Do presídio, líderes do PCC comandam execuções

Da UOL Notícias

PCC faz julgamento com teleconferência para matar “companheiros” com má conduta

Arthur Guimarães
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Uma investigação recente do Departamento de Investigações sobre Narcóticos de São Paulo (Denarc-SP) mostrou o grau de organização do Primeiro Comando da Capital (PCC), entidade criminosa que atua no Estado.

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O levantamento trouxe detalhes de como funcionam os julgamentos que são feitos em matagais e locais ermos, tribunais ilegais em que integrantes com má conduta são ouvidos, sentenciados e executados, dependendo da decisão vinda do júri –normalmente formado por cabeças do bando que orientam as sessões por teleconferência.

O caso investigado teve início com a descoberta de cinco corpos em terrenos das cidades de Itatiba e Jarinu, no interior de São Paulo. Os cadáveres, encontrados no dia 7 de junho, estavam amordaçados, com marcas de balas e sinais de tortura. Com base em outras apurações paralelas, os policiais do Denarc chegaram à conclusão de que os homens eram vítimas de uma chacina encomendada pelo PCC.

Segundo o delegado Paulo Pereira de Paula, da 1º Delegacia de Apoio ao Interior, autoridades de todo o Estado se mobilizaram para investigar quem teria participado dos homicídios. “Fizemos várias diligências e cruzamentos de informações até que, na semana passada, prendemos mais de dez homens, entre eles os envolvidos nas execuções”, diz.

Pelo o que as autoridades ouviram dos detidos, tudo começou com um roubo de carga, que teria sido praticado por um certo bando de “companheiros” do PCC –simpatizantes da facção que não pagam “mensalidade”. Após tal assalto, o líder do grupo, conhecido como Neto, teria trocado as mercadorias em dinheiro e, logo após, roubado dentro da própria casa, por outro sujeito conhecido como Lindomar, bandido que seria conhecido no sistema carcerário e que já esteve preso no Carandiru.

O júri
Neto, furioso com a situação, teria entrado em contato com os líderes do PCC que estão nos presídio. De posse das informações, os chefes teriam ordenado que homens denominados “disciplina” organizassem um julgamento para ouvir as partes. Eram “disciplinas” da área 19, já que os criminosos emprestam o código do DDD para identificar cada trecho do Estado.

Tal tribunal teria sido organizado no dia 3 de junho, no bairro de São Camilo, em Jundiaí (perto dos locais em que os corpos foram encontrados). Na ocasião, todos os envolvidos –entre eles Neto e Lindomar– foram colocados frente a frente e “sumariados”, termo emprestado do jargão jurídico que significa que foram “notificados” da pendência. Aconteceu então um interrogatório, com acompanhamento da alta cúpula da facção, que acompanhava o debate por meio de conferências telefônicas feita por celulares.

A decisão, segundo o delegado ouviu dos presos, foi pela morte dos envolvidos, inclusive de Lindomar, e pela liberação de quem tinha colaborado com o júri. “Entre os dez presos, temos cinco dos disciplinas, que estão detidos desde a semana passada e contaram toda a história. Eles negam o assassinato, mas confirmam o resto”, conta Pereira de Paula.

Os policiais do Denarc continuam no caso, tentando encontrar a “parte” vitoriosa na tribunal. Entre os procurados está João Carlos Mendes dos Santos, o João do Mangue, irmão de Gegê do Mangue, criminoso do PCC que começou sua carreira vendendo drogas no bairro de Vila Madalena, em zona oeste de São Paulo, e que está preso na penitenciária de Presidente Venceslau.

Luis Nassif

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