Seca no Nordeste é considerada a pior dos últimos tempos

Jornal GGN – Historicamente conhecida como uma região onde predomina o clima semiárido, o Nordeste do Brasil é periodicamente assolado pelas severas secas. Em 2013, porém, a região enfrenta a pior dos últimos anos, que já afetou mais de 1400 municípios. O professor Rogério Campos, doutor em Recursos Hídricos pela Universidade de Newcastle, do Reino Unido, conversou com o Jornal GGN, tendo como pano de fundo as providências pedidas nas últimas semanas para minimizar o efeito das secas na região.

Para Campos, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. “Com relação a isso, a medida que está sendo tomada, no tocante à falta de água para população humana, é o abastecimento através de carros-pipa”, relata. Para ele, apesar da forte repercussão na economia da região, a maior seca do último século não teve tanta repercussão devido ao êxodo rural – que  que vem reduzindo, ao longo do tempo, a população atingida –, e por conta de medidas mitigadoras de pobreza, como os programas sociais do governo e a construção de pequenas obras de infraestrutura hídrica.

Isso não atenua, todavia, a gravidade do cenário. No último dia 14 de maio, o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, e o presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Marcelo Beltrão, em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros, pediram urgência na tomada de providências para atenuar o problema das secas na região. Representantes de associações de municípios e prefeitos da região do Nordeste também acompanharam a visita.


   Região Nordeste é atingida pelas secas

No oficio entregue ao presidente do Senado constam informações alarmantes sobre a situação da população atingida pela seca, tais como: cenário de miséria fome e perdas em todos os segmentos que provoca, inclusive, a falta de produtos da cesta básica, pressionando o índice inflacionário e acarretando prejuízos irrecuperáveis nas lavouras, criações e comércio, além de aumentar a demanda assistencial de saúde e infraestrutura nos municípios.

Junto com o ofício pedindo providências urgentes, Ziulkoski entregou também uma cartilha (consulte aqui) em que consta uma análise sobre a falta do insumo mais importante para a manutenção da vida na terra, a água.

 

Medidas governamentais

Rogério Campos explica que uma das providências governamentais provisórias, e que vem sendo feito há um século, é a construção de reservatórios para distribuir as águas desses açudes. “Adutoras estão sendo construídas, mas ainda falta muito. A transposição do rio São Francisco irá amenizar muito o problema nas regiões beneficiadas, quando estiver operando”, conta.

Foram criados também alguns programas sociais com o intuito de diminuir os problemas dos produtores rurais, como é o caso do Bolsa Estiagem (visite a página do programa), instituído em setembro de 2004, que prevê um benefício de R$ 400,00 para famílias de agricultores familiares com renda mensal média de até dois salários mínimos, atingidas por desastres no Distrito Federal e nos municípios em estado de calamidade pública ou em situação de emergência reconhecidos pelo governo federal, mediante portaria do ministro da Integração Regional.

Campos explica que, embora esta seja a pior seca dos últimos tempos, o a repercussão dos fatos foi atenuada por vários motivos. “Um, deles, talvez o principal, é que a população atingida diminuiu muito nos últimos anos devido ao êxodo rural. Depois, devido às medidas mitigadoras como a construção de cisternas, açudes, adutoras (obras de infraestrutura hídrica), colaboram para que os efeitos sejam reduzidos e outro motivo que podemos destacar é que a fome praticamente desapareceu do meio rural do Nordeste por causa dos programas sociais”, aponta.

Impactos econômicos

Embora representem uma alternativa para as famílias do campo, programas como o próprio Bolsa Estiagem e o Bolsa Família ainda não são suficientes quando as condições climáticas ficam desfavoráveis. A quebra de safras e a morte de rebanhos provocam efeitos duradouros na economia local. “Afeta a agricultura enormemente porque as culturas morrem. A pecuária também, porque os animais estão morrendo de fome por falta de pasto e de sede. No Nordeste, a agricultura é basicamente familiar e de subsistência e depende fortemente de chuvas”, comenta Campos.

Instituído pelo governo do Ceará, há ainda o programa “Hora de Plantar” que distribui sementes selecionadas aos agricultores. Entretanto, Campos explica que este programa só é efetivo se houver estação chuvosa estabelecida, o que não ocorre há dois anos. “A longo prazo, o que deve ser feito é a construção de reservatórios (açudagem) e de uma infra-estrutura de distribuição de água, incluindo as pequenas comunidades difusas, e não somente os centros urbanos”, explica.

Redação

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