O crime mudou de endereço

Enquanto o Rio combate com sucesso o crime organizado, restaurando a tranquilidade nas comunidades que viviam sob a tirania dos bandidos, o Nordeste, salvo em Pernambuco, assiste a uma escalada da violência queas autoridades parecem ser incapazes de conter. É o que mostra o dr. Maierovitch no artigo reproduzido abaixo.

Uma nota: quando os bandidos do Alemão fugiram diante das câmaras da Globo, houve quem quisesse sangue e falasse em incompetência da polícia, houve quem sustentasse que a polícia não perpetrou um enésimo massacre, porque o providencial helicóptero da Globo estava ali. Não entenderam que a filosofia da polícia  fluminense mudou: a polícia deixou os bandidos fugirem de propósito, para desmoralizá-los como fujões, além de mostrar que havia acabado a época da matança como forma de manter a ordem pública. A ocupação de ontem de 9 favelas sem disparar um tiro mostra que a tática funcionou. A polícia avisou que ia ocupar, e a bandidagem, desmoralizada, meteu o rabo entre as pernas e caiu fora, deixando pra trás drogas e munições. Além de ser mais eficaz, a tática da desmoralização apresenta uma vantagem que não tem preço: poupa a vida de inocentes e de policiais.

Parabéns ao Beltrame, secretário de Segurança do Rio.

 

7 de fevereiro de 2011

Epidemia de violência no Nordeste, enquanto Rio avança no contraste à criminalidade organizada.

 

 

 
1. Não existe nada pior para a criminalidade organizada do que perder o controle de território e social e, por consequência,   experimentar desfalque patrimonial.

Ontem, no Rio de Janeiro, sem disparar um único tiro, o Estado retomou o controle de nove favelas anteriormente governadas por facções do Comando Vermelho: Zinco, São Carlos, Mineira, Querosene, Fogueteiro, Prazeres, Escondidinho, Fallet, Coroa. De quebra, apreendeu expressiva quantidade de drogas ilícitas e de munições para armas de grosso calibre.

Nas nove favelas, mais de 26 mil moradores eram obrigados a seguir as ordens impostas por uma criminalidade organizada de matriz mafiosa, que se caracteriza pela conquista do espaço físico e por manter a comunidade subjugada.

Os membros do crime organizado, corretamente pré-avisados da ação integrada das forças de ordem, deixaram as áreas e migraram para outras localidades, sem resistência.

Para uma organização acostumada, há anos, a difundir o medo na população e se mostrar como mais forte que as forças do Estado, a debandada resultou em mais uma humilhação. A primeira foi no Complexo de Alemão, com a fuga em massa mostrada pela televisão.

Perda de prestígio e desmoralização de uma associação delinquêncial, por evidente, gera na comunidade confiança nas forças de ordem.

Além dos mais de 26 mil moradores diretamente beneficiados com o fim da “secessão criminal”, outros 500 mil residentes em bairros do entorno foram beneficiados com a queda do império delinquencial.

Convém lembrar que a retomada de territórios pela forças de ordem abre caminho para a instalação segura de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs), complementada por um pacote de ações sociais necessárias. Na área ocupada pelas nove favelas serão instaladas três UPPs.

Enquanto o Rio de Janeiro implanta, sem sangue derramado, as UPPs, o México continua a perder  para o crime organizado a guerra iniciada pelo presidente Felipe Calderón em dezembro de 2006.

A guerra de Calderón resultou, até agora, em mais de 30 mil mortes, sendo que cerca de 70% dos mortos não tinham ligações com os cartéis ou com ações criminais.

2. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de dez assassinatos num universo de 100 mil habitantes significa ingresso em zona de descontrole estatal, pelas suas forças de ordem. Numa imagem, equivale a uma epidemia criminal.

Com exceção de Pernambuco, os estados do Maranhão, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, apresentam intolerável escalada de violência.

Na Bahia, no arco temporal entre 2006 e 2010, os homicídios passaram de 3.322 para 4.856, o que significa um aumento anual de 50,72%

Nos últimos dez anos, o número de homicídios dolosos cresceu 242% no Maranhão. No Piauí, o aumento foi de 203%, enquanto Rio Grande do Norte e Paraíba  chegaram a 178% e 158%.

As conclusões acima são do professor José Maria Nóbrega, da Universidade Federal de Campina Grande. Ele analisou dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. O trabalho do professor Nóbrega está destacado no jornal O Globo de hoje, com matérias dos jornalistas Marcelo Remígio e Rafaela Anunciação

PANO RÁPIDO. O maior empecilho para contrastar a criminalidade e a violência está na organização em federação. Cada unidade federativa conta com quatro polícias (civil, militar, federal e rodoviária federal. Deixei fora a municipal, pela competência reduzida), dois ministérios públicos (estadual e federal) e duas justiças criminais (estadual e federal). A comunicação entre os órgãos é ineficiente. Idem com relação à troca de informações e às ações coordenadas entre diferentes unidades federativas.

Wálter Fanganiello Maierovitch

http://maierovitch.blog.terra.com.br/2011/02/07/epidemia-de-violencia-no-nordeste-enquanto-rio-avanca-no-contraste-a-criminalidade-organizada/

Redação

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