Significados e significantes do Minha Casa Minha Vida, por José Fernando Entratice

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por José Fernando Entratice

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Após trinta anos de gerência em agências da Caixa Econômica Federal, de todos os portes, eu vim a me aposentar como Escriturário na agência de Vargem Grande do Sul, uma cidade muito próxima daqui, e fui trabalhar diretamente com contratações do Programa Minha Casa Minha Vida para baixíssima renda, por dois anos, até o dia da minha aposentadoria.

Nunca encontrei tanto significado no meu trabalho em toda minha vida profissional, nem quando tive e honra de ser chamado a Brasília em uma convenção de fim de ano por minha agência ter sido destaque nacional em uma importante meta da empresa.

Era uma alegria desde a primeira entrevista, quando você mostrava pra pessoa que apesar de sua renda familiar ser de 1.500 reais (muitas vezes menos que isso) dava pra ela financiar, pois ia usar seu FGTS, e ainda ter um desconto de subsidio que lhe possibilitava adquirir sua casa em prestações que iriam representar 20, 25% de sua renda. E em uma média de uns 40 dias estávamos marcando a assinatura de seu contrato. Fazíamos, sem exagero, pelo menos uns 10 por mês.

Teve um caso bem pitoresco do que significava esse dia, o da assinatura, para essas pessoas. Em um contrato marcado de um financiamento em Divinolândia, uma cidade vizinha que era atendida pela Caixa de Vargem, uma senhora que era enfermeira em um Hospital naquela cidade compareceu toda emperiquitada, nos trinques, cabelo, unha, maquiagem, tudo no maior zelo. Após a assinatura, quando ela desceu ao térreo da agência para recolher a taxa de contratação que era cobrada também em função da renda, o vendedor que havia lhe dado uma carona para assinarem o contrato me contou que naquele dia ela levantara às 6 da manhã para ir ao cabeleireiro, fazer as unhas e maquiagem para ir assinar seu contrato. E que a taxa que ela recolhia naquele momento ela tinha juntado o dinheiro trabalhando à noite cuidando de idosos depois de ralar o dia inteiro no Hospital.

E agora corta-se isso pra não melindrar a família da amiga da Marcela e suas casas em Campos do Jordão, seus piers pelas marinas badaladas com seus barcos, seus apartamentos de cobertura nos mais caros metros quadrados do país, suas garagens para 20 veículos top de salão do automóvel, suas posses em Miami ou na Foch em Paris, seus jatos, helicópteros, suas contas em paraísos fiscais, suas offshores, que aposto que pagam muito mais a pilotos, co-pilotos, mecânicos e manutenção de suas aeronaves por ano que de imposto de renda.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Há uma falha gritante no

    Há uma falha gritante no programa: imensos conjuntos de casas NÃO há um centro de serviços, um parquinho para crianças, um salão para festinhas, encontros, reuniões, quanto custo isso diluido em centenas de casas?  Será que ninguem pensou nisso? A coletividade dos moradores precisa ter uma estrutura social, um conselho  de moradores para cuidar dos interesses do conjunto, da manutenção, da segurança, não é só o equipamento fisico, cadê o social?

    1. Pois é André
      Já coloquei isso inúmeras vezes. E olha que você nem citou os quatro pilares: saúde,educacao, segurança e transporte.
      Agora alguém me explique por que foi está a opção.

    2. Falha…

      Andre bom dia;

      Tenho certeza que vc nunca foi a uma comunidade de baixa renda.

      O que esta falando ja está construindo ou tem area disponivel para tal.

      Vc tem que procurar saber mais sobre os projetos, está muito desinformado.

      Procure mais e vá até as construções.

      Abraços

      Antonio Vieira

      Engenheiro

      CREA; 5.888/D

       

      1. Meu caro, comunidade de baixa

        Meu caro, comunidade de baixa renda é um conceito mais amplo que o programa Minha Casa Minha Vida, este ultimo é de conjuntos planejados e financiados com dinheiro publico, portanto o Estado pode induzir a existenci de equipamentos sociais, já as comunidades espontaneas como as favelas não tem poder publico,  são construidas pelos proprios moradores com muito sacrificio e não se pode exigir deles equipamentos sociais mas o Estado quando constroi pode sim instalar esses equipamentos, que nunca vi nos conjuntos que conheço na região metropolitana de Campinas e Jundiai, aliás até as arvores foram cortadas, esses conjuntos não tem verde, o que é um crime.

      1. É o caminho

        Todo programa de grande amplitude, que beneficia milhões de pessoas e é subsidiado, tem falhas. Não só aqui, mas em todo o mundo. Já que a maioria gosta de endeusar o tio Sam, lá também tem fraudes no Food Stamp, por exemplo. O que deve ser feito é exatamente isso, detectar as falhas, sejam imperfeições de projetos ou fraudes, e corrigí-las. Fala-se também em desvios de dinheiro do SUS. Mas ninguém fala quem é o responsável pela sua aplicação, os governos estaduais e municipais. Os mecanismos de controle é que devem ser cada vez mais aperfeiçoados. E isto seguramente não se consegue com a extinção da CGU, por exemplo.

