Gaspari: a implicância acima do debate

Alguns fatos sobejamente conhecidos:

1. O governador gaúcho Tarso Genro jamais assumiu a defesa dos réus da AP 470. Pelo contrário, o que lhe valeu, aliás, inúmeras críticas de petistas. Também não pertence ao comando do partido, de onde foi alijado rapidamente, após ter assumido cargo logo após o escândalo do “mensalão”. Jamais fez parte do que Gaspari chama de “comissariado” – o grupo de pessoas que dá as linhas do partido.

2. Há duas maneiras de reagir à condenação de companheiros. A primeira, partindo para a retaliação contra os julgadores. A segunda, propondo reformas que minimizem a possibilidade de repetição dos problemas de financiamento de campanha. Tarso propôs o segundo caminho: discutir a reforma política e o financiamento público de campanha. Não propôs degola de Ministros, sequer o indiciamento do Procurador Geral da República. Durante todo o julgamento, aliás, inúmeras vezes assumiu a defesa da corte. É público isso.

3. No entanto, em artigo de hoje, Elio Gaspari o acusa de colocar a reforma política como forma de “revide” contra o julgamento. E vem com o argumento de que financiamento público significa pegar o meu, o seu, o nosso dinheiro para dar para políticos – uma imagem que não está à altura do pensamento elaborado de Gaspari.

Qual o segredo dessa mixórdia? Mera implicância antiga de Gaspari contra Tarso? As pessoas são implicantes. E nós, jornalistas, muito mais que a média. Mas não a ponto de transformar discussão de reforma política em ato de revide. Aí é demais, mesmo para os muito implicantes.

Se é contra financiamento público de campanha, que  apresente argumentos consistentes. Mas não a demonização, como se fosse o revide dos “mensaleiros” contra o país.

Por Elio Gaspari

Da Folha

O comissariado não toma jeito

Tarso quer que o Congresso revide: você pagará as campanhas e os partidos dirão quem será eleito

O PT tem dois ex-presidentes e um ex-tesoureiro condenados a penas em regime fechado e quer mudar o sistema eleitoral brasileiro para pior. A saber: José Dirceu deve dez anos e dez meses, José Genoino, seis anos e onze meses e Delúbio Soares, oito anos e onze meses. Todos condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal. Todos continuam no partido e Genoino, protegido pelo manto das prerrogativas do Legislativo, ocupa uma cadeira de deputado federal. Quando o ex-governador Olívio Dutra teve a coragem de dizer que Genoino deveria renunciar, o deputado André Vargas (PT-PR) lembrou que quando ele “passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo”. Pela vontade de seu partido e a compreensão de seus pares, Vargas é o primeiro vice-presidente da Câmara.

Os comissários blindaram-se na defesa de seus companheiros, todos condenados por práticas confessas. É direito deles. Quem esperava um sopro de interesse pela moralidade, perdeu seu tempo. Deu-se o contrário. Na melhor prática petista, decidiram “partir para cima”. Em vez de discutir a conduta de seus dirigentes, querem mudar de assunto.

A proposta vem do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, Ele sugere um “revide”. Levanta de novo a bandeira de uma reforma política que crie o financiamento publico para as campanhas eleitorais e estabeleça o voto de lista para a escolha dos deputados e vereadores.

Pelo voto de lista os eleitores perdem o direito de escolher o candidato em quem votam. Pelo sistema atual, um cidadão de São Paulo votou em Delfim Netto e elegeu Michel Temer. É um sistema meio girafa, mas o eleitor sempre poderá lembrar que votou em Delfim. Pelo voto de lista, os partidos organizam as listas, o cidadão vota na sigla e serão eleitos os primeiros nomes da preferência das caciquias. Se os companheiros do PMDB colocarem Temer em primeiro lugar e Delfim em 20º, não haverá força humana capaz de levá-lo à Câmara. A escolha deixa de ser do eleitor, que a vê transferida para partidos, por cujas direções passaram Genoino, Dirceu, Delúbio. Ou ainda Valdemar Costa Neto, então presidente do PL, condenado a sete anos e dez meses de prisão e Roberto Jefferson, do PTB, com sete anos e catorze dias.

O segundo pilar do “revide” é o financiamento público de campanha. Acaba-se com um sistema no qual os diretores de empresas usam dinheiro dos acionistas para investir em políticos e transfere-se a conta para a patuleia. Nesse sistema, por baixo, a Viúva gastaria R$ 1 bilhão para financiar candidatos. Todas as maracutaias interpartidárias do mensalão deram-se ludibriando-se leis vigentes. Ganha uma passagem de ida a Cuba quem acredita que esse tipo de financiamento acabará com o caixa dois. Se o PT quer falar sério, pode defender uma drástica limitação das doações de pessoas jurídicas, deixando a Viúva em paz.

A proposta do “revide” é a síntese ideológica e fisiológica da mensalagem. Você paga e eles decidem quem irá para a Câmara. Eles, quem? José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, com um patrimônio de 41 anos e seis meses de cadeia, ou seus dignos sucessores.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador