Araújo mistura Gramsci com “alarmismo climático” e é ridicularizado por colunista do Washington Post

"Não sabemos se ele alguma vez leu sobre teorias críticas neomarxistas além do que está escrito na Wikipedia", disse colunista norte-americano

Foto: AFP

Jornal GGN – O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participou de um dos principais “think tanks” conservadores dos Estados Unidos, a Heritage, nesta quarta-feira (11), carregando no discurso ideológico e criticando a imprensa brasileira por “alarmismo climático” contra o governo de Jair Bolsonaro. Em resposta, o colunista do The Washington Post, Ishaan Tharoor, disse que falas de Araújo era uma “lengalenga sem fim de vitimização de alguém que está no poder”.

Em seu discurso ideológico, Araújo chegou a dizer que o boicote a produtos brasileiros como forma de protesto pelas queimadas na Amazônia do governo Bolsonaro era um tipo de “justiça social” que já foi usada “como pretexto para ditadura” e que estão hoje fazendo o mesmo “com o clima”, ao se referir ao meio ambiente.

“Parece a justiça stalinista para mim: acusar, executar. Aí você diz: onde está a justiça? Onde está o Estado democrático? As pessoas respondem ‘crise climática, cale-se'”, falou o representante do Itamaraty. A fala ocorre, ainda, menos de duas semanas antes da participação do mandatário brasileiro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde deve ser questionado sobre a situação da Amazônia.

Em outros momentos, Araújo usou narrativas de Olavo de Carvalho para criticar a “esquerda”, o “marxismo cultural” e para falar de “globalismo”. Disse que tanto Bolsonaro quanto o polêmico presidente dos EUA, Donald Trump, são a “insurgência universal contra a besteira”, assim como os defensores do Brexit, na Inglaterra, juntos, segundo ele, em uma “revolta contra a ideologia” da esquerda.

Isso ocorre, segundo Ernesto Araújo, diante da “percepção” destes presidentes de “que estávamos sendo desprezados por uma elite que tenta nos governar em nome da justiça social, ou da integração europeia, ou de um mundo sem fronteiras ou do progresso”, afirma, reunindo em uma mesma frase críticas às políticas sociais e imigração.

Ainda misturou em uma mesma fala o que chamou de “alarmismo climático” sobre o que está ocorrendo com o desmatamento da Amazônia com falta de “debate democrático” e que “nem comer carne é permitido mais”. Fez críticas a Antonio Gramsci, Bertolt Brecht e Rosa Luxemburgo. E afirmou que o “clima” e a defesa ambiental “se tornou o silenciador do debate”.

Diante de todas estas falas, o colunista do jornal The Washington Post dirigiu duras críticas ao representante brasileiro e mostrou-se perplexo: “Isso é incrivelmente ideológico para um chanceler no exterior”. Em suas redes sociais, Ishaan Tharoor, afirmou que estava impressionado com a incoerência das falas de Araújo.

“Agora ele está falando algo sobre o socialismo do século 21 ser (Antonio) Gramsci conhecer os cartéis de drogas. E agora está citando (Herbert) Marcuse e todos os membros da Escola de Frankfurt”, disse o jornalista. “Isso é incrível. Não sabemos se ele alguma vez leu sobre teorias críticas neomarxistas além do que está escrito na Wikipedia”, completou.

Para Tharoor, a própria direita norte-americana “jamais se importaria com essas pessoas ou envolveria suas ideias, ainda que absurdamente, em um discurso de política externa” e que ninguém na Heritage, o think tank conservador, se importava com isso.

A íntegra do discurso do ministro de Relações Exteriores de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, pode ser acompanhado aqui:

Leia abaixo as publicações do jornalista:

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Redação

12 Comentários

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  1. Tenho 55 anos de idade e nunca vi o Brasil tão mal representado no exterior. Esse verme está destruindo totalmente a credibilidade do Itamaraty e décadas de política externa conduzida de maneira profissional por diplomatas sérios e extremamente capacitados. Nosso país vai pagar caro e por bastante tempo esse estrago que está sendo feito.

  2. Não sei o que toma o tal do ministro, mas eu também quero……….droga poderosérrima……..o chanceler mais lisérgico do planeta…….deve ser ácido a cada refeição…….manhã, tarde e noite…….única explicação…..

    1. Penso que foi algo mais tecnológico: o uso de cones de papel laminado, combinado com o uso de microondas e flúor na água, deixaram ele assim. Filho legítimo do personagem cowboy que cavalga uma bomba atômica, no filme Dr. Strangelove. Não bastasse isto, o hábito de tomar água do vaso sanitário, combinado com muito hormônio para cavalos e pomadas calminex, podem ter provocado essa fritura do cérebro do coitado. Duvido muito que seja droga, pois as pessoas que conheço não saem por aí falando tanta m…

    2. Ele e’ a soma de analfabetismo cientifico + fundamentalismo ideologico de ultra-direita. Para o Brasil bozonaristra pois eu quero descer desse pais no rumo do caos economico e social

  3. Ernesto Araújo et caterva, são a síntese dos bandeirantes: saqueadores, estupradores, escravagistas. Detestam o “estrangeiro” porque sao chamados às falas por conta dos seus desatinos. Justiça para eles, é a que aplicam aos seus “inimigos”. Se a economia global ruir, melhor para eles pois assim podem mandar nesta Grande senzala, sem regras, sem limites. Aqui, o estrangeiro, o pensador, o trabalhador, são esforços ao brilhante passado que buscam: o de nós devolver ao extrativismo mais rasteiro. A escravidão, às sevícias que tanto acabam suas almas podres e corrompidas.

  4. “Historia para bobos, bocos, burraldos e paspalhães” é um otimo livro de Ricardo Azevedo para as crianças. Sempre bom lermos com elas livros que a ajudarão a entender que não adianta sair por ai “pregando que o palhaço bozo é um homem sério e importante, que ninguém que não tenha os adjetivos acima vai acreditar.

  5. Não se espera outro tipo de discurso de um lesado que tem em suas crenças as baboseiras de Olavo de Carvalho e terraplanismo. Ele deturpa tudo, demonstra claramente que não sabe do que fala, nem de que governo faz parte. Cita Stalin mas passa pano para a ditadura que fazia a mesma coisa ou até pior na América Latina. Parece que cita Gramsci tão-somente por este ser o alvo preferido de seu fascista preferido, Olavo. É difícil saber quem é o mais idiota e canalha: esse Eugênio, o Weintraub, ministro da educação que comete erros toscos de ortografia, gramática e porcentagem, a Damares do Jesus na Goiabeira, Heleno (suspeito de genocídio no Haiti) esmurrador de mesa, aquele idiota ministro do meio ambiente que agora não lembro o nome ou o próprio Bolossauro.

  6. Coitado do Araújo. Qualquer pessoa fica irracional e burra quando faz declarações de amor. Muita gente fica emocionada e abobada quando encontra coisas “americanas”. Só por serem “americanas” já lhe parecem tão… tão lindas, tão superiores, tão tudo, né?

    E se Araújo fala palavras como “Gramsci”, “Marcuse” e “Foucault” é porque ele acha que são palavras importantes e de alto nível, com as quais pretende, antes de parecer arrogante, brindar inteligência que atribui a seus patrões.

    Os EUA deveriam que levar em conta que Ernesto Araújo está apenas tentando agradá-los mesmo que de uma forma desajeitada, submissa. “Ué, se eles querem ser superiores, nós lhes agradaremos sendo inferiores, que é que tem?”

  7. A fluência – ou seguindo a poética de Bozonaro, que troca margens plácidas por ‘margens flácidas’ – quero dizer, a flatulência com que nosso chanceler e representante máximo do Brasil no exterior fala de filósofos malditos da esquerda faz justa homenagem a Pontes de Miranda, o brilhante jurista brasileiro que, em visita de Einstein ao Brasil, “refutou” a Teoria da Relatividade com sua incansável verborragia.

    O grande burro brasileiro é um burro orgulhoso, crente da superioridade de sua burrice ante a mediocridade do conhecimento de especialistas. O grande burro brasileiro é um burro-síntese, filho favorito do nosso subdesenvolvimento cultivado por séculos, como já dizia Nelson Rodrigues.

  8. Ótimo o comentário do Rogério Maestri. É por que uma parte de nossa elite pensa como ele e compartilha dessas ideias. A questão é: como o sistema eleitoral democrático elegeu o chefe dele. Antes era só a mídia e o poder econômico agentes manipuladores. O poder das redes sociais e internet não foi sequer compreendido e precisa de regulação.

  9. A questão do Rogério acima (ou abaixo) é muito interessante. Eles entram por que uma parte da nossa elite pensa assim. Bem como um parte do população. Uma minoria meio ignara. A questão mais importante é: como um presidente que pensa assim ganhou a eleição. Já conhecíamos o poder econômico e mídia como poderes que devem ser regulados e são, por lei, ainda que na prática seja ineficaz. A novidade é o poder da internet e redes sociais, que esses grupos conservadores se adiantaram rapidamente, inclusive por que o Big Data está praticamente na mão de quem?

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