As famílias diplomáticas do Itamaraty

Do blog de André Araújo, do Brasilianas.org

Apesar da profissionalização da carreira dos diplomatas, por meio das escolas de diplomacia e dos concursos públicos, tanto no Brasil como em diversos países, ainda há uma antiga tradição de famílias de diplomatas. No Brasil, essa tradição se mantém desde o Segundo Império até os dias de hoje. Situação que não é diferente à de Estados Unidos (EUA), Panamá, da extinta União Soviética e até da atual China.

No comentário a seguir, André Araújo conta a trajetória de algumas dessas famílias de diplomatas no país, a época em que seguiram as carreiras de diplomata, os países onde atuaram e os vários exemplos parecidos de famílias que seguiram a carreira diplomática em outros países.

Leia o artigo completo:

Com a criação do Instituto Rio Branco em 1946, o Brasil passou a ser o segundo país das Américas que estruturou a diplomacia como carreira com acesso por concurso público para uma escola de formação de diplomatas. Os EUA criaram, em 1916, o Foreing Service Institute dentro do mesmo modelo. Antes do concurso público, o acesso à carreira diplomática era por indicação política no mais alto nível. Nos tempos do Barão do Rio Branco, o indicado por um alto padrinho era avaliado por ele durante um almoço. O barão, com seu profundo conhecimento dos homens, aprovava (ou não) o candidato nesse almoço, fazia uma análise de personalidade e raramente errava.

Mas havia um filtro anterior. A maioria dos candidatos vinha das “famílias diplomáticas” do Segundo Império que, até nos dias de hoje, têm um bom prestígio e presença na “carrière”.

Nomes como Villela Barbosa (Marques de Paranaguá), Carneiro de Campos (Marques de Caravellas), Carvalho e Melo (Visconde da Cachoeira), Araújo Lima (Marquês de Olinda), Du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes), Limpo de Abreu (Visconde do Abaeté), Gê Acaiaba de Montezuma (Visconde do Jequetinhonha) se somaram a famílias mais modernas como Leão Velloso, Melo Franco, Macedo Soares, Sousa Leão Gracie, Silva Paranhos, Paula Sousa.

Dois casos de diplomatas importantes oriundos de famílias tradicionais, embaixador Sebastião do Rego Barros, descendente de um Ministro da Guerra do Império, seu homônimo, foi embaixador na ONU, na Comunidade Europeia, na OEA, na Argentina e o último embaixador brasileiro na extinta URSS, também foi o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo no primeiro mandato do presidente FHC.

Vasco Leitão da Cunha foi embaixador em Cuba antes de Castro e o primeiro chanceler do governo Castelo Branco, de 64, neto do Barão de Mamoré, presidente das Províncias do Pará, Paraíba, Pernambuco e Maranhão.

Família longeva no Itamaraty foram os Melo Franco. Chanceler na República Velha e muito depois, seu descendente repetiu a chancelaria na década de 60 (Governo Jânio).

As famílias diplomáticas existem em todas as grandes chancelarias, mesmo nos EUA. John Foster Dulles, célebre secretário de estado no governo Eisenhower, era neto e sobrinho de secretários de estado. Na Alemanha, o Barão Ernst von Weizsacker, secretário de estado na chancelaria do Reich, de 1938 a 1943, e depois embaixador na Santa Sé, em pleno nazismo, teve seu filho Richard von Weizsacker eleito presidente da República Federal Alemã na década de 80, os laços do pai com o nazismo não impediram seu filho de ser chefe de estado quarenta anos depois.

Mas o recorde de uma família diplomática são os Alwyn no Panamá. O chanceler Samuel Alwyn é a sétima geração da família a ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores da República.

Nem os países comunistas escapam da elitização da chancelaria. Os dois primeiros chanceleres da União Soviética eram da mais alta elite anterior ao regime comunista – Giorgy Chicherin, de família latifundiária no Império, e Maxim Litvinov, de uma família de banqueiros judeus de Kiev. Na China Comunista, o chanceler Chu En Lai era da aristocracia mandarim. Os regimes reconheciam a necessidade de uma representação perante o mundo de personalidades culturalmente sofisticadas.

O máximo histórico porém foi o príncipe Charles Maurice de Talleyrand-Perigord, de nobreza mais antiga e mais alta do que os Reis Bourbon, ministro das Relações Exteriores do governo da Revolução Francesa, uma aberração mesmo naquele tempo de transformações nunca vistas.

Redação

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