação perde completamente a eficácia duas página depois (pág. 123), quando uma outra paciente, a jornalista Lanusse, viveu um pesadelo mesmo depois de ter consultado dois médicos indicados por amigos.

Não existe cirurgia sem riscos, como também não existe pesquisa jornalística sem riscos. Segundo a matéria de Veja, para diminuir o sangramento e a dor, os bons médicos usam uma solução que contém, entre outros componentes, adrenalina – aquele hormônio que nosso corpo fabrica nos momentos de estresse e o prepara para grandes esforços. Será que na apuração das matérias de saúde não está faltando um pouco de adrenalina?

Redação

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