A percepção da violência

Por Adriane Batata

Do Estadão

Pnud: 90,1% veem crescimento da violência no País

ESTADÃO

LÍGIA FORMENTI – Agência Estado

Pesquisa inédita feita pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (Pnud) mostra que 90,1% dos brasileiros têm a percepção de que a violência vem crescendo no País. Além do porcentual bastante expressivo, o que chama a atenção é que, para 23% dos entrevistados, não é a violência praticada por bandidos que mais incomoda, mas sim aquela vivenciada em casa.

“Os números obtidos no trabalho surpreendem. Levantamentos semelhantes feitos no passado mostram que 70% dos brasileiros tinham a percepção de que a violência estava aumentando”, conta o economista sênior do PNUD, Flávio Comim.

Ele observa que, em muitos dos locais analisados, a violência captada nas estatísticas policiais não aumentou na mesma velocidade que a percepção dos entrevistados. “Talvez os números reflitam o impacto que a violência doméstica, muitas vezes invisível nos índices oficiais, vem apresentando na vida do brasileiro”, completou.

Valores

O trabalho, feito em parceria com Instituto Paulo Montenegro/Ibope e Universidade Mackenzie com 4.017 entrevistados, procurou definir quais são os valores mais importantes para o brasileiro. Em primeiro lugar, vem o bem estar do próximo e, em segundo, o bem estar da humanidade e da natureza. Resultados que, de acordo com Comim, são frequentemente encontrados em vários países.

Na terceira colocação, veio a surpresa: a importância que brasileiros dão à estabilidade social. “É um elemento novo, diferente do que é constatado em trabalhos semelhantes feitos em outros locais”, conta Comim. Para o economista, a relevância dada pelo brasileiro à estabilidade pode ter duas explicações. “Ela pode ser reflexo da memória ainda presente do período de hiperinflação vivido no País”, diz.

Outra possibilidade é que brasileiros procurem estabilidade para “compensar” fatores que desestabilizam o cotidiano, como o receio da violência. “A estabilidade seria uma espécie de antídoto”, resume. Comim observa que a pesquisa desmente o estereótipo do brasileiro, que é a busca constante do prazer. Na escala de valores, ele ocupa a sexta posição, abaixo da autonomia e da tradição.

O trabalho procurou também diferenciar valores de acordo com sexo, escolaridade e faixa etária. Mulheres, por exemplo, dão mais valor a valores relacionados à conservação (como estabilidade social e tradição) e pouco se importam com autopromoção (relacionado ao poder e êxito pessoal). Para jovens ocorre o oposto: eles estão pouco ligados à valores ligados à conservação, mas dão muita importância para aqueles relacionados à autopromoção e os vinculados a mudanças.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador