Polícia sofre

“O policial é a personificação da lei e como tal deve ser respeitado.”  – Frase de um personagem em um filme cujo nome esqueci.

“Os governos passam, as sociedades morrem; só a polícia permanece.” – Honoré de Balzac.

Não há campanha política em que os candidatos não digam que segurança pública é uma de suas prioridades. No entanto, entra ano, sai ano, e os policiais estaduais continuam jogados à própria sorte, recebendo salários de fome e sem dispor dos mais comezinhos meios de trabalho.

Não vou nem começar falando em quanto ganha um policial civil. Vou começar pela coisa mais básica, que é a possibilidade de escolher a arma que mais se adequa ao perfil do profissional de polícia. O Brasil deve ser o único país do mundo em que um policial tem de pedir benção ao exército para adquirir uma arma para uso pessoal, se não estiver satisfeito com aquela que a instituição o dota. Se o calvário se esgotasse aí, até seria aceitável, mas vai muito além.

Conseguida a benção, que demora mais que a reforma agrária, o policial cai numa situação que se compara à anedota que se conta sobre Henry Ford. Aquela na qual Henry Ford dizia que todos poderiam comprar um carro da cor que quisessem, desde que fosse preto. No caso das armas, todos podem comprar a arma que quiserem, desde que seja fabricada por uma das duas indústrias nacionais que monopolizam o mercado. A reserva de mercado foi incluída no decreto que regulamentou a Lei 10.826/2004 e rendeu para o autor da esperteza uma cadeira no Conselho de Administração de uma das monopolistas, como pode ser verificado na reportagem “Fogo Amigo”, da revista IstoÉ, disponível no site da Editora Três.

Como é sabido, havendo monopólio, o detentor deste cobra o que bem quiser por aquilo que produz. Não fosse a liberação da importação de carros no governo Collor, estaríamos hoje comprando fuscas pelo preço de BMWs. O mesmo acontece hoje no mercado de armas para militares e policiais no Brasil. Quem quiser, e se dispor a gastar dinheiro para portar uma arma que acredita mais adequada, tem de escolher entre duas fabricantes. Uma delas é estatal e não tem qualquer interesse em vender no varejo. A outra pouco está se importando com vendas individuais. O infeliz do interessado é tratado a patadas por ambas e, se mesmo assim se dispuser a comprar, vai pagar por um produto meia-boca, com grandes possibilidades de ser uma tremenda furada, o preço que pagaria por DUAS armas consideradas de ponta no mercado internacional.

Há projetos de lei no Congresso Nacional que buscam alterar isso. Talvez sejam aprovados no mesmo dia em que o Sargento Garcia prender o Zorro.

Redação

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