    3. Talvez pela nossa tradição no

      Talvez pela nossa tradição no pouco caso com a ‘ralé’. Quando da instalação das residências em Itaipu, brasileiros arrasavam as áreas que receberiam as construções, nem uma árvore ficava em pé, os telhados praticamente se tocavam e havia distinção entre as graduações/formação/profissão dos moradores. Pelo lado paraguaio, os lotes eram circundados pelas árvores, havia jardim e quintal e todos moravam no mesmo local. Os engenheiros nacionais riam e faziam pouco caso da ‘indiaiada’. Questão de nossa formação (ou deformação)! Se formos conhecer as residências dos proprietários das construtoras que se beneficiam com o programa, veremos o kitsch imperando. Somos cruéis e escravocratas …

  2. Melhor perguntar às

    Melhor perguntar às prefeituras, que são responsáveis pela seleção dos terrenos.  No Rio, tivemos algumas boas locações, como na rua Frei Caneca , em Triagem e Rio Comprido. Mas há as que são distantes de qualquer instalação de saúde, educação e segurança e carentes de transporte de massa barato e confiável.

      A  crítica quanto a ausência de instalações de serviços deve então ser dirigida às prefeituras e até à Caixa Econômica, que , no fim das contas, é quem analisa e aprova o financiamento dos projetos.

  3. Ter casa é bom!

    Eu queria ter uma casa!

    Pode ser pequena, num terreno super apertado comprado caro de um fazendeiro que herdou-a sem o mínimo esforço após algumas cartas D’El Rei Imperador da mátria Brasil.

    Conheço falhas no Minha casa minha vida. Conheço gente que não tem casa, trabalha ganha menos de 1 salário mínimo (sem registro e documetnos nem INSS), não tem documentação nem conta em banco e paga aluguel de 400 reais para morar numa casa do Minha Casa Minha Vida que o prefeito (do PSC) conseguiu dar para pessoas que já tem mais de uma casa. Os prefeitos destes partidos pegam recursos federais e usam como conquistas deles (e trocam por votos e campanhas a deputados que votam pró-golpe). Esses “amigos” dos prefeitos não emitem recibo para os contribuintes, pois isso caracterizaria uma quebra de cláusula e faria perder a casa!

    Pessoas amigas desses prefeitos, alugam as casas para pessoas que não tem casa e sequer conseguem documentos e nem consciência de que têm direitos.

    E isso é feito por partidos como PR, PP, PSDB, PMDB, PSC, PROS que dominam os poderes locais nas cidades pequenas.

    Também conheço fazendeiros grandes, que coseguem vender seus produtos muito mais fácilmente para os programas do governo federal (e até crédito do PRONAF) por que conhecem muito mais o povo do Rotary e da Maçonaria, que controla diretorias de esolas públicas, gerências de bancos da CEF, BB e cartórios para emissão de documentos e títulos. Os pequenos proprietários não conseguem sequer legalizar e documentar suas propriedades (os cartórios dificultam ao máximo, com erros grosseiros introduzidos a cada tentativa).

    Eles facilitam os trâmites de uns e dificultam ao máximo a vida dos mais pobres e simples que têm mais necessidades. As humilhações são grosseiras e ridículas. Riem na cara e desmoralizam os mias pobres o tempo todo (é muito do´pido isso!).

    Tenho minha vida. trabalho muito, mas não tenho minha casa. Descendentes de europeus são privilegiados nessa Res Publique ex-mátria indígena!

    Pagar 14,25% de juros e sustentar que isso é mais importante que as universidades públicas de qualidade, que um SUS de qualidade e Minha casa Minha Vida é uma mentira que custa muito caro pago (com proagandas do BB da CEF e Petrobras) para os BoiChats e Bonis propagar com ar de simpatia e cara (nojenta) de verdade.

    Quem é descendente de índio e negro sofre muito mais que preconceito. Mas isso Vai Mudar! Ah vai! Pode contar aí as décadas e isso vai melhorar! Não tem volta!

    Repúplica Popular do Brasil.

    1. Tem falhas sim, Indio Cayapó,

      Tem falhas sim, Indio Cayapó, como já me referi no meu comentário aí. E como citei em meu comentário em empreendimentos a gestão total é do poder público. A melhor coisa pra vigiar poder público é POVO. Povo que não aceite, por exemplo, que cobre critérios claros na pré-seleção de publico alvo feita pela Preferitura. É ela que vai selecionar e encaminhar para a Caixa fazer a pesquisa cadastral (onde a existência de bens REGISTRADOS em favor daquele CPF e de seu conjuge são verificados, comprovação de renda e enquadramento. A responsabilidade de zelo social, digamos assim, na seleção da prefeitura é da prefeitura e sua qualidade vai depender de quem vigia o vigilante. Sempre.

