Para Waldemar Rossi, o atual Congresso não tem interesse em promover reforma política

 

Para falar sobre o atual sistema político, o Jornal GGN entrevistou uma das principais referências do movimento de oposição sindical durante a ditadura militar brasileira, Waldemar Rossi, membro da Coordenação da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo. Rossi é um árduo crítico ao sistema vigente. Para ele, a minirreforma eleitoral que tramita no Congresso Nacional é “inócua”.

Jornal GNN – Questionado sobre as propostas de aperfeiçoamento do sistema eleitoral, Waldemar Rossi, o ex-integrante da Comissão de Justiça e Paz junto com o Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, engrossou o coro daqueles que olham o Parlamento com preocupação. “Não se pode acreditar que uma reforma política subordinada a um Congresso Nacional marcado pela corrupção e pelo fisiologismo dos seus membros, cujos parlamentares tiveram suas campanhas eleitorais financiadas pelo poder econômico, possa promover mudanças estruturais que venham resolver os graves problemas que afetam a vida nacional”, avalia Rossi.

Para Rossi, a única via possível para aprovação de uma reforma política será a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte Popular, sem a participação de qualquer dos membros do Congresso Nacional, do Executivo ou mesmo das instâncias superiores do Judiciário. “Uma primeira etapa poderia ser a formação de Conselhos Populares Deliberativos para encaminhar à referida Assembleia Constituinte Popular, uma vez que os eleitos no atual modelo político não merecem a menor confiança do povo”, ponderou Rossi.

Para o representante da Pastoral Operária, trata-se de criar um novo modelo político, baseado em parâmetros rigorosamente diferentes dos parâmetros vigentes. “O atual Congresso não tem competência nem interesse em promover porque iria contra seus privilégios e mesquinhez”, advertiu.

Quanto aos inúmeros projetos sobre reforma política que não caminham no Parlamento, Rossi é categórico em dizer que nenhuma delas contempla os interesses fisiológicos dos eleitos, contrariando, inclusive os interesses dos capitais nacional e internacional. “Se qualquer dessas propostas entrar em discussão nas duas casas do Congresso, será profundamente desfigurada, como sói acontecer com tantos outros projetos de interesse popular”, afirma.

Sobre os projetos que estão na ordem do dia no Congresso Nacional, como a minirreforma eleitoral, para ele a proposta não tem efeito prático para aquilo que se espera para uma reforma política. “Não há muito a comentar porque, como todos os demais projetos, mexe apenas nas aparências, podendo favorecer uns ou outros, mas não representa mudanças estruturais. Assim, considero-a inócua”, criticou.

Financiamento de campanha

Waldemar é cético à proposta de financiamento de campanha, porque “o sistema está sempre condicionado aos interesses do capital, porque esta é a lógica do Estado. Sem mudança radical na estrutura do próprio Estado, sempre prevalecerão os interesses dos poderosos, dos proprietários de terras, de bancos, de indústrias, de comércio”, adverte. “Assim, qualquer mudança que eventualmente vier a acontecer, nada mais será que mudança do verniz”, critica o representante da Pastoral Operária.

Rossi é crítico em relação à adoção de listas partidárias preordenadas para as eleições.  “A quem, de fato, interessa a adoção de tais listas? Ao povo? E em que as listas mudariam estrutura do sistema eleitoral e partidário? Em nada, a não ser nas aparências e nos interesses de poder reinantes nos partidos políticos. Pior ainda, perpetuariam os paus mandados dos chefes políticos e tirariam o que resta do verdadeiro direito de escolha popular”, recrimina.

Rossi não acredita que a destinação do tempo de propaganda para ações afirmativas, dentro do sistema atual, irá dar voz de fato aos setores sub-representados. “Alguém ainda acredita no que os partidos e seus políticos dizem ou podem dizer nas propagandas políticas? Todos eles falam de coisas bonitas e de interesse do povo, mas não a praticam. Todos fazem propaganda afirmativa. Como não há punição para a mentira oficial, continuam e continuarão a mentir, qualquer que seja o teor exigido da propaganda e seu tempo de aplicação”, pondera.

Redação

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. PARECE UM TANTO LÓGICO

    Pedro Simon, ilustre senador pelo RS, falou isso há cerca de uma semana no senado. Diz ele que “nós, senadores e deputados não somos adequados para fazer uma reforma, pois muitos de nós não mudará o que é necessário pelo simples fato de não querer legislar contra o próprio interesse”… Basicamente isto dito com outras palavras que não me recordo bem…

    É sempre um bom motivo (dos poucos) ouvi-lo… Uma das únicas vozes que se destacam neste antro de mentes perversas e demagógicas…

     

    Abraço,

     

  2. ….  concordo plenamente com

    ….  concordo plenamente com sua posiçao.  nao ha interesse em alterar o status quo q tantas benesses tras aos POLITIQUEIROS, bem como a seus familiares.

    o povo eh mero detalhe  ….      no fundo eh falta de BRASILIDADE   !!

  3. Isso até o mundo mineral

    Isso até o mundo mineral sabe.

    Alguém acha que Sarney e Renan estão interessadíssimos na reforma política?

    Sarney só não se aposentou pros filhos não serem presos. Renan não tem interesse algum que não seja o seu.

    Por isso Dilma propos que fosse constituinte exclusiva porque se não for assim, não vai sair. Não tem como.

    São duas as opções: 1- Ir pra porrada e tirar o assunto do Congresso. 2- Deixar no Congresso.

    A opção do momento foi pela não reforma. Deixar o assunto morrer ai no Congresso mesmo porque sair na porrada com aliado é complicado.

     

    1. Constituinte exclusiva daria

      Constituinte exclusiva daria na mesma. Os constituintes não poderiam ser escolhidos “ad hoc” pela Presidenta, sendo necessária uma eleição.

      E se houvesse esta tal eleição, quem é que seria eleito? Não tenha dúvida que os mesmos que no Congresso travam as reformas. 

      Ahh, político profissional não pode ser constituinte? Ok, coloca-se amigos e amigos dos amigos que tá tudo certo.

      A ideia do plebiscito já era boa, e apoio popular não faltava. O que faltava era, bem, o que você disse, se indispor com aliados, buscar apoio das ruas, demarcar posição firme.

      No fim, final previsível, pois sabia-se de antemão que a proposta morreria em um Congresso profundamente conservador.

      Financiamento público exclusivo de campanha é uma bandeira histórica do PT, mas se não for aprovado, o pessoal lá não vai ficar muito triste. Ao contrário do tempo que empresários ameaçavam uma debandada em massa sob um governo PT, hoje o partido se tornou um grande arrecadador de doações eleitorais. 

       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador