Os delegados que deixam a polícia de SP

Cuidado com as manchetes. O ano tem 54 semanas. Se é uma demissão a cada duas semanas, significa 27 por ano. Como existem 3.196 delegados, a demissão atinge 0,8% – proporção ridícula.

Por esquiber

Da Folha

A cada duas semanas, um delegado deixa cargo no Estado de SP

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
VENCESLAU BORLINA FILHO
HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO

Marcos Araguari tornou-se delegado de polícia de São Paulo em 2004, após aprovação em um dos mais concorridos concursos do país. Quatro anos depois, mudou-se para o Paraná, onde recomeçou a carreira de delegado.

Ele trocou um salário de R$ 4.000 –à época– por um de R$ 11 mil. “Saí porque não dava mais. Aquele salário [que ganhava em São Paulo] não era condizente.”

Araguari é um exemplo do que vem ocorrendo a cada 14 dias no Estado de São Paulo, em média, nos últimos cinco anos, de acordo com dados da polícia e da associação de delegados. Nos últimos cinco anos, o Estado todo perdeu 126 delegados.

OpriO principal motivo da saída, segundo os representantes de classe, é o baixo salário. O destino são outras carreiras –como promotores e juízes–, ou a mesma, mas em Estados que pagam mais.

O Estado de São Paulo tem 3.196 delegados com salário inicial de R$ 5.495 e teto de R$ 10.148,78.

Dos 180 delegados efetivados no último concurso, em 2009, 34 (19%) já deixaram o cargo, de acordo com dados da associação.

DEBANDADA

Para os policiais, essa debandada nunca foi tão grande. “O governo acha que abrindo um concurso para contratar 140 delegados [a inscrição foi aberta neste mês] resolve a questão. Esses novos contratados vão entrar, ficar por um tempo e depois vão embora”, disse a presidente da associação dos delegados, Marilda Pinheiro.

“Só fica quem não tem mais idade para prestar concurso, já deu seu sangue e não tem alternativa”, completa ela.

A Delegacia Geral afirma que vai tentar evitar esse êxodo tornando a carreira mais atrativa, ao mesmo tempo em que pretende criar mais dificuldade para o ingresso na polícia.

“Para ser policial, vai ter que estar dentro de requisitos. Não apenas arrumar um emprego. Várias pessoas acham que entrar na polícia é arrumar um emprego temporário”, diz o delegado-geral, Marcos Carneiro Lima.

Para o desembargador aposentado Aloísio de Toledo César, 70, a polícia paulista deveria adotar o modelo da Polícia Federal.

“Antes, a PF era uma porcaria. Depois, equipararam os policiais a juízes e hoje a PF tem uma atuação exemplar”, disse.

Para o presidente da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), o paulista Carlos Eduardo Benito Jorge, a situação é séria.

“Essa debandada se agravou nos últimos quatro, cinco anos. É gravíssimo que num ano mais de 30 delegados deixem a profissão”, afirma ele.

A Secretaria da Segurança Pública não comentou o assunto. A pasta disse que seu o orçamento para 2011 é de ‘R$ 11,9 bilhões, sendo, R$ 9,9 bilhões para salários’.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/892710-a-cada-duas-semanas-um-delegado-deixa-cargo-no-estado-de-sp.shtml 

Luis Nassif

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