      E sem tem caso comprovado que a pessoa reside em outro imóvel e ‘aluga’ o imóvel do MCMV cabe medidas civeis e penais que precisam ser levadas a público. Todo abuso tem por trás a conivência de quem vê, se indigna, e se limita a criticar.

      Recentemente teve um ‘sorteio’ de casas populares por aqui. Pelos grupos que existem na cidade ficou bem claro que estava todo mundo muuuuuito de olho em tudo. O que é bom.

       

      Grande abraço e grato pela sua constribuição. 

      1. Própria casa própria!

        A casa onde se passa mais de umterço da vida, deve ser programada com a participação do futuro morador.

        Assim, o modelo da compra de terreno, com a responsabilidade da prefeitura pela desapropriação, rede des esgoto, infra-estrutura deveria ser o modelo para as classes populares também! Para as classes médias e altas são assim!

        Quero construir minha casa e pode pensar na expansão dela, sim!

        Quero que tenha rede de esgoto sim!

        Também quero transparência na compra dos terrenos e custo dos projetos. O governo federal poderia ter projetos prontos, diversos para distribuir gratuitamente para quem quer construir e o futuro vivente da casa opinar em detalhes e até tamanhos.

        Os problemas podem ser corrigidos. A começar pelos partidos que desviam dos objetivos e éticas dos projetos.

        Acabar com um programa que visa possibilitar casa para todos é mais um golpe dentro do golpe!

        Vamos ao contra golpe!

        Os milhares de creches públicas, completas, com briquedotecas, bons psicólogos e pedagogos precisam continuar.

        O que precisa diminuir são os gastos com juros! É difícil admitir esse gasto enorme só com juros enquanto poderíamos gerar conhecimentos, críticas, saberes, casas, escolas, redes de esgoto, saúde e cultura!

        Quando vamos mudar isso?

        Vínhamos mudando e fomos interrompidos, mas é preciso continuar!

  4. MCMV

    Tem sim gente. Os empreendimentos tem grandes problemas no aspecto de equipamento social e engenheiros de Prefeituras que vão fazer um projeto tendem a olhar para uma mata formada e ver um enorme descampado seco onde ele vai ter a incumbência de colocar o maior numero de casas possíveis, criar malha viária urbana, suprimento de água, esgoto, rede elétrica, meio fio e pavimentação.

    O programa que dava certo em Vargem era de unidades isoladas. O cara compra o terreno por 10, 15 mil, e já apresenta um projeto de uma casa, normalmente 30, 40 m2, com um projeto modulável, ou seja, no futuro se quiser ampliar mais um ou dos cômodos basta fechar ângulos de paredes. A única exigência, verificada pelo engenheiro quando da avaliação, é que tenha via pavimentada, fornecimento de esgoto e rede elétrica, suprido por transporte urbano ao menos nas proximidades, e exista num raio pré-determinado estrutura social mínima de escola e Serviços Sociais.

     

    Já os grandes empreendimentos como o da foto que ilustra, envolve totalmente o poder público, e suas áreas já existentes de gestão social. Depende de disponibilização de glebas onde possa ser instalado, envolvem 300, 400, 500 casas ou mais, tudo depende do poder público e de controle social. Via de regra os beneficiários ou publico alvo querem mais é a sonhada casa mesmo, o resto se vira. Porém tem lugares onde a organização civil pode sim se manifestar e reivindicar melhorias, inclusive ambientais. Aqui em São João por exemplo, tivemos um embate entre um grupo formado por pessoas com preocupações ambientais que não se conformaram com o fato de a entrada do empreendimento que era logo no inicio de uma estrada vicinal que liga a cidade à Andradas/MG, em seu projeto derrubaria duas figueiras com mais de 50 anos de idade, que belas e frondosas formavam uma cobertura verde por sobre a estrada.  Se movimentaram, conseguiram o tombamento das figueiras, e o responsável pela engenharia da prefeitura que tinha declarado ao Jornal Regional da globo que nem a pau mudaria o projeto por conta de duas árvores teve que mudar, e as figueiras estão lá na entrada do empreendimento.

     

    Temos realidades sociais distintas por esse Brasilzão de meu Deus. E o Programa tem (ou tinha) adequações para viabilização em todas elas.

    A Caixa tem uma área especializada em análise de empreendimentos para baixa renda. Uma vez trouxeram umas pessoas da Matriz pra falar sobre essa realidade, entre outras coisas, para os gerentes gerais. Naquele dia descobri que existe um desperdício de 30 % de água tratada por conta de obsoletização, deterioração e falta de manutenção em redes. E que tem lugares que o buraco social é tão profundo que cabe a uma assistente social explicar pra que serve um vaso sanitário. Lembro que citaram uma casa visitada após a inauguração em um determinado empreendimento que  tinha uma planta ornamental  plantada no vaso sanitário…esse é o Brasil que o Brasil quer nem saber.

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